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Crise da meia idade

Publicado 10.02.2014, 12:15
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Continuamos debatendo sobre as origens da crise vivida atualmente pelos emergentes. Muitos acham que, basicamente, esta vem sendo provocada por fatores externos, como o menor crescimento da economia chinesa e o desmonte da política de estímulos do Fed norte-americano, reduzindo a liquidez global. Outros contra-argumentam achando que esta crise vem sendo causada mais por fatores internos, como crescimento fraco, inflação pressionada, políticas fiscais frouxas, déficits externos crescentes, falta de governança, dentre outros.

Difícil afirmar quais grupos de fatores vêm tendo maior impacto. Tanto fatores internos como externos vêm dando sua contribuição para o processo de ajuste dos emergentes, com impactos diferenciados dependendo do país.

Sobre os externos, no caso da China, o menor crescimento nos próximos anos impacta nas exportações dos emergentes, pela desaceleração das commodities. Somado a isto, muitos consideram a China uma “caixa preta”, com poucas informações confiáveis, lembrando a situação dos bancos (nos chamados shadows banks), para uma leitura acertada dos mercados.

No caso dos EUA, a política de redução de compra de ativos deve manter o mesmo ritmo nos próximos meses, mas poucos conseguem saber ao certo seu impacto sobre a liquidez global. Como sabemos, o Fed iniciou este desmonte em janeiro, com menos US$ 20 bilhões de recompras até o momento. O banco central americano segue comprando títulos e hipotecas, no total de US$ 65 bilhões, numa injeção de liquidez que já passa de US$ 4 trilhões, mas esta tende a ser cada vez menor nos próximos meses. Como o dólar tem peso nas transações internacionais, financeiras e comerciais, equivalendo a 80% do total, uma retirada de US$ 4 trilhões, mesmo que gradual (ou a “passos medidos”) deve gerar algum estrago nos mercados, por reduzir a liquidez e estimular vários fundos a buscarem ativos mais seguros, caso dos títulos públicos norte-americanos, em processo de ajuste. Expectativas são de que os T Bonds de 10 anos, atualmente rendendo próximos a 3%, cheguem a 4% num futuro próximo.

Na verdade, tudo se acelerou depois que Ben Bernanke sinalizou que começaria o processo de desmonte da política de estímulos em maio passado. Desde então, como numa “maré vazante”, muitos emergentes, antes beneficiados pelo crédito externo abundante e alocação de recursos nos seus mercados, de repente se viram expostos diante do processo de reversão em curso. Diante da redução da liquidez, ajustes cambiais acabaram inevitáveis, embora com impactos diferenciados, dependendo do “estado da economia”.

Importante salientar, neste caso, que alguns emergentes vêm se saindo melhor, fazendo seu “dever de casa” ao contrário de outros, impactados por variados problemas. Isto, inclusive, colocaria o Brasil na mira das agências de rating, que se manifestam extremamente desconfortáveis diante dos descaminhos da política fiscal e da ausência de reformas estruturais do País. Na semana passada, o México foi premiado com a sua nota de crédito elevada pela Moody´s, de Baa1 para A3, devido às reformas estruturais adotadas em 2013. Foram 10 emendas constitucionais aprovadas, como a quebra do monopólio estatal do petróleo, o aumento da competição no setor de comunicações, reformas no campo trabalhista, fiscal, financeiro, político, etc. Ou seja, o México tratou de fazer o que tinha que ser feito, enquanto que o Brasil foi colocado em perspectiva negativa, definido como um dos “cinco frágeis”, incluindo aqui, a Turquia, Índia, África do Sul e Indonésia.

O que nos salva, aliás, é que, embora delicada, a situação das contas externas é um pouco melhor do que destes países. Observando a tabela ao fim, temos reservas cambiais mais confortáveis, em torno de US$ 375 bilhões, equivalendo a 16,8% do PIB, enquanto que a África do Sul possui 11,8%, a Indonésia 11,3% e a Turquia 14,2%. Já o nosso déficit em conta corrente está em 3,66% do PIB, contra 6,1% na África do Sul, 4,4% na Índia, 3,4% na Indonésia e 7,4% na Turquia. Somado a isto, somos credores externos, por termos um nível de reservas superior à dívida externa bruta (16,8%, acima de 13,9% do PIB desta), ao contrário da África do Sul (11,8% contra 35,5%), Índia (16,1% contra 21,7%), Indonésia (11,3% contra 29,6%) e Turquia (14,2% contra 47,2%). Em síntese, a avaliação destes indicadores é essencial para a identificação das chamadas “fragilidades estruturais”, importantes na avaliação das agências de rating.

Muitos consideram que estes emergentes, dentre outros, estariam vivendo uma “crise da meia idade”, tendo aproveitado muito a farra de crédito recente, mas agora expostos a um novo realinhamento de liquidez global, tendo errado por não terem avançado, a maioria deles, na chamada “segunda onda de reformas”. No nosso caso, os problemas são os outros desajustes internos, que nos colocam sob suspeita dos investidores externos, como inflação no intervalo superior da meta, taxa de juros a 10,5%, câmbio pressionado, desencontros na gestão fiscal, etc. Além disto, lembremos que todos os chamados “cinco frágeis” terão eleições neste ano. Novas emoções nos esperam.
SITUAÇÃO DAS CONTAS EXTERNAS DOS “CINCO FRÁGEIS”

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