A moeda norte-americana saiu de aproximadamente R$ 2,30 em 2014 para mais de R$ 4 em 2015. Uma alta de aproximadamente de 70%.
Quais as consequências na economia e na sua vida com o aumento do dólar?
Para entender a movimentação do dólar é preciso ter ciência das decisões econômicas tomadas nos últimos 20 anos no Brasil.
Um dos pilares na constituição do Plano Real foi a adoção do regime de câmbio flutuante.
A moeda norte-americana flutua de acordo com a oferta e demanda no mercado, não existe um controle sistemático do governo.
Nos últimos 12 meses, nós presenciamos uma forte valorização do dólar em relação ao real. Essa valorização tem impacto direto sobre a nossa economia e sobre nós.
Grande parte dessa valorização pode ser creditada ao contexto político atual. A instabilidade que se instalou em Brasília é refletida na paridade real dólar.
A consequência direta e mais visível por você da alta do dólar é um aumento de preços. Essa consequência é imediata e vai lhe retirar poder de compra.
O real mais fraco e o dólar mais caro, ao contrário do que você possa imaginar, não afetam exclusivamente o preço dos produtos importados e das viagens para a Disney. Afeta também os preços internos. Grande parte da indústria nacional utiliza insumos importados com cotação em dólar.
Veja o caso da Positivo, por exemplo, uma empresa que monta computadores, além de outros eletrônicos. Ela compra grande parte dos seus insumos no mercado externo, pois não são produzidos aqui dentro. Com dólar mais caro esses insumos ficarão mais caros. Em consequência, o computador e o Smartfone que ela produz serão reajustados.
Mas a coisa piora um pouco mais...
Os preços dos alimentos também são afetados diretamente pela desvalorização do real. Ficou mais barato para os estrangeiros comprar aqui no Brasil milho, soja, carne. Consequentemente, quem produz esses alimentos aqui dentro vai preferir vende-los no mercado externo, no qual receberão mais por isso.
Esse direcionamento para exportação reduzirá a oferta interna e fatalmente os preços irão aumentar nas gôndolas.
Com certeza você já sentiu isso na pele ao ir ao supermercado!
Percebam que a valorização do dólar produz dois efeitos: de um lado, aumenta as exportações de determinados produtos, e, do outro, que seria mais perverso para nós, reduz a oferta interna.
Mas os efeitos da valorização do dólar não param por aí. Veja o caso da carne bovina, por exemplo.
Com a desvalorização do real o preço da soja sobe no mercado interno. Essa commodity precificada em dólar é a principal fonte de alimento do gado, através do farelo de soja.
Percebam que a carne terá pressão de preços tanto pela diminuição da oferta interna e direcionamento para exportação quanto pelo encarecimento da produção.
A solução seria então substituir pelo frango, correto?
Mas o frango come milho, que também tem seu preço em dólar. Bingo! O custo para alimentar as aves também vai subir. Boa parte da produção será então redirecionada para exportação, pois será mais lucrativo.
Pressão no preço da carne de frango também.
A desvalorização cambial afeta também outros setores, tais como o de remédios, pois mais de 80% da química é importada.
Encarece o pão, pois o trigo é precificado em dólar também.
O diesel terá seu preço reajustado refletindo no transporte, tanto o urbano quanto o frete em geral.
Até mesmo o aluguel e energia elétrica são influenciados pela alta do dólar. O índice que reajusta esses serviços é o IGP-M e no seu cálculo leva-se em consideração matérias primas e produtos que são sensíveis ao dólar.
Com isso, o custo de todo o varejo é afetado. O cabelereiro terá uma despesa maior para manter o salão aberto, a padaria além do aumento do trigo para fazer o pão, pagará mais pela energia e aluguel.
Percebam que o efeito é em cadeia.
Mas temos outras consequências ruins para o mercado interno que você deve saber.
A maioria dos economistas diz que uma alta no cambio é bom para a indústria, que passaria a exportar mais, pois seus produtos ficariam mais baratos para os estrangeiros.
O problema nessa equação é que o Brasil é um grande importador de bens essenciais à produção industrial desde matérias primas a maquinas e equipamentos.
Com o dólar mais caro a indústria não se moderniza, não ganha produtividade, não consegue reduzir custos e se tornar competitiva.
Em economias com moeda estável e apreciada, a indústria em geral tem acesso a equipamentos de modernização o que resulta em qualidade superior, custos menores de produção e produtos de ponta.
Esse desajuste entre política e economia está levando ao cambio uma volatilidade maior, para a indústria essa volatilidade significa incerteza.
A incerteza e a pressão nos custos retira totalmente a vantagem competitiva da indústria nacional no mercado externo, além de dificultar o planejamento e investimentos.
Sem investimentos, não há crescimento produtivo, geração de emprego e aumento de renda.
Nesse cenário de desemprego, confiança em baixa, o consumo diminui, reduzindo ainda mais a demanda de uma indústria que passa por dificuldades.
Veja que decisões políticas influenciam diretamente a economia e o mercado financeiro, precificando toda a cadeia de ativos.
Decisões equivocadas tomadas lá atrás pela equipe econômica demoraram algum tempo para refletir no mercado.
Mas o investidor não pode esperar os acontecimentos e a reação do mercado financeiro para tomar decisões assertivas de investimento.
É preciso saber identificar as oportunidades nesse cenário de alta do dólar para apropriar nos seus investimentos o mais rápido possível.
Na sua mente talvez tenha vindo a figura do Fundo Cambial como forma de alocação para investimento atrelado ao dólar.
Porém essa classe de fundo não é um instrumento indicado para pessoa física, pois carrega um nível de risco muito grande.
A constituição de um fundo cambial envolve o uso de derivativos e operações estruturadas de risco maior, o que de cara afeta a compreensão da maioria dos investidores.
Os fundos cambiais também são produtos de menor liquidez e exigem valores maiores para investimento, tornando-os não muito triviais para o investidor pessoa física.
Mas no mercado de renda fixa existem ativos que possibilitam a você uma proteção indireta à desvalorização do real. Produtos atrelados aos índices inflacionários, como o IPCA por exemplo.
Ao adquirir ativos que remunerem a variação do IPCA você se protege da inflação. Como a alta do dólar vai bater justamente nesses indicadores inflacionários, ter em seu patrimônio ativos corrigidos por esses índices é importante.
A associação entre inflação alta e taxa de juros elevada para conter a alta generalizada dos preços forma uma excelente oportunidade para o investidor de longo prazo alocar seus recursos.
Inclusive se você ainda está perdido, sem saber aonde investir e como investir, nós já disponibilizamos um Curso Grátis sobre Renda Fixa, para os leitores do Investing.com Brasil, no qual você conhecerá os principais produtos financeiros disponíveis no mercado para aplicação. Clique Aqui para receber a primeira aula hoje mesmo!
Conhecer as formas de aplicação em renda fixa é uma das maneiras de aplicar melhor seus recursos e se proteger da perda de valor do real, mantendo uma boa rentabilidade do seu patrimônio.
Grande abraço,
Gustavo Lobo
Equipe Escola de Finanças