Dados de emprego confirmam desaceleração econômica nos EUA

Publicado 09.05.2025, 13:20

Embora o último dado de emprego tenha surpreendido positivamente, ele confirmou uma tendência já esperada: a economia dos Estados Unidos está desacelerando. O motivo pelo qual esse indicador é tão relevante é simples, sem geração contínua de empregos, a atividade econômica tende a estagnar.

A economia norte-americana precisa criar, em média, cerca de 200 mil empregos por mês apenas para acompanhar o crescimento populacional. Essa dinâmica é essencial para manter o ritmo de expansão do PIB, especialmente considerando que o consumo das famílias representa aproximadamente 70% da atividade econômica, como já discutido na edição anterior do Bull/Bear Report.

“Embora não haja, por ora, sinais concretos de recessão, a variável-chave para monitorar uma possível deterioração é o consumo. Como o consumo corresponde a quase 70% do cálculo do PIB, todos os demais componentes, de investimentos empresariais a fluxos comerciais, são condicionados à demanda gerada pelo consumidor.”

Quer 1 ano GRÁTIS de InvestingPro? É só abrir uma Conta Internacional Nomad. Clique aqui!

Empresas operam contra demanda real
Em outras palavras, quando o consumidor modera ou reduz seus gastos, as empresas deixam de investir em expansão, contratação ou aquisição de estoques. Esse relacionamento pode ser observado nos gráficos que comparam o consumo pessoal (PCE) com emprego e investimento privado.

O ponto central, no entanto, é que o consumo só pode ser sustentado pela produção, e a geração de renda vem, necessariamente, antes do consumo. Esse ciclo produtivo é fundamental.

Ciclo econômico

Além disso, é preciso reconhecer que nem todos os empregos têm o mesmo impacto econômico.

“Para que uma família consiga manter um padrão de consumo economicamente sustentável, é necessário que ao menos um dos membros esteja empregado em tempo integral. Esse tipo de vaga oferece salários mais altos, benefícios e seguro de saúde, algo que os empregos de meio período não garantem.”

Apesar de a imprensa destacar os “fortes números de emprego”, o avanço recente se refere, em grande parte, à recomposição de vagas perdidas durante a paralisação econômica causada pela pandemia. A realidade é que a taxa de emprego em tempo integral tem mostrado retração expressiva. Historicamente, quedas nessa taxa, especialmente quando sua variação se torna negativa, precedem recessões.Emprego em tempo integral - variação ano a ano

Outro fator relevante é a queda acentuada da proporção de trabalhadores em tempo integral em relação à população, em um contexto de aumento da imigração nos últimos anos. Dado que são esses empregos que sustentam o consumo além do básico, seria necessário um aumento dessa proporção para sustentar um crescimento econômico mais vigoroso.

Desde o início do século, essa taxa tem diminuído, influenciada por fatores como automação, avanços tecnológicos e a realocação da produção para outros países. Embora o presidente Biden tenha citado o crescimento do emprego em seu último discurso sobre o Estado da União, a participação dos empregos em tempo integral na população em idade ativa ainda não retornou ao nível pré-pandemia.Empregados em tempo integral contra população em idade ativa

Vale destacar que quedas abruptas no emprego em tempo integral têm coincidido com o início de ciclos recessivos.

Com a desaceleração econômica, observa-se não apenas a queda nos empregos em tempo integral, mas também a redução nas contratações temporárias, movimento que, historicamente, antecede ciclos de crescimento mais fraco. Cortar vagas temporárias costuma ser o primeiro passo das empresas para reduzir custos com pessoal, preservando, quando possível, os funcionários permanentes e mais estratégicos. No entanto, como já destacado, uma vez esgotadas essas alternativas, a tendência é que os cortes se estendam aos empregos em tempo integral.

Os dados mais recentes de emprego não corroboram os cenários recessivos projetados por parte do mercado para 2025. Por isso, analistas em Wall Street começam a revisar suas projeções, migrando o foco para um ambiente de crescimento econômico mais lento. Ainda assim, esse diagnóstico pode se alterar rapidamente caso o consumo das famílias apresente deterioração acentuada.Emprego anual vs PIB real

Como mencionado, quase 70% da atividade econômica dos EUA depende do consumo. Assim, qualquer retração nesse componente impacta o nível de emprego, reduzindo a renda e, por consequência, reforçando a desaceleração do consumo. Esse ciclo de retroalimentação constitui a base de uma recessão, quando ganha intensidade.

Indicadores em monitoramento

Apesar da fragilidade nos dados de emprego, alguns indicadores ainda são observados de perto para verificar se a destruição de vagas está se intensificando. Um deles é o índice de confiança dos CEOs, medido pela Conference Board. Desde as mínimas registradas em outubro de 2022, a confiança dos executivos tem mostrado recuperação, atingindo 60 pontos no primeiro trimestre de 2025, ante 51 pontos no último trimestre de 2024. Essa melhora contribuiu para o aumento nas contratações, à medida que a perspectiva de crescimento econômico parecia mais favorável.

Vale (BVMF:VALE3), porém, destacar que esse é um indicador defasado. A coleta de dados ocorreu em fevereiro, antes da correção nos mercados e do anúncio das novas tarifas. Uma atualização, prevista para este mês, pode sinalizar mudanças de percepção, antecipando eventuais impactos sobre os relatórios futuros de emprego.Confiança de CEOs vs Emprego em tempo integral

Outro dado monitorado é o índice de confiança das pequenas empresas, divulgado pela NFIB. O foco está nas intenções de contratação versus a execução efetiva dessas promessas. Responsáveis por cerca de metade dos empregos no país, os pequenos empresários mantiveram o quadro de funcionários praticamente inalterado desde a pandemia. Após o pico de otimismo com a retomada, as expectativas de forte expansão nas vendas não se concretizaram, levando a uma rápida reversão do entusiasmo inicial.Pesquisa NFIB

Como destacado no início desta análise, o emprego é função direta da demanda por bens e serviços. Embora as expectativas de vendas tenham disparado após a eleição do presidente Trump, os resultados reais frustraram as projeções. Assim, sem aumento de receita, falta incentivo para ampliar contratações, razão pela qual o emprego em tempo integral segue travado desde 2020.Expectativas de vendas vs Vendas efetivas

Considerações finais

Dada a relevância do consumo para a atividade econômica e a necessidade de produção (emprego) como etapa inicial do ciclo, o acompanhamento dos dados de mercado de trabalho, em especial das vagas em tempo integral, é essencial para avaliar o risco macroeconômico. O risco de recessão permanece baixo neste momento, mas pode se elevar caso o consumo sofra uma retração abrupta.

Na ausência de choques exógenos, o mais provável é que a economia americana continue a desacelerar gradualmente rumo a uma taxa de crescimento próxima de 2% ao ano, ritmo que, embora não recessivo, deve dificultar a manutenção dos atuais níveis de lucratividade das empresas.

Em algum momento, os mercados deverão ajustar suas avaliações para refletir essa nova realidade de baixo crescimento. Esse momento ainda não chegou, mas o risco de retornos moderados na próxima década está aumentando de forma constante.

Algo que os investidores devem levar em consideração.

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.