Numa semana curta, pelo feriado do Dia do Trabalho, mas repleta de eventos, chamaram atenção duas reuniões de bancos centrais que vivem realidades bem distintas.
De um lado, o Fed tentando balancear o crescimento diante de um mercado de trabalho fraco e inflação abaixo da meta (2%); do outro, o banco central brasileiro tentando “ancorar as expectativas” dos agentes e trazer a inflação para o centro da meta em 2016, a 4,5%. De um lado, um banco central norte-americano fazendo “sintonia fina”, diante de fundamentos mais equilibrados, do outro, o brasileiro, tentando mostrar estar em coordenação com a Fazenda e buscando reconquistar a confiança dos agentes. Não é o caso de comparar, mas sim de tentar analisar os efeitos que a decisão do Fed tende a gerar sobre a economia brasileira. Falemos um pouco sobre a decisão de ambos e os possíveis passos futuros.
Na decisão do Copom, sem surpresas, inclusive com o comunicado neutro repetindo o da reunião anterior, sinalizando que deve manter a política de elevação da taxa básica de juros (pelo menos está é a hipótese mais forte, embora não possamos destacar uma redução na virada deste ano). Desde meados de 2013, quando a taxa recuou a 7,25%, meio que de forma forçada, mesmo com a gestão fiscal piorando de qualidade no período, até abril deste ano, quando chegou a 13,25%, foram seis pontos de elevação.
A justificar esta decisão, no front inflacionário, o IPCA-15 acumulando em 12 meses 8,22% até abril, decorrente principalmente do realinhamento tarifário em curso, concentrado na energia elétrica (mais de 40% em quatro meses), devendo manter este processo, mas em ritmo mais moderado nos próximos meses e em 2016. Neste contexto, por ser preço monitorado, tendo chegado a 13,4% em março nos 12 meses, pouca eficácia teve a política de juros, mais eficiente no controle da demanda, derrubando um pouco, então, os preços livres, como os não duráveis, a 6,6% (ver gráfico a seguir). No entanto, por inibir a demanda, e a economia já estar em recessão, há de se prever as empresas reduzindo margens, cortando custo e demitindo.
Neste contexto, estimativas de mercado sobre o PIB indicam recuo de 2,5% a 3,5% neste primeiro trimestre, projeção próxima desta Consultoria, o que pode se aprofundar ainda mais no ano, causando recuo de 1%, impactando na arrecadação federal. Sobre os dados fiscais, inclusive, os sinais são pouco promissores, dado o desempenho mais fraco no primeiro trimestre deste ano. Neste, o saldo primário fechou positivo em R$ 19,0 bilhões, abaixo do registrado no mesmo período do ano passado (R$ 25,6 bilhões), em 12 meses, no entanto, piorando, com saldo negativo, de R$ 35,8 bilhões em fevereiro para R$ 39,2 bilhões em março, de 0,64% para 0,7% do PIB.
Sendo assim, com uma série de medidas fiscais em debate no Congresso, parece pouco provável a obtenção da meta fiscal deste ano, prevista em torno de 1,2% do PIB, R$ 66 bilhões, sendo mais provável algo em torno de 0,7%. Devemos salientar, também, a dificuldade de passar as medidas de readequação dos benefícios trabalhistas, como o seguro desemprego, em sua maioria devendo ser retalhadas, dada a pressão de alguns partidos de esquerda e das centrais sindicais, ainda mais inconformadas pela possibilidade de perda de direitos trabalhistas (ou “precarização” deles), em função da MP da terceirização. Isto só reforça o papel do BACEN neste momento como balizador de expectativas segurando a demanda agregada da economia neste ano, mais focada no consumo das famílias e nos investimentos e menos no consumo do governo, atribuição esta do Ministro Levy.
Voltando a falar sobre inflação, nossas projeções indicam o IPCA de abril recuando a 0,7/0,8%, devendo manter esta média mensal nos próximos meses, dada a menor pressão dos reajustes de tarifa e certa trégua nas pressões dos preços agrícolas, até pelo recuo das commodities no mercado internacional. Assim sendo, esperamos o índice do IBGE, em 12 meses, superando 8,5% até agosto, para depois desacelerar a algo em torno de 8,0% a 8,2% até o final do ano.
Em 2016, pela menor pressão das tarifas, mas pensando em possíveis pressões cambiais, é possível prever algo em torno de 5,5% a 6,0%, sendo, portando, provável, a convergência ao centro da meta como pretende o BACEN. A taxa Selic, neste contexto, seria elevada a 13,5% ao final deste ano, podendo até começar um ciclo de desacelerações ao longo de 2016, dada a hipotética melhoria da economia e do alcance do ajuste fiscal, perseguido a 2,0% do PIB pela equipe econômica. A recuperação então se daria pela recuperação da confiança dos agentes, com os empresários voltando a produzir mais e a investir e a os consumidores a gastar. Para isto, inclusive, será importante que o especulado racionamento de energia seja um problema resolvido.
Comecemos agora a falar sobre a decisão do Fomc. Na reunião da semana manteve o juro entre zero e 0,25%, dado o mercado de trabalho fraco e a inflação (CPI) abaixo da meta do Fed (2%). Considerou o ritmo da economia neste primeiro trimestre fraco, com o PIB, em primeira prévia, crescendo 0,2%, quando as estimativas indicavam 1%. Contribuíram para isto o rigoroso inverno neste ano e o dólar valorizado, o que derrubou as exportações norte-americanas. Diante disto, e considerando estes fatores transitórios, o mercado começou a especular sobre a possibilidade de elevação de juro no último trimestre do ano, talvez em outubro. Pode, no entanto, ocorrer no primeiro trimestre de 2016.
A partir daí então achamos que o dólar se valorize a R$ 3,20, ou no máximo R$ 3,30 até o final deste ano, pelo receio com a inflação, embora seja importante no estímulo às exportações, revertendo o saldo negativo da balança comercial, neste ano, até meados de abril, em torno de US$ 5 bilhões, mas também o saldo em conta corrente, também negativo em torno de US$ 89 bilhões.
Neste contexto, para tornar possível a recuperação efetiva das contas externas, estimulada pela desvalorização do câmbio, necessário será que este se estabilize num certo patamar, em prazo mais longo, não oscilando tanto como nas semanas recentes. Sobre isto, a contribuir, além da decisão do Fed lá fora, também o desanuviamento do ambiente político doméstico e possíveis avanços no ajuste fiscal.