A cafeicultura enfrenta todos os anos diversos desafios: incertezas climáticas, oscilações no câmbio, aumento dos custos de produção, escassez de mão de obra para a colheita, tentativas de sanções econômicas, entre outros. No entanto, uma das maiores vilãs na vida do produtor tem sido a especulação quanto ao volume de safra. Ano após ano, empresas privadas, consultores e até entidades públicas internacionais divulgam dados sobre a quantidade de sacas de café a serem colhidas na safra brasileira.
O Conselho Nacional do Café (CNC) tem lutado contra as notícias inverídicas e as previsões fora da realidade apresentadas por muitos. Podemos usar como exemplo a safra 2022/2023. Em setembro do ano passado, algumas previsões chegaram a apontar absurdos 76 milhões de sacas de café de 60 kg produzidos no país.
Além do fato de estarmos num ano de bienalidade negativa, pesa sobre uma previsão como essa fatores como clima e temperatura. Imediatamente, o mercado reagiu à notícia de uma super safra e recuou importantes pontos nas bolsas de valores de Nova York e Londres. Quem foi prejudicado? O cafeicultor.
Em ato contínuo, o CNC emitiu um artigo dizendo ser uma temeridade apresentar uma previsão como aquela. Mas no decorrer do segundo semestre do ano passado e nos primeiros oito meses de 2023, as especulações não pararam. Quase que diariamente uma nova previsão assolava o mercado cafeeiro. Sempre com levantamentos “otimistas”.
Assim, o Conselho Nacional do Café continuou se posicionando acreditando que os números apresentados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) eram os mais confiáveis. A entidade apontava em seu tradicional levantamento um volume entre 54 e 55 milhões de sacas. Paralelamente, o CNC consultava suas bases e sempre a resposta era de que a safra não teria muito mais do que o previsto pela Conab.
No entanto, em meados de maio, o mercado começou a se apegar na velocidade da colheita. As especulações apontavam para uma grande safra, além do fato de que muito café estaria disponível para os compradores. Novamente, atuamos em defesa do produtor. Mostramos que a celeridade da colheita nada tinha a ver com o volume a ser colhido. Reiteramos, inclusive, que o estoque de passagem de 2023 – que já deveria ter sido publicado – apontaria para o menor índice da história. O que se confirma com a safra devendo fechar no patamar dos 54,3 milhões. É importante ressaltar que acreditamos que em 2024 o estoque de passagem será ainda menor. Entretanto, não faltará café no mercado.
Agora, as especulações começam a mudar o radar e apresentar novos fundamentos. Os especialistas apontam uma “florada precoce” (setembro) como um dos possíveis fatores de baixa no preço do café. Cabe ressaltar que não se trata de uma florada precoce, já que as chuvas de agosto contribuíram para isso. Ela veio no momento certo. Porém, as plantas não tiveram força o suficiente para “segurar” a floração. Isso mostra que o comportamento climático continuará sendo o principal fator de impacto no volume a ser colhido na safra 2023/2024.
A falta de umidade no solo, a ausência de chuvas e o calor intenso presente podem contribuir fortemente para a queda de um volume na próxima colheita. Ainda é cedo para uma conclusão, pois as condições climáticas têm sido totalmente imprevisíveis.
O CNC, historicamente, não orienta produtores acerca de suas decisões comerciais ou de como devem agir no mercado. Como braço operacional do sistema OCB para o café, nossa função é estudar os dados de estoque, promover ações de conscientização para uma produção de qualidade e sustentável, em todos os seus aspectos, organizar as demandas do segmento cooperativo para a construção de políticas, ações e projetos, com abrangência nacional e internacional, beneficiando os mais de 330 mil produtores brasileiros. As conclusões sobre o nosso artigo competem às nossas cooperativas, associações e produtores, sendo que o único objetivo do mesmo é prestar informações que poderão ser úteis num processo de decisão.