Desdolarização: Tendência estrutural ou risco exagerado?

Publicado 01.08.2025, 10:00

A hegemonia do dólar americano no sistema financeiro global ainda é incontestável — mas pela primeira vez em décadas, começa a ser abertamente desafiada. A desdolarização, antes tema restrito a fóruns acadêmicos e políticos, hoje ocupa espaço no planejamento de empresas e governos em um mundo cada vez mais multipolar.

A mudança é menos sobre uma queda abrupta do dólar e mais sobre uma transição estratégica. O dólar ainda responde por cerca de 60% das reservas cambiais globais e por 80% das transações comerciais internacionais, segundo o FMI. No entanto, o movimento de diversificação monetária ganha fôlego diante de tensões geopolíticas, do uso de sanções como ferramenta diplomática e da digitalização das finanças internacionais.

O avanço de moedas como o yuan, o euro e, em menor escala, divisas regionais, reflete um desejo crescente por autonomia. Plataformas como o BRICS Pay, acordos bilaterais de liquidação em moeda local e o fortalecimento de sistemas de pagamento independentes do SWIFT apontam para uma desconcentração gradual da dependência do dólar. Esse cenário tem implicações diretas para investidores e empresas: operar com múltiplas moedas já não é apenas uma questão de eficiência — é uma resposta necessária ao novo equilíbrio global.

A tecnologia também acelera essa transição. Pagamentos instantâneos, moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs) e soluções descentralizadas vêm permitindo transações internacionais mais rápidas, com menor custo e menos exposição a riscos cambiais vinculados ao dólar. Para empresas que operam no comércio exterior, especialmente as de médio porte, os efeitos já são visíveis: aumento na complexidade cambial, custos de conversão e necessidade de proteção mais sofisticada contra flutuações.

Ainda assim, a desdolarização é um processo de longo prazo. O dólar mantém vantagens estruturais — como a profundidade do mercado financeiro americano, a confiança institucional e a liquidez inigualável de seus ativos. Para que outras moedas ganhem relevância, é preciso que os países emissores sustentem políticas macroeconômicas estáveis, reforcem a convertibilidade de suas moedas e consolidem marcos regulatórios confiáveis.

O que parece certo, no entanto, é que o mundo caminha para uma redistribuição do poder monetário. Empresas que anteciparem essa transição e ajustarem suas estratégias — diversificando reservas, firmando parcerias cambiais e adotando modelos de gestão multimoeda — estarão mais preparadas para mitigar riscos e capturar oportunidades.

A desdolarização não é um colapso do dólar, mas um alerta. E, para o investidor atento, todo alerta carrega também um potencial de reposicionamento estratégico.

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