Logo após a divulgação do Comunicado do BC sobre a intervenção programada para o período entre 21 a 29 deste mês, com uma explicação deixando na margem o entendimento que haverá troca compensatória entre o montante de US$ 3,8 Bi em swaps cambiais vincendos em outubro com oferta de swaps cambiais reversos no mercado futuro de dólar e concomitante venda de dólares à vista no mercado, salientamos que embora não seja a mesma coisa a despeito dos impactos técnicos no mercado de câmbio, a medida é correta.
Swaps são derivativos “não dólares”, mas que se presta ao “hedge”(proteção de preço) estabelecendo relação variação cambial versus juros e liquidáveis em reais, sem envolver moeda física, que será reduzido por operação reversa, enquanto a operação de venda de dólares à vista envolve totalmente moeda efetiva que reduzirá as reservas cambiais. Isto só para deixar claro que são parecidos, mas não a mesma coisa.
Enfim, tendo em vista a forte tendência de ocorrência de disfuncionalidade no mercado de câmbio no momento atual, a partir da pressão sobre a taxa “spot”, consequente de fluxo cambial negativo com perspectiva de maior elevação e estreitamento do juro interno com o externo que afeta o custo do cupom cambial, a ação do BC é correta, e tivemos a oportunidade de apontá-la como factível e necessária já a algum tempo, absolutamente correta e complementada pela intervenção no mercado futuro de dólar, procurando ancorar a taxa futura em níveis mais altos do que a taxa “spot” sobre a qual se espera o ímpeto de alta com a oferta de moeda efetiva.
Se reparo existe é para o fato, como já mencionamos anteriormente até relembrando Delfim Neto, que no câmbio primeiro se faz e depois se explica. O detalhamento dos dias, hora, montante e forma deveriam ser preservados de pré-anúncio, se tanto no final do dia da véspera e nada mais.
Com o saber bem especificado do que será feito o fator impactante da intervenção perde força e o mercado se prepara para amortecê-lo, pois sabe até o dia que começa e o dia que termina.
Poderia ser posto que o BC ofertaria dólares à vista ao mercado e atuaria reduzindo o montante de swaps cambiais no mercado futuro, com swaps cambiais reversos, sem mencionar dias. Ponto, e bastaria isto! A expectativa já teria impactado reduzindo a taxa cambial presente naquilo que está sendo pressionada pela queda de liquidez no mercado à vista face o fluxo cambial negativo.
A conjuntura de fatores internos e globais pressiona a alta do preço do dólar nos emergentes seja por aversão ao risco que provoca saídas de recursos ou que inibe os ingressos, já que tendem a ser segregados por ativos considerados mais seguros, com destaque para o dólar e ouro, prevalecendo então a segurança e não a rentabilidade. Este é um fator de difícil reação a intervenção do BC, por isso a taxa está sustentável próxima a R$ 4,00, e não se pode vislumbrar, no momento, a possibilidade de que retorne aos projetados R$ 3,75/3,80.
Estados Unidos, China, Alemanha e outras economias desenvolvidas não tão expressivas emitem sinais tendentes à recessão, e os emergentes sofrem a carência de fluxos cambiais positivos, muito pelo contrário, registram saídas dos recursos dos investidores externos.
Não há como cometer-se a “ousadia do otimismo” esperando que o fluxo cambial melhore para o Brasil, e se o BC não der continuidade será oportuno observar até quando terá repercussão a intervenção até o dia 29 com a venda de dólares à vista, pois se não houver continuidade na ação a pressão sobre o custo do cupom cambial poderá voltar e repercutir no preço da moeda americana no mercado à vista. Afinal não se sabe se a “duração do tratamento” de uma semana será suficiente.
No momento, globalmente, tudo é incerteza e isto determina postura defensiva generalizada, e, neste caso todo o contexto fica adverso para os emergentes, mas mesmo os desenvolvidos estão em momento muito conturbado, cada dia mais chegando a conclusão de que todos os conflitos presentes globalmente tendem a levar suas economias a perda de atividade com crescente risco de recessão, por isso é muito difícil prognosticar a possível reversão deste “status quo”.
E, da mesma forma, a Bovespa também deverá amargar frustração das expectativas posta anteriormente, pois sem investidores estrangeiros e com a economia inerte determinando perda de atratividade não se pode ilusoriamente projetar evolução dos preços acionários.
Também é ilusório imaginar-se que as eventuais reduções de taxas de juros das economias mais desenvolvidas, em especial da americana, fragilizem o dólar ou motivem aumento de fluxos para os emergentes, pois a opção do momento defensivo é a segurança em detrimento da rentabilidade.