Soluço?
Dia de calmaria após o soluço de ontem.
Fundamentalmente revertendo o sell-off da tarte desta quarta, mercados internacionais operam em alta branda. Foco principalmente no encontro de Trump com Xi Jinping. Na outra margem do Atlântico, destaque para novas sinalizações do Banco Central Europeu de que não há pressa para a retirada de estímulos.
Por aqui, atenções (justificadamente) voltadas para a Reforma da Previdência (vide abaixo). Bolsa virtualmente no zero a zero, com predominância de nomes locais na ponta ganhadora e juros estáveis. Dólar em queda.
Que tenha sido só um soluço mesmo…
Disco riscado
Você é testemunha de meu incômodo com o mercado ontem. Mais do que isso, do quanto tenho repetido como disco riscado (chato pra caramba, eu sei!) que a indiferença dos investidores, aqui e lá fora, à sucessão de eventos dos respectivos noticiários me parecia uma verdadeira overdose de wishful thinking.
Tentei contar o número de vezes, ao longo das últimas semanas, em que alertei para a possibilidade não-desprezível de a aprovação da Reforma da Previdência ser batalha mais difícil do que expressa nos números na tela. Da mesma forma, insisti que o valuation da Bolsa americana parece salgado pelas óticas comumente empregadas.
Suponho, portanto, que não tenha sido surpresa ao leitor habitual destas linhas mal escritas a virada de mão ocorrida na tarde de ontem. No front doméstico, principal fato foi a divulgação de reportagem demonstrando que governo está longe dos votos necessários à aprovação da Reforma.
A questão é: alguém do mercado realmente se surpreendeu?
A estratégia infalível para a festa do século
Imagine a seguinte situação: ocorrerá a melhor festa de todos os tempos e você foi convidado. Haverá algo de muito bom lá (uma pessoa em quem você está de olho, talvez?). Todos irão.
O problema é que você sabe, de fonte segura, que o local onde ela acontecerá tem risco relevante de incêndio.
A prudência manda trocar a festa por uma maratona de Netflix, mas você não quer ficar de fora. A solução: “eu vou, mas vou ficar perto da porta: se sentir cheiro de queimado, dou no pé na hora”. E assim você faz.
Lá chegando, percebe que a maior parte dos convidados está concentrada nas imediações da saída de emergência. Coincidência, você pensa. Seguindo sua própria estratégia, fica por ali também.
De repente, ao longe, emerge uma enorme labareda. Ao voltar-se para a porta, você constata uma aglomeração intransponível.
Talvez você não tenha sido o único a ser alertado do risco de incêndio. Talvez você não tenha sido o único a tomar o risco, achando que seria capaz de sair na hora certa.
Qualquer semelhança com o mercado de ultimamente não é coincidência.
Pentelho da Internet
No front externo, repercutiu ainda o tom mais pesado da ata do Copom gringo. Ali o ponto foi a sinalização de que o Fed deve começar a desova dos ativos que pôs no bolso por volta da crise do subprime como forma de injetar liquidez na economia. Leitura é de que o impacto é equivalente ao de alta(s) de juro adicional(is) à expectativa de mercado.
Parece que o valuation da Bolsa americana — cujo nível, aliás, foi novamente objeto de alerta na ata; de novo, nenhuma novidade para quem lê estas linhas — não é, afinal, tão insensível ao custo de capital quanto o mercado andava defendendo.
À frente, atenções concentram-se no encontro de dois dias entre Trump e Xi Jinping, que tem início hoje. Em breve saberemos se Trump é como aqueles pentelhos da Internet que só são valentes à distância mas, pessoalmente, falam manso.
De grão em grão…
Quem não se sente tentado a, volta-e-meia, promover mudanças drásticas na vida, que atire a primeira pedra. Quem efetivamente tentou e falhou miseravelmente, levante a mão.
(Coincidência ou não, matriculei-me na academia pela n-ésima vez…)
Não se engane: grandes viradas são ideais sedutoras, mas de difícil implementação. A inércia é uma força poderosíssima. Rompantes muito provavelmente resultem em uma temporária mudança de curso, que o arrastar dos dias há de compensar.
É por isso que há tanto valor nos pequenos — e continuados — gestos. É com um pequeno gesto, um minúsculo passo inicial e consistente, que você pode construir um patrimônio milionário. Devagar e sempre é o mote da Estratégia do Investimento Consistente.