Aneel diz que outubro terá bandeira tarifária vermelha patamar 1
O discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, na última sexta (22/08), foi a peça que faltava para o mercado enxergar com mais clareza a virada do ciclo. Ele admitiu que um corte de juros em setembro está na mesa, mas, evitou prometer a velocidade desse processo. Em outras palavras, há espaço para começar a reduzir os juros — o passo a passo dependerá do que mostrarem os próximos números de emprego e inflação.
A reação no câmbio foi imediata e ampla. O dólar perdeu 1,01% contra o euro, 0,85% frente à libra, 0,92% ante o franco-suíço, 0,97% contra o iene, 0,62% diante do dólar canadense e 1,09% e 0,84% em relação aos dólares australiano e neozelandês, respectivamente. Não foi um movimento isolado: ele se soma a uma trajetória de perda de força que a moeda americana já vinha mostrando ao longo de 2025, pressionada pelos efeitos das tarifas comerciais recentes, que elevam incertezas e baralham preços e cadeias de produção.
Powell manteve a coerência: reconheceu o avanço na queda da inflação, mas ressaltou que o trabalho não terminou. Ao mesmo tempo, apontou maior atenção para o lado do emprego, que, também vai pesar na balança das decisões. Daí a mensagem central: existe o caminho para cortar, porém o ritmo será definido pelos dados que chegam antes da próxima reunião do FED, marcada para 16 e 17 de setembro.
Nos principais pares, essa combinação de mensagem e números reforçou um quadro que já vinha se desenhando. Euro e libra seguem sustentados por tendências de alta em prazos mais longos, e o discurso apenas adicionou combustível a esse movimento. No caso do iene, a sensibilidade ao diferencial de juros aparece com força: quando o mercado passa a acreditar em juros americanos mais baixos à frente, o iene costuma respirar. Para AUD, NZD e CAD, moedas ligadas a commodities e crescimento global, a fotografia é parecida: um dólar mais fraco tende a abrir espaço para ganhos, com as particularidades de cada economia fazendo o ajuste fino.
O ponto de atenção agora é simples de entender: até meados de setembro, dois conjuntos de números vão mandar no humor dos preços — emprego e inflação nos EUA. Se vierem “na medida”, o terreno fica preparado para um primeiro corte e para um mercado de câmbio um pouco mais previsível. Se vierem piores do que o esperado — seja um susto inflacionário, seja um tranco no emprego —, a leitura muda, a ideia de corte imediato pode perder força e a volatilidade tende a aumentar.
Nada disso contradiz o pano de fundo: desde o início do ano, o dólar tem perdido terreno frente a maioria das majors. O que o discurso em Jackson Hole fez foi acelerar essa narrativa, ao mesmo tempo em que manteve a prudência: não há promessa de uma sequência rápida de cortes, e cada passo dependerá dos dados. Para quem observa o câmbio, a mensagem prática é direta: a tendência de médio prazo ainda joga contra o dólar, mas o caminho até a decisão de setembro passa por obstáculos que podem chacoalhar os preços no curto prazo.