Enfim, a pesquisa...
Depois da pataquada da pesquisa vazada que não saiu, mas estimulou um pequeno rali da Bolsa brasileira, eis que esta quinta-feira um novo levantamento Ibope/CNI deu ao mercado o que ele esperava.
A avaliação positiva do governo Dilma caiu de 43% para 36% e a aprovação pessoal da presidente recuou de 56% para 51%.
Uma queda expressiva, mas sempre ponderada pelo fato de tratar-se de uma amostra - amostra por amostra, há menos de uma semana tivemos outra, da mesma instituição, indicando o contrário. E a anterior era inclusive mais substancial, pois falava de intenções de voto diretamente.
A redenção das estatais
Já esgotamos essa questão da leitura positiva do mercado para todo e qualquer indício que possa alimentar perspectiva de mudança do governo.
Também já falamos do reinado da volatilidade, agora que a corrida eleitoral começa a tomar corpo (e as eleições se consolidam como o grande gatilho em potencial para os mercados), e dos desdobramentos favoráveis disso para as ações de estatais.
Hoje temos mais um sinal inequívoco do peso da ingerência política e da insuficiência da gestão atual destas empresas, vide a disparada das ações das estatais Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e (...) Marfrig.
Eletrobras pode ser a grande porrada da Bolsa
E digo isso apesar da alta de 10% hoje.
A empresa é operacionalmente ruim. Seus ativos de distribuição são queimadores de caixa frequentes, e a ingerência política pesa sobremaneira sobre a estatal. Eletrobras tem sido usada pelo governo para fazer política energética, entrando em leilões que não fazem sentido somente para preencher uma lacuna de demanda.
Até por isso, sob a ótica de impactos em potencial do evento (eleições), ela trata-se de uma potencial porrada.
Vamos aos argumentos...
Não precisa haver troca de governo (1)
Basta a expectativa de troca do governo, e toda essa volatilidade associada à corrida eleitoral, que - lembrando - está apenas começando.
O pregão de hoje é um forte indício da sensibilidade das cotações a esta dança das expectativas.
Assim, uma porrada de Eletrobras não depende necessariamente de um cenário - ainda - de difícil materialização (a derrota da situação nas eleições).
Trata-se da assimetria mais aguda entre as estatais (2)
Dentre as estatais, ELET6 é a que apresenta a maior assimetria de retornos potenciais.
Para quem pensou no 0,6x valor patrimonial de Petrobras como argumento de ação descontada, a relação atual de Eletrobras é da ordem de 0,2x valor patrimonial (!).
Se ela cair de forma significativa, pode cair quanto?
Até 0,15x patrimônio?
E se subir? Imagine ela em um processo de convergência das cotações para o valor patrimonial, a 1x Preço/Valor Patrimonial... Teríamos um espaço para valorização da ordem de 400%.
Traduzindo, nos atuais níveis, ELET tem pouco espaço para cair, e todo um Brasilzão de meu Deus caso engate uma trajetória de apreciação.
Um ‘faz-me rir’ para acompanhar o processo (3)
O retorno de dividendos (yield) das ações de Eletrobras (ELET6) com base nas distribuições de 2013 foi de 16%, considerando as cotações de início de ano passado.
Em ocasião anterior já comentei sobre os vieses deste dividendo... tal nível de distribuição não condiz com o patamar de resultados da empresa, ou seja, não são dividendos sustentáveis, mas sim pagos com reservas de lucros e/ou itens extraordinários.
Mas também não estou falando para você casar com as ações.
Ainda que o nível de dividendos esteja em trajetória descendente, por ora o patamar atual traz uma “garantia” a mais para se apostar na ação.
Reitero, porém, o risco. Acho a empresa ruim operacionalmente e não há qualquer evidência consistente de que isso irá mudar - longe disso.
Não é um case clean, de modo que fica difícil afirmar categoricamente que a ação vai subir. Por outro lado, como aposta especulativa baseada nesta volatilidade relacionada às eleições, trata-se sim de uma assimetria extremamente vantajosa.
Os outros absurdos de valuation
O caso da Eletrobras é interessante. Tiveram de errar muito a mão na empresa a ponto de sua cotação ir à casa de 0,2x valor patrimonial.
Eletrobras certamente está entre as métricas de valuation mais discrepantes da Bolsa, e têm os seus motivos para tal.
Mas pensa o seguinte: se concretizada uma eventual vitória da oposição, poderíamos ver menor agressividade nos leilões, redução da percepção de risco e venda de distribuidores de energia problemática. Note ainda que isso pode ser, por vias tortas, um call também em favor de Equatorial Energia, hoje nossa top pick no setor - isso porque EQTL3 poderia comprar ativos baratos e implementar novos e bem-sucedidos turnarounds.
E seu te disser que há uma ação com bons fundamentos, margens resilientes e resultados crescentes e estrutura de capital confortável negociando a 3x ev/ebitda?
Na série Barganhas da Bolsa de hoje, abordamos esse caso e outro cuja empresa carrega fundamentos sensatos e negocia em Bolsa a valor inferior a um dos terrenos que possui.
Você conseguiria apontar uma ação da Bolsa, que não uma companhia problemática ou com risco sobre a estrutura de capital, que opera em tais níveis?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.