C.Q.D.
Lembra do que escrevi sexta?
Findo o trimestre, dia é de desfazer as posições da puxeta de fechamento da cota. Mercado americano opera em baixa, e da mesma forma fechou o europeu. Como queríamos demonstrar.
Predomina narrativa de que riscos em torno da viabilidade dos planos de Trump estão sob reavaliação. Tá bom…
Por aqui, destoamos operando em alta com destaque para nomes locais. Juros têm queda, refletindo ajuste marginalmente para baixo das expectativas de inflação e juros no relatório Focus. Dólar no zero-a-zero.
Estou há dias dormindo mal. Vamos aos motivos:
11/12/1941…
Aos 11 dias do mês de dezembro do ano de 1941, o Congresso Americano deliberou:
“…portanto, seja resolvido pelo Senado e Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América reunidos no Congresso, que o estado de guerra entre os Estados Unidos e o Governo da Alemanha, que assim foi imposto sobre os Estados Unidos, é formalmente declarado por este meio…”
Ali determinou-se uma guinada no curso da História moderna. E me desculpem os que pensam diferente, mas analisar a sucessão de fatores que culminaram na Segunda Guerra sob uma ótica estritamente econômica me parece de uma descomunal miopia.
…02/04/2017
Onde quero chegar com essa digressão?
Predomina no mercado a ideia de que, colocando a economia nos eixos, o governo Temer está fadado ao sucesso e a pavimentar o caminho para boa sucessão em 2018. Tudo é reduzido ao fator econômico e assume-se que tudo conspirará em prol dele.
Como se não houvessem outras tramas se desenrolando em paralelo que possam mudar o curso da História. Como se nossa classe política não tivesse outras agendas que podem, inclusive, competir com esta.
Salvar a própria pele, por exemplo.
Neste domingo, 2 de abril de 2017, decretou-se por aqui um estado de guerra.
Não ignore a possibilidade de desdobramentos disso transbordarem a esfera política.
Depois quando?
A insurgência contra o governo ocorre em um momento no qual ainda há muito por aprovar. A eventual perda de sustentação política me leva, inevitavelmente, a pensar nos últimos tempos da gestão Sarney: um governo de mãos atadas e uma economia desgovernada.
A votação da Reforma da Previdência era originalmente esperada para antes da Páscoa. Já ficou para depois. O governo não tem os votos e, talvez, não disponha de margem de negociação suficientemente ampla para comprá-los (sim, a palavra é esta).
A possibilidade de “sarneyzação” deste ano e meio pela frente é algo que me tira o sono. Em um cenário sem reformas, está certo o preço dos ativos? Penso que não.
O que me tira o sono
Estou acordado; todos dormem…
Amanhã o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE e o mercado simplesmente dá de ombros. A julgar pelo comportamento de juros e Bolsa, nada de mais está acontecendo.
Espero pelo melhor, enfatizo. Mas será que, talvez, não valeria um pouco de cautela aqui? É fato sabido que a morosidade do nosso sistema judiciário há de garantir que, mediante uma torrente interminável de recursos, uma eventual decisão pela cassação não tenha efetividade até o final de mandato.
Mas insisto: como fica a governabilidade nesse período? Será que, se TSE julgar pelo afastamento, Temer consegue ao mesmo tempo defender-se e promover reformas? Haverá ambiente político para aprovar qualquer coisa? Tenho dúvidas, sérias dúvidas.
Para completar, seguimos no aguardo da decisão de Fachin sobre o levantamento do sigilo das delações da Lista de Janot. Imprensa sugere que o ministro aguardará o retorno do Procurador, que está no exterior até a próxima semana.
Emoções à frente.
Apenas começamos
E nossa história não ficará pelo avesso, assim, sem final feliz. Teremos, também, coisas bonitas pra contar…
Em 2017, pela primeira vez em uma década, emissões do mercado de capitais superaram BNDES no financiamento das empresas.
A exótica ideia de que empresas privadas têm que se financiar com dinheiro… privado! Pagando taxas… de mercado! E que empresários tem que passar mais tempo pensando nos rumos de seus negócios do que no número 100 da República do Chile ou — ainda pior — em romarias à Brasília pedindo milagres.
Por um instante, um átimo, até parece que vivemos em um país normal.