Para o investidor médio, ficar comprado em qualquer commodity que não seja o ouro pode parecer um suicídio neste momento, já que o coronavírus parece ter “infectado” praticamente todas as matérias-primas adquiridas em abundância pela China, como o petróleo, o cobre e a soja.
Mas, na maré vermelha que inundou o complexo de commodities, ainda existem alguns sinais verdes dando esperança para quem está posicionado na compra. Um deles é o açúcar.
Nesta sexta-feira, o açúcar em bruto negociado na ICE (NYSE:ICE) Futures dos EUA estava a caminho de registrar sua terceira semana de valorização nas últimas quatro, depois de a máxima do pregão anterior ficar a poucos pontos dos picos de dois anos alcançados na semana passada. Considerando que não haverá um deslize ao longo do dia, o adoçante pode finalizar a semana com uma alta de 1,5%.
Maior alta mensal do açúcar desde 2018; petróleo segue na direção contrária
O mais importante é que, como a sessão de hoje é a última de janeiro, o açúcar em bruto também apresenta uma valorização de quase 9% no mês. Se novamente fechar no positivo, poderá registrar a maior valorização mensal desde o ganho astronômico de quase 27% em outubro de 2018.
Agora compare essa valorização de janeiro no açúcar com o desempenho do petróleo no mês. Tudo indica que o petróleo Brent terá uma perda mensal de mais de 12%, seu maior deslize desde novembro de 2018.
E faz todo o sentido comparar o açúcar com o petróleo, já que seu produto derivado mais importante é o etanol, biocombustível misturado à gasolina que, por sua vez, é derivada do petróleo.
O açúcar está entre as poucas commodities que se valorizaram no mês
De fato, o açúcar é uma das cinco principais commodities de um grupo de trinta e seis a registrar ganhos em janeiro, de acordo com os dados do Investing.com. Os outros vencedores – fora o ouro e o paládio, que são metais preciosos – foram o trigo, o algodão e o cacau.
Geralmente, os preços do açúcar seguem os do petróleo, em razão da sua dependência ao etanol misturado à gasolina. A proporção obrigatória dessa mistura nos Estados Unidos é de 10%.
Mas, com o surto de coronavírus, o açúcar vem seguindo em ritmo próprio, na medida em que os investidores e operadores dedicam quase toda a sua atenção à restrição de oferta forçada pela safra fraca registrada no Brasil, principal país produtor.
Enorme escassez de produção
“Vemos os preços do açúcar disparando por causa de um enorme déficit mundial de produção”, declarou Eric Scoles, estrategista de commodities da RJO Futures, em Chicago, que disse ainda:
“O mercado ainda está bastante altista, e minhas análises sugerem que os fortes fundamentos ainda estão em vigor".
Jack Scoville, vice-presidente e analista de commodities agrícolas do Price Futures Group, de Chicago, afirmou que o Brasil pode ser forçado a produzir mais açúcar e menos etanol, devido à atual fraqueza dos preços do petróleo bruto.
“Reportagens indicam que há pouca oferta da Índia. A Tailândia também pode ter menos oferta neste ano, devido à área reduzida de plantações e precipitações erráticas durante a estação de monção”, Declarou Scoville, referindo-se a outros dois grandes centros produtores de açúcar.
“Forte Compra”
No pregão de quinta-feira, o açúcar em bruto com entrega em março na ICE Futures dos EUA fechou a 14,59 centavos por libra, depois de atingir o pico de 14,87, um pouco abaixo da máxima de dois anos de 14,90 estabelecida em 23 de janeiro.
A Perspectiva Técnica Diária do Investing.com tem recomendação de “Forte Compra” para o açúcar de março, estabelecendo resistência imediata em 15,21 centavos para o contrato. Considerando o fechamento de quinta-feira, isso significa que o contrato ainda teria espaço para subir mais seis centavos, ou 4%.
Com certeza seria um movimento doce em meio à amargura existente na maior parte das commodities neste momento.