Recentemente conduzi um estudo em coautoria com pesquisadores da FGV/EBAPE e do IBMEC, em parceria com a CVM, que investiga os vieses cognitivos que influenciam a tomada de decisão de investidores em esquemas de pirâmide e apostas esportivas. Utilizando um experimento com 968 participantes, a pesquisa explorou como fatores como impulsividade, excesso de autoconfiança e literacia financeira impactam essas escolhas.
Os resultados revelam que indivíduos mais impulsivos são significativamente mais propensos a investir em esquemas de pirâmide, também conhecidos como “Ponzi”. Esse comportamento se explica pelo fato de que investidores impulsivos tendem a tomar decisões rápidas e menos racionais, ignorando sinais claros de fraude.
Outro achado relevante é que os participantes expostos a um priming de apostas demonstraram maior propensão a investir em esquemas de pirâmide. Isso sugere que a exposição constante a jogos de azar pode influenciar uma aceitação maior de riscos em outros contextos financeiros, potencialmente naturalizando investimentos fraudulentos. Com o crescimento exponencial das casas de apostas no Brasil e sua presença massiva na publicidade, essa constatação levanta preocupações sobre possíveis efeitos colaterais na percepção de risco dos investidores.
Por outro lado, a pesquisa mostrou que a literacia financeira básica tem um efeito protetor contra a adesão a esquemas de pirâmide. Indivíduos com maior conhecimento financeiro apresentaram menor disposição para investir nesses esquemas e, mesmo quando expostos a primings de apostas, mantiveram uma postura mais cautelosa. Isso reforça a importância da educação financeira como ferramenta essencial para prevenir fraudes e proteger investidores vulneráveis.
Os achados do estudo têm implicações significativas para reguladores e formuladores de políticas públicas. Primeiramente, evidenciam a necessidade de maior regulação e fiscalização da publicidade de apostas esportivas, dado seu potencial impacto na aceitação de riscos excessivos. Além disso, sugerem que iniciativas de educação financeira podem reduzir a vulnerabilidade da população a fraudes financeiras, um investimento estratégico para fortalecer a segurança do mercado de capitais.
Em um país onde esquemas de pirâmide e apostas movimentam bilhões de reais anualmente, a relação entre esses fenômenos não pode ser ignorada. A pesquisa contribui para a compreensão desse comportamento e reforça a urgência de ações concretas para mitigar seus efeitos adversos. Reguladores, instituições financeiras e a sociedade em geral devem se atentar para os riscos comportamentais associados a esses investimentos e trabalhar para promover uma cultura financeira mais sólida e responsável no Brasil.