Estrangeiros retiram R$ 3,5 bi da Bolsa de Valores em julho
Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Os dados mais importantes dos EUA nesta semana foram as vendas no varejo e, embora o gasto dos consumidores tenha sido o dobro da expectativa, os investidores não deram muita importância para essa notícia. Para os nossos leitores, isso não é uma surpresa, pois, como já dissemos anteriormente, nada é mais importante do que as tensões comerciais, os riscos de recessão e a incerteza mundial. Mesmo com a disparada da despesa com consumo, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) ainda precisará reduzir as taxas de juros em resposta à deterioração das relações comerciais entre EUA e China, à forte queda das ações e à mudança de sentimento. As duas maiores economias do mundo deixaram claro ontem que os atrasos nas tarifas não significam uma melhora nas relações comerciais. O Secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, declarou que não haveria troca de favores com a China, pois os atrasos visam ajudar apenas os consumidores norte-americanos. A China, por sua vez, acusou o presidente dos EUA, Donald Trump, de violar o acordo de Osaka e ameaçou retaliar se as tarifas de 10% entrarem em vigor. A linguagem usada por ambas as partes ressalta sua posição de defesa e antagonismo. Se a situação continuar assim, os investidores seguirão nervosos, dificultando a possibilidade de um rali nas moedas e ações.
Dito isso, os relatórios econômicos de ontem nos EUA foram muito melhores do que se esperava. As vendas no varejo subiram 0,7%, superando bastante a previsão de 0,3%. Excluindo as compras automotivas e de combustível, a despesa teve sua maior elevação desde janeiro. As pesquisas do Empire State e do Fed da Filadélfia também superaram as expectativas, refletindo uma recuperação na atividade manufatureira. Alguns relatórios saíram mais fracos, como produção industrial e pedidos de seguro-desemprego, mas são menos relevantes do que a despesa com consumo. Na última reunião do Fed, os formuladores da política não viam uma necessidade premente para realizar uma flexibilização adicional, mas, desde então, a forte queda dos mercados acionários e a deterioração nas relações entre EUA e China fizeram com que os investidores precificassem mais outros dois cortes de juros neste ano, e agora o banco central norte-americano não tem outra escolha a não ser fazer isso. Assim como as vendas no varejo, os dados de construção de novas casas, permissões de construção e confiança dos consumidores da Universidade de Michigan devem ter impacto limitado nos mercados acionários e de câmbio.
O par USD/JPY era negociado no patamar de 106,38, na esteira das vendas no varejo nesta quinta-feira, mas encerrou a 106. O único par de moedas que realmente foi afetado pelos dados foi o EUR/USD, que rompeu sua consolidação na quarta-feira e ampliou a queda para 1.11. Além das relações comerciais, o USD/JPY continua pressionado pelos juros nos EUA. O rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano caiu abaixo de 1,5% pela primeira vez desde 2016 no período intradiário, antes de fechar levemente acima dessa marca. A curva de juros, que se inverteu anteontem, normalizou-se, mas não se surpreenda se houver uma nova inversão nas curvas dos títulos de 2 e 10 anos. Os juros estão tão próximos que pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença no formato da curva.
Os EUA não foram o único país a divulgar dados melhores. Na Austrália, os dados de emprego superaram o consenso em larga margem, já que houve um aumento de 41K contra 14K. Como afirmou Boris Schlossberg: "O mais importante é que, desse volume de empregos, 35k foram de vagas em tempo integral, indicando que o crescimento continua robusto, apesar dos ventos contrários provenientes das tensões entre EUA e China. No entanto, o fato é que a taxa de desempenho subiu, o que seguramente abre espaço para que o banco central australiano aumente a flexibilização, ainda que a um ritmo de 25 pontos-base.” "Em vista do robusto panorama fundamentalista, o dólar australiano pode estar em vias de uma correção se as tensões de risco arrefecerem.”
No Reino Unido, os dados de vendas no varejo também superaram as previsões, saindo a 3,3% contra 2,6%, com destaque para as vendas on-line. Com um cenário de emprego estável, salários em ascensão e robustos gastos dos consumidores, os dados britânicos estão se mostrando muito melhores do que se poderia imaginar, em vista da ameaça de um Brexit sem acordo e, se houver a possibilidade de algum acordo, a libra esterlina pode rapidamente subir para 1,2500 pelo menos. Mas, como os líderes britânicos tencionam romper os laços com a União Europeia, as ameaças políticas pesam mais do que os dados econômicos no momento.