Os observadores do Federal Reserve (Fed) fazem um pente-fino de cada declaração do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) para descobrir até as mais diminutas mudanças. Desta vez as flutuações na política monetária estavam fáceis de encontrar, já que a maior alteração saltava aos olhos.
Como sempre, o FOMC continuará monitorando os dados sobre a perspectiva econômica. Mas na declaração desta quarta-feira, o Fed cortou a frase "e atuará conforme necessário para sustentar a expansão".
Nada mais. O comitê já fez o que tinha que fazer. Agora utilizará todos aqueles dados econômicos para “avaliar a trajetória da faixa-alvo de juros dos fundos federais". No que depender do Fed, a atual política monetária está “apropriada”.
Durante a coletiva de imprensa de ontem, após a decisão, o presidente da instituição, Jerome Powell, deixou claro que o banco central norte-americano voltará a adotar a mesma postura paciente do início do ano, quando ainda não havia realizado os três cortes consecutivos de 25 pontos-base na taxa referencial de juros, incluindo o desta quarta-feira.
Nem a insistência um tanto desesperada dos jornalistas em saber do presidente o que viria no futuro conseguiu demovê-lo da posição de que o melhor a fazer neste momento é não fazer nada. Powell observou que alguns dos riscos à economia global haviam arrefecido.
A expectativa agora é que a China e os EUA fechem algum tipo de acordo para aliviar as tensões comerciais. Além disso, o risco de um Brexit sem acordo parece ter sido eliminado. “Ainda resta um risco grande”, reconheceu Powell, mas a economia está mostrando resiliência.
Então, que tipo de risco faria o Fed reduzir ainda mais os juros? Ou será que o crescimento contínuo inspiraria o Fed a reverter os cortes de juros, elevando-os novamente?
“Nada disso”, respondeu Powell a essas questões. Não é a economia que direciona os movimentos de juros, mas a inflação. “Por isso, acredito que precisaríamos ver uma alta realmente significativa e persistente na inflação antes de considerarmos qualquer elevação de juros para combater as preocupações com o aumento de preços", afirmou o presidente.
Como a inflação medida pelas despesas com consumo pessoal, indicador preferencial do Fed, foi de apenas 1,4% nos 12 meses até agosto, parece pouco provável que o alvo “simétrico” de 2% (com alguns meses de tolerância acima desse patamar) seja superado.
Os formuladores da política do banco central norte-americano, evidentemente, estão torcendo contra qualquer expectativa de que a inflação realmente siga nessa direção. Mas isso não deve acontecer em breve.
De fato, foi uma coletiva de imprensa bastante monótona, já que a decisão já havia sido telegrafada com antecedência e, por isso, era amplamente aguardada. Quando se acabou com incerteza sobre o terceiro corte de juros e a inflação foi citada como a única razão possível para voltar a subir os juros, os investidores levaram o S&P 500 a uma nova máxima recorde.
Houve duas dissensões entre os membros votantes do FOMC, uma vez que Eric Rosengren e Esther George, diretores dos bancos regionais de Boston e Kansas City respectivamente, que já não haviam gostado do corte de juros em setembro, gostaram ainda menos dessa redução para 1,50-1,75.
Ainda há mais uma reunião do FOMC neste ano, nos dias 10 e 11 de dezembro, mas não se espera qualquer mudança na política monetária, a menos que ocorra algum desenvolvimento dramático na economia. Essa reunião, no entanto, será acompanhada de projeções econômicas sobre o crescimento e as taxas de juros dos 17 membros do FOMC e passará por intenso escrutínio em busca de pistas do que pode vir em 2020.