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Há algo de profundamente inquietante em viver uma época em que o futuro deixou de ser promessa e passou a ser ameaça. A sensação de não saber para onde caminhamos e, pior, de suspeitar que talvez não exista caminho algum, tem se tornado o sentimento dominante de nosso tempo.
A velocidade das transformações, a fragilidade dos vínculos e o avanço vertiginoso da tecnologia dissolvem qualquer possibilidade de estabilidade. Vivemos, como diria Zygmunt Bauman, tempos líquidos: nada se sustenta por muito tempo, tudo muda antes mesmo de se firmar.
Nessa fluidez, a angústia encontra terreno fértil. Relações são passageiras, empregos instáveis, identidades transitórias. Somos convocados a nos reinventar o tempo todo, como se a estabilidade fosse uma forma de fraqueza. A modernidade líquida não apenas exige flexibilidade, ela impõe insegurança. E, ao perdermos o chão, perdemos também a capacidade de projetar o amanhã com alguma confiança, como faziam as gerações passadas.
Daniel Kahneman, psicólogo e prêmio Nobel, dedicou sua vida a entender como pensamos. Em sua obra "Rápido e Devagar", ele descreveu dois modos de funcionamento da mente: um rápido, intuitivo e emocional; outro lento, racional e ponderado. O mundo contemporâneo, porém, parece não deixar espaço para o pensamento lento. Tudo precisa ser imediato; decisões, opiniões, respostas. Com isso, a pressa virou virtude; a pausa, defeito.
O preço dessa aceleração é alto. Quando o pensamento rápido domina, erramos. Julgamos sem refletir, reagimos sem compreender. E é justamente esse tipo de pensamento dicotômico que o mundo digital estimula: o clique automático, o consumo apressado de informação, a substituição da análise pela reação. Pensar devagar tornou-se quase um ato de resistência.
Kahneman, que ironicamente fazia aniversário no mesmo dia que eu (05 de março), sabia bem o valor da lucidez e talvez por isso, tenha decidido morrer antes de perdê-la. Aos 90 anos, optou pela eutanásia assistida na Suíça, encerrando a própria vida enquanto ainda conservava dignidade física e mental. Seu gesto soa como um último exercício de controle: diante de um futuro inevitavelmente incerto, decidiu tomar para si a única escolha definitiva. É um ato que ecoa a ansiedade de nossa era, o medo de perder o domínio sobre o próprio destino.
Enquanto isso, o mundo avança numa velocidade que já não é mais humana. A inteligência artificial, com sua promessa de eficiência, inaugura uma era em que o conhecimento envelhece em meses. O que aprendemos hoje pode se tornar inútil amanhã. Profissões inteiras se transformam, e a sensação é de estarmos sempre correndo atrás de algo que se move mais rápido do que nós.
Por trás do fetiche tecnológico, há um custo oculto: o gasto energético colossal que sustenta os sistemas de IA. Estimativas internacionais apontam que, até o fim da década, essas tecnologias poderão consumir tanta eletricidade quanto países inteiros. É o preço do progresso e o lembrete de que nenhuma revolução vem sem consequências.
Para os jovens, essa nova paisagem é especialmente cruel. Eles cresceram sob a promessa de um futuro promissor, mas encontram um horizonte que se desmancha a cada avanço com impacto de uma pandemia no meio do curso. Como planejar a vida em um mundo que muda antes mesmo de permitir o planejamento? Como sonhar com o que virá, se o próprio conceito de futuro parece estar em extinção?
A modernidade líquida, o pensamento rápido e a inteligência artificial formam juntos o tripé da angústia contemporânea. Somos seres humanos tentando manter o controle em um mundo que já não pode ser controlado. Pensamos depressa, vivemos ansiosos e tememos o futuro que nós mesmos estamos criando.
Talvez estejamos diante de um novo tipo de pessimismo — não o que lamenta o passado, mas o que desconfia do amanhã. A tecnologia avança, mas, junto dela, cresce o sentimento de que estamos perdendo algo essencial: a previsibilidade, a pausa, o sentido.
O futuro, antes promessa de progresso, tornou-se um espelho turvo, onde não reconhecemos mais o que seremos. E é nessa névoa, entre o medo do desconhecido e o desejo desesperado de controle, que se instala a angústia mais profunda do nosso tempo: a de existir sem saber se ainda há um amanhã possível.
Portanto, acredito que quem muito se agarra ao certo, descobre tarde demais que só o incerto é eterno! Ainda assim, mesmo com essa incerteza no futuro, há instantes que tornam a vida digna de ser vivida, como agora: Eu, feliz porque escrevo; você, feliz porque me lê.
E que de alguma maneira, afloremos alguma potência pelo incerto, já que ele é inexorável.
Tenha um ótimo dia!
