Publicado originalmente em inglês em 10/11/2020
As maiores fabricantes mundiais de automóveis foram duramente impactadas pela pandemia global de coronavírus. A disseminação da covid-19 destruiu a demanda e forçou essas empresas a fechar suas fábricas no início do ano. O choque inesperado obrigou muitos fabricantes a cortar custos, suspender seus dividendos e revisar suas projeções de resultados.
Durante o último ciclo de balanços, no entanto, ficou claro que algumas montadoras estão se recuperando mais rapidamente dessa crise do que outras, à medida que a economia se abre e a atividade empresarial é retomada. Neste artigo, vamos nos concentrar nas duas maiores fabricantes automotivas dos EUA: a General Motors (NYSE:GM) (SA:GMCO34) e a Ford (NYSE:F) (SA:FDMO34), a fim de compreender qual ação é uma melhor compra com base nos últimos balanços.
General Motors: Recuperação a todo vapor
A fabricante de automóveis de Detroit divulgou na semana passada que seu lucro líquido cresceu 74% em relação ao mesmo trimestre de 2019. O lucro por ação ajustado da companhia foi de US$ 2,83 no trimestre, superando a estimativa consensual dos analistas de US$ 1,45 por ação. Trata-se de uma alta em relação ao LPA de US$ 1,72 registrado há um ano e também melhor do que o do segundo trimestre, quando a GM registrou seu primeiro prejuízo em mais de uma década.
A recuperação foi tão forte que a CEO, Mary Barra, anunciou que a empresa planeja retomar seus dividendos em meados de 2021 após ter suspendido sua distribuição em abril.
O que está ajudando a GM é o facelift das suas grandes picapes, além do plano de reestruturação de Barra. Os negócios da montadora na China também mostraram sinais de recuperação após dois anos de queda. As vendas da GM no país asiático, maior mercado automotivo do mundo, subiram 12% durante o último trimestre, recuperando-se da forte queda dos últimos anos.
“Vemos uma demanda bastante alta de picapes de grande porte em todos os níveis, mas principalmente em picapes de algo padrão”, declarou Barra em uma entrevista à Bloomberg Television.
“Estamos registrando uma demanda forte e crescente, e neste momento estamos fabricando todas as picapes que conseguimos”.
Graças a essa disparada na demanda, as ações da GM superaram o desempenho dos seus pares. Desde a mínima de março, a ação mais do que dobrou de valor e fechou a US$ 38,96 na segunda-feira.
O rali nos papéis da GM ganhou força no mês passado depois que a fabricante automotiva revelou seu novo GMC Hummer EV, além de anunciar mais de US$ 2 bilhões em novos investimentos para desenvolver veículos elétricos.
Esses passos, aliados às fortes vendas, mostram que a empresa está em melhor posição para enfrentar grandes disruptores do setor, como a Tesla (NASDAQ:TSLA), que tem uma ampla vantagem no mercado de carros elétricos.
Ford: grande surpresa nos resultados
Assim como a GM, a Ford registrou fortes vendas no 3º tri, superando em muito as expectativas dos analistas. A disparada na demanda por picapes ajudou a Ford a obter um lucro por ação ajustado de US$ 0,65, muito acima do LPA de US$ 0,19 previsto pelo consenso dos analistas.
O crescimento do lucro na América do Norte permitiu que a empresa revisasse para cima sua projeção para o ano, que era de um prejuízo e passou a ser de lucro.
Antes da recessão provocada pela pandemia, a Ford estava tentando se reinventar. Depois de vários anos de crescimento nas vendas, graças à robustez da economia global e da demanda dos consumidores, a fabricante de automóveis estava enfrentando grandes adversidades por causa da desaceleração da demanda por sedãs. No ano passado, seu lucro líquido cai mais que pela metade.
Para superar esses desafios, a Ford decidiu sair do setor de carros menores e focar em SUVs e picapes nos EUA. Esses esforços, aliados a uma reconfiguração da gerência, que trouxe o veterano da indústria Jim Farley a bordo, parecem ter ajudado a Ford a lidar com o atual ambiente da pandemia, além de dar alguma vida a essa ação castigada.
Depois de despencar para US$ 3,96 no crash de março, os papéis da Ford estão agora sendo negociados a US$ 8,20, com base no fechamento de ontem.
Os analistas de Wall Street, no entanto, não se animaram com essa fabricante automotiva de Detroit. Dos 24 analistas que cobrem as ações da Ford, apenas quatro recomendam compra, com preço-alvo médio de US$ 8,79 em doze meses.
Resumo
No geral, a GM tem superado o desempenho da Ford nos últimos anos, ao registrar margens de lucro maiores na América do Norte, onde as grandes picapes e SUVs são responsáveis pela maior parte do lucro global de ambas as empresas. A GM também se beneficiou da saída de mercados não lucrativos no exterior, que ainda representam uma área problemática para a Ford, enquanto se manteve lucrativa na China, apesar das pressões de preço e da queda nas vendas.
O último balanço positivo da Ford, no entanto, não faz da ação uma compra. A recuperação da montadora é instável, principalmente em vista dos seus muitos dos seus desafios no longo prazo, inclusive maiores custos de garantia e declínio acelerado das vendas de sedãs.
Por essas razões, continuamos preferindo a GM à Ford para investidores interessados em montar uma posição em ações tradicionais do setor automotivo.