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Governança é Questão de Vontade: ESG e o Caso Stone/Linx

Publicado 17.08.2020, 17:32
Atualizado 04.10.2023, 15:59

Panaceia universal

Quando eu entrei no mercado, estava muito na moda falar em governança corporativa. O Novo Mercado da então Bovespa ainda engatinhava, mas era apontado como a panaceia de todos os males; máximo bastião da defesa dos direitos dos investidores minoritários.

E confesso: eu acreditava. Tanto acreditava que, inclusive, concluí minha graduação em economia versando exatamente sobre esse tema. Em mais de uma ocasião sustentei que era melhor investir em A do que em B, porque A estava no Novo Mercado e B pertencia à vala comum da bolsa.

A grande onda de IPOs de 2007 foi o grande pontapé do segmento. Foram mais de 60 operações naquele ano, com grande parte das debutantes carregando no peito o sinal distintivo de que eram empresas sérias.

Não tardaria para eu descobrir que, na prática, a teoria era outra.

Promessas frustradas

Um dos avanços que eram apontados na literatura como divisores de águas na governança era o princípiouma ação, um voto — ou seja, a ideia de que o poder político do acionista deveria ser proporcional à sua participação no capital da empresa, com extinção de distinções entre classes de Ações. É por isso que a maioria das Companhias listadas nos últimos 20 anos só têm Ações ordinárias.

Tanto tempo depois, é comum a representatividade de minoritários ser mínima nas assembleias. A maior parte dos supostos beneficiados pela unificação das classes de Ações, simplesmente, não dá as caras.

Outra grande promessa do Novo Mercado é otag along — a garantia (cof, cof) de que, em uma eventual venda da Empresa, os minoritários serão tão beneficiados quanto os acionistas controladores. Era a promessa da extinção do prêmio de controle.

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Não tardou para, pouco tempo depois daquela gorda safra de 2007, todos descobrissem que a coisa não era bem assim. Coube a diversas incorporadoras imobiliárias que haviam se aventurado no mercado demonstrar, por meio de diversas e sucessivas operações de fusão e aquisição, onde bastava pagar ótimos advogados para criar estruturas nas quais, ainda que o mesmo fim fosse atingido — Empresa A comprando Empresa B —, a forma não constituía aquisição e, portanto, restava aos minoritários chuparem o dedo.

Não foi nem uma, nem duas, nem três vezes que isso aconteceu.

Sempre foi apontada, também, a importância da indicação de membros para os conselhos de administração e fiscal por parte dos minoritários, bem como a presença de conselheiros independentes.

Pois bem: em sua maioria, eles falharam miseravelmente na identificação de problemas em Companhias abertas. Aliás, renúncias de conselheiros foram, em diversas ocasiões, fortes indicativos de que havia problemas a caminho — ou que aqueles já instalados eram de dificílima solução.

A defesa da figura do conselheiro independente foi maravilhosa… para os conselheiros independentes profissionais, que participam de inúmeros boards ao mesmo tempo.

No final das contas, a terra prometida não é tão bonita assim.

Questão de gente e vontade

Disso tudo, sabe qual foi a minha conclusão?Esqueça os rótulos: governança é questão de gente e de vontade.

Se o(s) acionista(s) controlador(es) acreditar(em) que aquilo é um valor importante para a Empresa, então haverá alguma chance daquilo existir. Caso contrário, é teatrinho.

E isso se torna ainda mais verdade porque, no Brasil, o enforcement é muito fraco: os agentes reguladores são assustadoramente lenientes; a Justiça comum é dolorosamente lenta; a mentalidade média é a de não tomar iniciativa nenhuma porque não vai dar em nada… em suma, temos um ambiente propício para a malandragem compensar.

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E mesmo que haja vontade, se não houve suficiente engajamento dos demais participantes, vira protocolo de boas intenções: todo mundo acha governança importante, mas poucos se vêem dispostos a mover um dedo sequer para fazer isso realidade.

E como a concretização dos ideais depende das pessoas, pouco se vai para frente — governança é importante, mas a assembleia é tratada igualzinho à reunião do condomínio que (quase) todos evitam a todo custo porque colide com o horário da novela.

E isso não tem selo que resolva. Só recomeçando o País do zero.

O greenwashing está no DNA

Uma década depois, está na moda falar do tal ESG. De repente, todo mundo diz que é importante que as Empresas tenham boas práticas ambientais, sociais e de governança.

E, como não é de se espantar, a apropriação desse discurso por gente que, até o verão passado, vivia em constante pecado é acelerada. Isso já tem até nome: greenwashing.

Não tenha dúvidas: muitos arautos do ESG não hesitarão em pular para outro discurso que venda mais quando a moda passar. Que tal fundos que só investem em empresas cujos nomes começam com vogais?

Se tiver demanda, terá oferta…

 

A vida como ela é...

Nesta semana fomos brindados pela proposta de combinação de negócios da StoneCo (NASDAQ:STNE) com a Linx (LINX3 (SA:LINX3)). A adquirente ofereceu aos acionistas um belo prêmio em relação à cotação, que deveria deixar a todos extremamente felizes.

Coube ao mui calejado Fabio Alperowitch, da FAMA, alertar que a estrutura da operação escondia, de forma indireta, um prêmio para os acionistas controladores na forma de contratos de trabalho e acordos de não-competição envolvendo cifras faraônicas. Tudo colocado na ponta do lápis, os controladores estavam levando para casa substancialmente mais do que os acionistas minoritários: eis uma nova burla ao tag along. Advogados estão de parabéns.

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Aí vem a turma do ESG: segundo sondagem da Capital Reset, acionistas da Linx devem deixar por isso mesmo, à medida que estão felizes com o prêmio oferecido pela Stone. As justificativas são as de sempre: são muitos acionistas, vai dar muito trabalho, representa pouco do meu portfólio, não quero comprar a briga…

Fabio, faço votos de que você não acabe sozinho nessa briga.

Não muito longe dali, uma geradora de energia cujo controlador, muito recentemente, sinalizou que pretendia negar aos acionistas minoritários o direito a voto ante uma proposta de fusão com outra Companhia — dispositivo previsto nas regras do Nível 2 da B3, o qual integra — anuncia, agora, que vai para o Novo Mercado. Não falte quem aplauda a suposta melhora de governança, meros 4 meses após o episódio narrado.

Essa é a vida como ela é.

Na prática, a teoria é outra

Esqueça os selos, prêmios, índices… são todos mecanismos viciados. Tudo não passa de lambeção de saco.

(Aliás, tá aí uma indústria que deve estar sofrendo em 2020: a de eventos de condecoração de prêmios inúteis, que só servem para amaciar ego de CEO e gerar fotos bonitas para o endomarketing das Empresas. Já vai tarde...)

O único caminho é gastar tempo conhecendo quem são as pessoas por detrás das Empresas. Falar é fácil — até papagaio fala; as atitudes não mentem. É bunda na cadeira e sola de sapato entendendo como os tomadores de decisão finais pensam e revendo o que eles fizeram no verão passado, no retrasado e no anterior.

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Só que isso dá trabalho. E vivemos a era da análise derelease de resultados e dos gráficos de barras da Bloomberg. Pouca gente se dispõe ao serviço pesado.


Epílogo: a TOTVS (SA:TOTS3) entrou na briga pela Linx, com uma contra-oferta à proposta da Stone. Vai dar pano pra manga.

Últimos comentários

Ricardo, fui empregado graduado por 19 anos de uma enorme holding com açōes na B3 e no Exterior e durante esse periodo sempre participei como membro de conselho de administração ou fiscal de outras empresas coligadas. Sinceramente, nāo sei o que acrescentar no seu artigo. Parabens.
Muito bom! Você é o carAa, ricardo!
No fundo este é outro caso de falta de educação. Muito se fala, com acerto, na falta de educação financeira. Mas temos falta crônica de educação de participação consciente. Tal como consta do corpo do artigo, a participação em assembleia de condomínio já é mínima e risível. O mesmo ocorre em cooperativas de crédito, fundos imobiliários, SA etc. E a soma de toda falta de participação consciente é que emperra esse grande condomínio chamado Brasil e "coroa" titiricas e quejandos..
Muito bom! Dia 20/08 veremos como fica o caso da Smiles, controlada pela Gol...
show
Gostei! Falta transparência de um lado e conhecimento do outro.
Gostei! Falta transparência de um lado e conhecimento do outro.
Execelente comentario
Quem tem ouvidos para ouvir ouça. É uma parábola: pra quem acha que sabe, entende?
Excelente, Ricardo. Obrigado.
Discurso de político. Falou, falou, falou e não disse nada.
E DAÍ???
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