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Era esperado que o Federal Reserve mantivesse os juros. O que ninguém esperava, pelo menos não tão cedo, era o início de um racha interno: dois membros votaram por corte. Michelle Bowman e Christopher Waller, tradicionalmente alinhados ao núcleo mais ortodoxo do FOMC, optaram por desafiar a linha principal e pressionar por um alívio monetário. A ata divulgada nesta quarta-feira confirmou o que o mercado já intuía: o Fed está sob tensão, e não é só por causa da inflação.
Essa decisão expôs uma cisão inédita desde os anos 1990, sugerindo que a instituição mais poderosa da política monetária global já não fala com uma única voz. Essa divisão levanta uma pergunta central: quem realmente quer cortar os juros agora e por quê?
A economia está fragilizando, e o Fed sabe disso
A narrativa oficial da ata insiste que a inflação segue “persistente” e que a postura precisa continuar "restritiva". Mas entre as entrelinhas, os sinais de fragilidade econômica são evidentes. Os dados de emprego de julho vieram mais fracos que o esperado. A taxa de desemprego subiu para 4,2%, e os salários reais começaram a estagnar. O consumo, motor da economia americana, está desacelerando. E o setor imobiliário dá sinais de exaustão após dois anos de juros altos.
Para Bowman e Waller, manter a taxa básica no atual patamar por mais tempo pode custar caro demais em termos de emprego, crédito, confiança e crescimento. Eles vocalizam o receio que ganha corpo nos bastidores: estamos apertando demais os freios numa estrada já escorregadia.
Powell entre a prudência e a paralisia
Jerome Powell, presidente do Fed, enfrenta um dilema kafkiano: cortar agora e errar por frouxidão? Em suas falas mais recentes, Powell sinaliza “paciência”. Mas essa paciência, no contexto de uma economia cada vez mais assimétrica, com uma elite financeira ainda aquecida e uma base trabalhadora fragilizada, soa cada vez mais como paralisia disfarçada de técnica.
O jogo político está na mesa e o Fed não é neutro
A ata omite, como de costume, qualquer menção política. Mas é impossível ignorar o pano de fundo: O Fed está no centro do tabuleiro. Reduzir juros agora favorece os mercados, aumenta a popularidade do governo e pode ser visto como um gesto politizado. Powell, cuja independência institucional é constantemente atacada, sabe disso. E talvez por isso hesite.
Mas a neutralidade do Fed nunca foi absoluta. Como mostrou Joseph Stiglitz em “Globalization and Its Discontents”, decisões tecnocráticas quase sempre carregam consequências distributivas, políticas por definição. Manter juros altos beneficia os rentistas e penaliza os tomadores de crédito. É uma escolha, ainda que embalada em jargões técnicos.
O FOMC, que por anos funcionou como um coro bem ensaiado, hoje soa como um quarteto dissonante. Isso não é necessariamente ruim: reflete as tensões reais do mundo lá fora. Mas também exige dos mercados, dos analistas e do público uma nova forma de leitura, mais política, mais crítica, mais vigilante.
Se o corte vier em setembro, como ainda esperam 85% dos contratos futuros, ele não será apenas uma medida técnica. Será uma decisão institucional sobre o rumo do país.