Nas últimas semanas a contar da data da explosão da delação dos donos da JBS, temos visto o JBSS3 (SA:JBSS3) derreter consecutivamente em meio de uma leva de notícias negativas, dentre as quais envolvem os temas:
- Pagamento de propinas aqui no Brasil e também no exterior.
- Boicotes de empresas para operar com a JBS.
- Pedido de expulsão do mercado norte americano por sindicatos dos EUA
- Retaliação política através de bancos e instituições públicas.
- Sinalização de encerramento de linhas de crédito junto aos bancos privados com pedido de antecipação de dívida.
- CVM e sua investigação acerca do insider trading de venda de ações e compra de dólar pré delação (além de investigação no CADE)
- Venda acelerada de ativos para manter composição de caixa.
De fato não é de se surpreender que o ativo tenha saído de seu pico de seus R$ 16,50 e tenha regressado até R$ 6,80 (na cotação de ontem 13/06/17), uma expressiva queda de aproximadamente 60% em menos de 2 meses.
MAS OLHANDO APENAS GRAFICAMENTE (AFINAL É ESSE O NOME DO QUADRO), SERÁ QUE HÁ MOTIVOS PARA O DESESPERO?
Vamos dar uma olhada no ativo pegando como base a data de Out/2011, data esta que o ativo entrou em um canal de alta após atingir um dos menores valores já visto em sua cotação, quando chegou a valer seus R$ 3,20.
Durante aproximadamente 2 anos e meio o papel veio subindo respeitando fortemente o canal de alta, ou como nos ensinou Dow, a tendência primária do papel, a qual se fortaleceu no longo prazo.
A partir do segundo semestre de 2014 foi quando o ativo deu uma estilingada para cima e em menos de um ano o papel subiu incríveis 80%, alta essa dada em grande parte pela expansão internacional que a empresa vinha fazendo (sem contar o semi-monopólio que a empresa já tinha aqui no Brasil), bem como com os planos de transformar a empresa em uma holding internacional centralizada no exterior e com a administração da família Batista.
E é ai que eu gostaria de separar a história da JBS como se fosse em um livro de três capítulos, separando-os em Capítulo 1 – A recuperação, Capítulo 2 – A consolidação e Capítulo 3 – O otimismo exagerado (conforme imagem abaixo).
1) A recuperação: em meio a um cenário de crescimento da economia do país em 12/13 com seus respectivos 1,9% e 3,0%, todos os setores em suma foram beneficiados com uma economia mais robusta, a renda per capita em alta, o mercado de trabalho aquecido e o consumo dando suporte ao crescimento do faturamento das empresas.
Com a JBS não foi diferente. A empresa conseguiu surfar em um setor que era até então precário e, bem ou mal, com a ajuda do BNDES na construção dos campeões nacionais, a empresa conseguiu ser a pioneira no setor, o que a levaria ao segundo capítulo desta história.
2) A consolidação: com a ajuda de recursos públicos e , gostem ou não, com uma administração bem organizada, o plano da empresa foi de expansão/consolidação de mercado, sendo que a JBS assumiu a dianteira no setor de carnes brasileiro e se tornou uma empresa reconhecida no mercado nacional, detentora de marcas que estavam nos lares das famílias por aqui.
O período de consolidação foi o período onde a JBS se tornou uma empresa sólida e com forças para iniciar uma expansão no exterior, o que seria o próximo passo para leva-la ao patamar internacional e transformar a companhia em um player mundial de grande porte e símbolo das novas empresas brasileiras (tais como a Ambev (SA:ABEV3) se tornou um símbolo) partindo de um faturamento de pouco mais de 50bi para 150bi.
E foi ai que surgiu a terceira fase dessa história.
3) O otimismo exagerado: a regra é clara, um corpo em movimento tende a permanecer em movimento a não ser que haja forças contrárias. E essas forças existiam.
Salvo a constante alta do valor das ações, os demais índices grafistas gritavam que estava na hora de corrigir o papel e que essa correção estava chegando cada vez mais próxima. O IRF já havia tocado algumas vezes a linha dos 70 mil pontos e quando essa acima dos 80 mil ela ativou outros sinais dos demais índices.
Foi o que houve com a MACD que cruzou no dia 14/Abr/15 a linha de Sinal para baixo e puxou com vontade a força compradora para baixo, saindo do patamar dos 0,8200 até parar nos desastrosos -0,4400 três meses depois. Além disso, o histograma da força vendedora ficou durante todo esse tempo na zona abaixo dos 0,00 pressionando ainda mais o papel.
O papel saiu então do seu pico dos 16,50 e desceu até os 8,50 para entrar novamente na zona de consolidação, uma área onde a empresa refletia na bolsa mais ou menos aquilo que ela era no mundo real, uma boa empresa do setor de carnes, bem administrada operacionalmente e lucrativa, porém sendo guiada novamente (como mandam os fundamentos) pelos seus resultados trimestrais e uma notícia boa aqui e acolá.
2016 – UMA ODISSEIA NA LAVA JATO.
Durante 2016 a empresa teve seus altos e baixos em linha com o mercado. Segue o jogo!
Mas foi quando começaram o desenrolar da Lava Jato afetando cada vez mais políticos próximos da empresa e, não somente isso, com a PF entrando cada vez mais fundo na relação incestuosa entre setor privado e setor público.
O BNDES se tornou um alvo e as empresas que ali bebiam do seu néctar dos juros subsidiados estavam à mira de Moro e sua equipe.
Por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Foi essa a sensação que o mercado teve enquanto tudo “corria bem” durante 2016 e começo de 2017, parecendo que a JBS não estava sendo investigada ou que o lamaçal político mal iria respingar na empresa.
Mas foi no dia 18/Mai/17 que tudo mudou. O empresário Joesley Batista havia na “calada da noite” gravado diversas conversas importantes com políticos de peso e teria entregue tudo para a PF em troca de sua (estranhamente beneficiada) liberdade.
O papel despencou, tocou os 6,00 e parecia que ia descer até seus centavos. Temerosos foram os dias seguintes ao anúncio onde investidores corriam em círculos sem saber o que fazer e trombavam no escuro sem ter um direcionamento do que fazer com o tal papel amaldiçoado.
Desde então, passado quase um mês da bomba atômica sobre os mercados brasileiros, a JBSS3 vem acumulando perdas de mais de 20% com indefinição por parte dos analistas se vem mais chumbo grosso por ai ou se o atual patamar é um bom ponto de entrada para uma retomada do papel.
O QUE NOS DIZ DOW E SUA TEORIA?
A famosa frase do Barão de Rothschild diz “compre quando há sangues nas ruas, mesmo que o sangue seja seu”. Mas será que isso se aplica à JBS?
Felizmente o mercado gira em ciclos e estes ciclos podem ser estudados pela análise grafista. Se voltarmos à análise da imagem 1, veremos que após a correção de expectativas da euforia vivida no “Capítulo 3 - O otimisto”, a ação voltou ao seu canal primário da tendência de Dow, obedecendo a regra.
Ainda na teoria, sabemos que ao longo de toda a tendência primária teremos alguns movimentos secundários e terciários de correção e regressão à média (canal principal) o que o próprio gráfico mostra não me deixando mentir.
Pensando que após as delações o ativo entrou em uma nova tendência secundária e levando em conta que a teoria nos diz que o papel pode corrigir de 1 /3 a 2/3 do movimento original, temos que o papel tem respeitado o patamar dos 3/3 pensando que o “1/3” seria a continuidade do canal de alta.
O papel por enquanto criou um suporte no “3/3” o que no curto prazo nos dá uma base para trades entre 6,80 e 7,50 aproximadamente onde acredito que o papel ficará “sambando” por mais alguns dias. No médio prazo, salvo uma nova enxurrada de notícias negativas, caso a empresa consiga controlar o fogo que a cerca e a administração consiga se desfazer de ativos que possuem pouca representatividade no core business da JBS, preservando assim o caixa da companhia, a ação tem potencial para buscar a casa acima dos 8,00 (área verde).
DISCLAIMER: ISTO É APENAS UM COMENTÁRIO SOBRE ANÁLISE TÉCNICA E NÃO CONSTITUI NENHUMA ESPÉCIE DE ACONSELHAMENTO FINANCEIRO.