A decisão do Ibope de não divulgar a mais recente pesquisa de intenção de voto, em meio às dúvidas sobre o nome do ex-presidente Lula como candidato, mostra o quão nebuloso está o cenário eleitoral de outubro. E essa incerteza tende a manter a postura defensiva entre os investidores, em meio a um ambiente externo cada vez mais hostil aos países emergentes, com o contágio nas moedas chegando às bolsas de valores.
Em nota publicada ontem à noite, o instituto afirmou que não liberou a sondagem contratada pela TV Globo e o jornal Estadão por aguardar uma definição da Justiça Eleitoral em relação à inclusão do líder petista na pesquisa. O Ibope pede a autorização para liberar os números apenas do cenário alternativo, com o nome de Fernando Haddad entre os candidatos.
Assim que houver uma posição sobre o assunto, o Ibope vai informar se irá liberar ou não os resultados. Mas os recursos judiciais e as manobras jurídicas tendem a manter a situação delicada. Ainda mais após a decisão da defesa de Lula de recorrer à Suprema Corte para permitir a participação dele na eleição, suspendendo os efeitos da condenação do TSE.
Há quem diga, então, que o ex-presidente está tumultuando o pleito. O mercado financeiro brasileiro aguardava com ansiedade os números do Ibope, já que seria a primeira pesquisa eleitoral feita por um instituto tradicional e que capta o início da propaganda eleitoral em rádio e TV e as entrevistas dos candidatos no Jornal Nacional.
As apostas dos investidores é de que Lula é um cabo eleitoral mais fraco, o que pode reduzir o potencial de transferência de votos para o ainda vice na chapa do PT. Daí, então, a expectativa para que os próximos levantamentos confirmem tal sentimento. Na quinta-feira, espera-se que Datafolha anuncie seus números sobre a corrida presidencial.
O levantamento feito pela empresa do jornal Folha de S.Paulo começou ontem e vai até amanhã, também captando o mais recente momento da campanha presidencial e trazendo Haddad como opção. A expectativa é de que a nova pesquisa seja conhecida apenas à noite, após o fechamento do mercado local, que não abrirá na sexta-feira para reagir aos números.
Aliás, o feriado nacional também impedirá uma reação aos dados de emprego nos Estados Unidos em agosto. O chamado payroll tende a pavimentar o caminho para uma terceira alta na taxa de juros norte-americana neste ano, no fim deste mês. É bom lembrar, o processo de normalização monetária pelo Federal Reserve tem elevado a pressão nos países emergentes.
O principal receio agora é de que a forte onda vendedora (selloff) nas moedas de economias em desenvolvimento - como o peso argentino, a lira turca e o rand sul-africano - se espalhe para outras classes de ativos. O próximo alvo seria as bolsas de valores, prejudicando o desempenho das ações de empresas listadas.
Tal movimento é esperado não apenas por um contágio entre os países emergentes, mas também por causa de uma forte realização de lucros prevista para Wall Street, que encerrou as férias de verão em níveis recordes de alta, apesar do ciclo de aumento dos juros nos Estados Unidos. A tendência negativa, portanto, pode estar apenas começando.
A Bovespa e o real brasileiro também devem estar na mira, com as incertezas eleitorais contribuindo para novos ataques especulativos. O maior temor dos investidores é de que sejam eleitos candidatos que não continuem com a política de reformas estruturais, de modo a solucionar a questão fiscal), seja por questões ideológicas ou por falta de apoio do Congresso.
Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York exibem quedas aceleradas, ao redor de 0,5%, o que contamina o pregão na Europa, após uma sessão de duras perdas na Ásia. O índice MSCI de mercados emergentes (NYSE:EEM) na região caía forte, pressionado pelos recuos acentuadas nas bolsas de Jacarta e de Manila.
Entre as moedas, a rupia indonésia mostra-se como uma das mais vulneráveis, no momento, em meio às necessidades de financiamento externo do país. Assim, a Indonésia pode ser a próxima a entrar na lista de países emergentes fragilizados e que precisam de medidas agressivas de ajuste econômico, juntando-se à Turquia, Argentina e África do Sul.
Na China, a guerra comercial continua pesando nas bolsas de Hong Kong (-2,6%) e de Xangai (-1,7%), em meio aos receios do impacto das restrições ao livre comércio na atividade, após um indicador privado mostrar desaceleração no setor de serviços, contrariando os números oficiais.
O índice dos gerentes de compras (PMI) na China calculado pelo Caixin e a Markit caiu a 51,5 em agosto, de 52,8 em julho, alcançando o menor nível em dez meses. A abertura do dado sugere que a demanda por serviços permaneceu lenta no mês passado, indicando que a política de crédito mais flexível do governo de Pequim ainda não trouxe resultado.
Novos dados de atividade no setor de serviços serão conhecidos logo cedo, desta vez, na zona do euro. Ao longo do dia, a agenda econômica está esvaziada, trazendo os dados sobre a entrada e saída de dólares do Brasil em agosto (12h30) e os números da balança comercial norte-americana em julho (9h30).