A política restritiva do Banco Central, que tem mantido elevada a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano por oito reuniões consecutivas, desde agosto do ano passado, recebeu a resposta da economia. Hoje observamos a queda dos índices de inflação. O IPCA apresentou deflação de 0,08% em junho e o IGP-M foi negativo em 1,93% no mesmo mês. Olhando para o comportamento dos preços, não fica difícil defender que a queda dos juros é iminente. Talvez o corte já ocorra na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), mas, se não, com certeza deve ocorrer na seguinte.
No entanto, é preciso ponderar que a convergência da inflação para a meta vem acompanhada de uma desaceleração forte da economia, quando falamos de varejo e indústria. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,9% nos primeiros três meses de 2023 em relação ao trimestre anterior, puxado pela agropecuária que registrou incremento de 21,6% no mesmo período de comparação. Se olharmos para os outros dois setores, fica claro o impacto dos juros altos: serviços ficou praticamente estável, leve alta de 0,6% e a Indústria ficou em -0,1%. Hoje temos o crescimento de apenas um setor da economia, enquanto todos os outros já estão deflacionados ou deflacionando.
Dito isso, não há dúvidas de que a queda da taxa de juros vai ocorrer em breve, mas também é fato que a Selic sobe de elevador e desce de escada. Saímos rapidamente de um percentual de 2% em janeiro de 2021 para 9,25% em dezembro do mesmo ano. Em agosto de 2022, a Selic chegou a 13,75% a.a. e se mantém neste patamar até hoje. Agora, o movimento contrário é bem mais lento. Veremos corte de 0,25 p.p, depois de 0,5 p.p e assim por diante. O impacto destas reduções no mercado também será muito pequeno.
Se analisarmos como a bolsa reage ao {{1117828|Tesouro Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais Vencimento em 15/08/2060Vencimento em 15/05/2035}} (Nota do Tesouro Nacional tipo B com rendimento atrelado ao IPCA mais uma taxa de juro prefixada), que consiste na taxa de juros mais longa, vamos verificar uma correlação de um para um, ou seja, algo bem mais real do que acompanhar a Selic versus Ibovespa. Assim, é possível perceber que a deflexão de juros futuros que aconteceu no NTN-B2035 está diretamente relacionada ao movimento de recuperação das ações, quando o Ibov saiu dos cerca de 98 mil pontos em março para os 120 mil pontos alcançados em junho.
A pergunta que fica é: o que vai acontecer daqui para frente? Continuamos com muita empresa barata, porém a taxa de juros já está precificada. Portanto, a expectativa não é de um segundo semestre de comemorações, em que a bolsa suba mais 20% ou 30% chegando a 150 mil pontos. Não acredito neste otimismo.
A recomendação para este cenário é cautela. Desta forma, o investidor deve manter uma parcela significativa do seu patrimônio em investimentos que ofereçam liquidez e baixo risco para aproveitar momentos pontuais de entrada no mercado acionário e se beneficiar da alta. Os fundos caixa, ou cash, são uma ótima saída para momentos como este por não travarem os investidores em um prazo determinado nem incorrerem em risco de crédito privado que uma economia em desaceleração apresenta, caso do Brasil atual.