- Custos maiores com combustíveis ameaçam esforços das companhias aéreas de voltar a ter lucro.
- Várias companhias decidiram enfrentar esse desafio cortando sua capacidade de assentos e elevando os preços das passagens.
- As ações do setor aéreo, em nossa visão, não oferecem qualquer atrativo diante da incerteza do atual ambiente macro.
As companhias aéreas começam a divulgar seus balanços nesta semana nos EUA, e o que os investidores querem saber é se o aumento da demanda por viagens de lazer no pós-pandemia está sendo suficiente para melhorar seus resultados.
Justamente no momento em que as viagens aéreas começavam a ganhar força, após a rápida disseminação da variante ômicron, a alta dos combustíveis e os riscos de recessão reduzem as perspectivas de crescimento do setor.
Nos últimos três meses, o fundo U.S. Global Jets (NYSE:JETS) se desvalorizou quase 7%, devolvendo os ganhos obtidos no início do ano. Suas cotas fecharam o pregão de segunda-feira a US$20,39.
Em meio às crescentes restrições globais de energia causadas pela invasão da Rússia na Ucrânia, as companhias aéreas já projetam que o custo do combustível de aviação será de 2,80 a 3 dólares por galão neste trimestre, uma alta em relação à estimativa anterior de cerca de US$2,50. O combustível de aviação responde por 20% a 25% das despesas operacionais das companhias aéreas por ano.
Esses números podem acabar prejudicando os esforços de muitas empresas do setor nos EUA de voltar a registrar lucro e se recuperar do colapso das viagens durante a pandemia do coronavírus.
Mas algumas linhas aéreas permanecem otimistas. Sua arma no curto prazo é cortar a capacidade de assentos, aumentando, assim, os preços das passagens.
Várias companhias aéreas de grande porte, como United Airlines (NASDAQ:UAL) (SA:U1AL34) e American Airlines (NASDAQ:AAL) (SA:AALL34), cortaram suas previsões de capacidade de assentos para o primeiro trimestre, enquanto a Delta Airlines (NYSE:DAL) (SA:DEAI34) manteve o crescimento na extremidade inferior da faixa anterior, de acordo com documentos regulatórios. Essas companhias aéreas também elevaram suas expectativas de receitas, citando a disparada na demanda por viagens com a redução das infecções por coronavírus.
Embora as companhias aéreas possam elevar as tarifas reduzindo o número de assentos disponíveis, precisam agir com bastante cautela, na medida em que os consumidores enfrentam cada vez mais pressão da inflação, que está em seu maior nível dos últimos 40 anos nos EUA.
A MKM Partners, em relatório recente, disse o seguinte:
“Nossa expectativa é que as companhias aéreas não reduzam a capacidade significativamente e realizem apenas ajustes, e não cortes, o que significa que é pouco provável que consigam superar os preços maiores dos combustíveis com o preço das passagens.”
Cenário mais amplo
As encorajadoras tendências no tráfego aéreo não escondem o fato de que as companhias do setor têm se revelado um mau investimento há muitos anos. O ETF JETS, por exemplo, perdeu mais de um quarto do seu valor nos últimos cinco anos, enquanto o S&P 500 praticamente dobrou de valor.
Além disso, ainda que o tráfego de lazer continue se recuperando, é bem pequena a chance de que o segmento de viagens comerciais – o mais rentável para as companhias – retorne aos níveis pré-Covid em breve.
Analistas não estão animados com as ações das aéreas. O Bank of America (NYSE:BAC) disse que a demanda por viagens deve superar a oferta, principalmente durante períodos de pico de lazer. Mesmo assim, não criará poder de precificação suficiente para que as companhias compensem os custos maiores com combustível.
Delta deve divulgar prejuízo
Começando a temporada de balanços do setor na quarta-feira, a Delta Airlines deve registrar um prejuízo por ação de US$1,33, cerca de metade do apurado no mesmo período do ano passado. As vendas devem saltar para US$8,74 bilhões, mais do que o dobro se comparadas com o mesmo período de 2021. A ação fechou o pregão de segunda-feira cotada a US$38,21.
De acordo com as previsões consensuais dos analistas, a American Airlines, que divulga seu balanço na quinta-feira, 21 de abril, também pode apresentar uma redução do prejuízo por ação para US$2,44, com as vendas saltando para US$8,63 bilhões. A AAL fechou o pregão de segunda-feira a US$16,97.
Conclusão
A próxima fase de crescimento das companhias aéreas dependerá das viagens comerciais e ainda carrega muitas incertezas, como conflitos geopolíticos e riscos ao crescimento global em meio a juros maiores. Além disso, as empresas não devem retomar as viagens de colaboradores diante da disparada da inflação, pois isso está obrigando os gerentes a cortarem custos.