Nesta semana, os EUA publicaram os dados de inflação de março. O resultado foi uma alta de 1,2 por cento, acumulando uma inflação de 8,5 por cento em doze meses.
É a inflação mais alta dos últimos 40 anos, alterando completamente a forma que o americano estava pensando a respeito da dinâmica dos preços.
Os dados têm gerado polêmica entre os economistas. Alguns acreditam que o efeito é temporário e não demanda uma resposta austera do Banco Central, já outros acreditam que é uma fantasia achar que a inflação será dominada sem uma alta consistente das taxas de juros.
James Bullard, um dos diretores do Fed, fez um artigo no Financial Times esta semana dizendo que a única forma de brecar o avanço dos preços é por meio do desaquecimento da demanda e da redução da atividade. E isso requer uma pronta resposta do Fed.
“Chegar à taxa de juro neutra não vai ser suficiente.” – diz ele.
A inflação não é um problema apenas americano. Países ao redor do globo estão sentindo o peso do aumento generalizado nos preços.
A tabela a seguir mostra como os números preocupam, até mesmo em países desenvolvidos que não tiveram pressões inflacionárias há décadas, como Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos.
O resultado de uma inflação tão alta dessa forma, com um juro mundial ainda muito próximo a zero, é um rendimento real negativo para os investimentos em renda fixa.
Nesta outra tabela, podemos ver como o Brasil é um dos únicos países do mundo a oferecer juros de curto prazo acima da inflação:
Não por outro motivo, nossa moeda se valorizou muito nos últimos meses. A escalada nos preços fez com que países emergentes que pagavam boas taxas, como África do Sul, passassem a ter juros reais negativos. O Brasil se tornou “muito bonito” aos olhos dos investidores.
Mas é importante você, leitor, saber que as coisas não vão permanecer assim por muito tempo.
A escalada da inflação provoca consequências terríveis para a economia, gerando uma necessidade enorme de combate.
No gráfico a seguir, podemos ver o efeito da escalada dos preços nos salários dos americanos.
Embora durante a pandemia os salários reais tenham crescido bastante, recentemente, os americanos estão se sentindo mais “pobres” por conta do efeito da inflação. Isso faz com que a população pressione o governo e as empresas pelo controle da inflação e pela reposição dos salários perdidos.
Caso o controle da inflação seja negligenciado, sobra apenas a reposição dos salários, o que aumentará ainda mais a espiral inflacionária, tornando a escalada dos preços ainda maior, aumentando também a pressão em cima dos governantes.
Ou seja, entraremos em uma tendência global de aumento das taxas de juros ao longo dos próximos meses.
Enquanto isso vai acontecer no resto do mundo, nós, brasileiros, que já fizemos praticamente todo o trabalho sujo de subir a Selic, vamos ficar mais paradinhos por aqui.
A pressão do diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo vai se arrefecer, podendo inclusive se reverter, jogando nossa moeda novamente para patamares de 5 a 5,5 reais por dólar.
Além disso, épocas de aumento de juros global tendem a desaquecer as economias, reduzindo também a demanda por commodities.
Toda essa valorização forte que tivemos dos preços desses ativos, principalmente após a guerra da Rússia, pode descomprimir. Se pensarmos que nós somos também um dos maiores produtores de commodities do globo, é de se esperar que não seremos os grandes beneficiados deste novo cenário.
Mas quem serão os grandes beneficiários?
Na minha visão, esta é a hora de aproveitar a promoção do dólar para mandar um pouco de dinheiro lá para fora.
Com investimentos fora do Brasil, podemos tanto ficar vendidos em juros americanos, nos protegendo deste cenário de aumento global das taxas, quanto podemos escolher empresas fora do Brasil, não ligadas à atividade.
Cuidado com a inflação, leitores. Ela vai mudar totalmente a forma de se investir pelos próximos 2 anos!