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Já Se Fala em "Banda Cambial". Funcionaria?

Publicado 07.10.2015, 00:42
Atualizado 09.07.2023, 07:32

No dia 03 de outubro, sábado último, o Jornal "O Estado de São Paulo" publicou a entrevista da economista Monica de Bolle na qual ela expõe sua proposta de impor uma "banda cambial flutuante" no lugar do atual "câmbio flutuante", dado o cenário e dinâmica atuais.

Ela argumenta que a inflação poderia ir rapidamente para a faixa de 20% na atual conjuntura econômica, já que os juros altos, sem a contrapartida de uma equação fiscal minimamente ajustada teriam efeito nulo no combate à inflação.

Destaco 4 trechos (Jornal "O Estado de São Paulo", 03-10-2015):

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Como é a proposta para o câmbio?

É banda cambial flutuante ou variável. Você tem um teto e um piso e embute uma desvalorização para o piso e para o teto da banda todo mês. Então, se ela é de R$ 3,88 a R$ 4,12, com o centro sendo R$ 4,00, se embutir uma desvalorização de 2% a 3%, ela vai (no mês seguinte) de R$ 3,95 para R$ 4,20, por exemplo. Você deixa que o câmbio se desvalorize, mas ele vai se desvalorizar de forma “controlada” e, desse modo, você “ancora” os preços.

Por que, para resolver isso, é melhor mudar o câmbio?

A lógica do regime de metas de inflação é que a “âncora” nominal da economia, ou seja, aquilo que referencia os preços, é a própria inflação, porque o BC tem um compromisso de sempre elevar os juros mais do que a variação das expectativas da inflação. Só que, quando você perde a capacidade de fazer isso com os juros, perde a âncora nominal, a base de referência dos preços. Se ficar só nisso e não fizer nada para ancorar os preços, os preços relativos da economia desancoram muito rapidamente. Foi o que aconteceu nos anos 1980. Claro, numa magnitude muito maior, mas, nos anos 80, a gente sofria exatamente desse problema. A gente tinha dominância fiscal recorrente. Aí a economia indexou inteira e os preços relativos todos saíram do lugar e a gente ficou com aquele processo inflacionário horroroso. O ponto de partida hoje é diferente, mas a natureza do problema é igual. A âncora nominal, depois das besteiras que foram feitas nos anos 80, com os planos de congelamento de preços, foi o câmbio.

Foi a âncora do Plano Real?

Exatamente. O Plano Real, no início, foi uma “reancoragem” de preços relativos com uma âncora chamada taxa de câmbio. A partir daí, a gente convergiu para o regime de metas da inflação. Então, a minha proposta é voltar à estaca zero agora, porque voltou para a dominância fiscal. E aí precisa voltar à estaca zero e restabelecer o câmbio como âncora nominal. No momento em que fizer isso, ganha-se um pouco de tempo. Com a amplitude de reservas que a gente tem, temos mais tempo para resolver o lado fiscal. Uma vez resolvido o lado fiscal, voltamos para o regime de metas de inflação.

O que pode acontecer se o governo insistir no sistema de metas sem o ajuste fiscal?

A inflação desancora, com intensidade menor no início, mas começa a ter espiral inflacionária no País, o processo de indexação se reinstaura por completo na economia, a inércia volta e você começa a ter inflação entranhada. O câmbio reage, vai desvalorizar, vai realimentar a inflação e, desde que a inflação esteja sempre correndo na frente do resto, ela vai embora, vai para dois dígitos rápido, mesmo com recessão. A gente viu isso nos anos 1980."

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Polêmica proposta ? Certamente.

Considero Mônica de Bolle uma das mais brilhantes economistas da "nova safra"; Mônica de Bolle conseguiu, dentro de um universo econômico contaminado pelo "nunca antes na história desse país", nos brindar com textos e visões singulares, agudos, irônicos e extremamente inteligentes. Num de seus mais brilhantes insights, reproduzido no meu blog, de Bolle previu que o Brasil perderia o "grau de investimento" num texto do ano de 2012, 3 anos atrás.

Mônica de Bolle apresenta um perfil e uma trajetória que acabam por se confundir com aqueles que criaram o Plano Real.

Por que? Porque Mônica de Bolle deu aulas na PUC-RJ, fez e faz pesquisas no âmbito da Casa das Garças, Instituto de Estudos de Política Econômica situada no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, e que mantém uma ligação quase "umbilical" com a própria PUC-RJ, ambos os centros absorvedores e irradiadores de pesquisas e pensamentos de economistas que criaram, elaboraram e participaram do Plano Real.

Hoje no Peterson Institute for International Economics, um dos maiores centros de Pesquisa Econômica do mundo, Mônica de Bolle, também com passagem pelo FMI, não precisa provar mais nada a ninguém.

O que passamos a discutir, portanto, é sua proposta, no mínimo, polêmica.

Funcionaria ? Funcionaria estabelecer uma banda no câmbio, desvalorizando-o aos poucos, de modo que pudéssemos "ancorar" os preços no câmbio para que não corrêssemos o risco de uma disparada da inflação para um patamar de 20%?

De imediato, é preciso que o leitor saiba que a história de uma "banda cambial" não é nova.

O Brasil viveu, de fato, um "clássico" período de "banda cambial" ao longo de apenas 3 dias no início de 1999.

Entre os dias 13 de janeiro de 1999 e 15 de janeiro de 1999 o Brasil conviveu com uma "banda cambial". Esse período de 3 dias representou um dos períodos mais turbulentos do Plano Real.

As moedas dos países emergentes já vinham sob pressão nos 4-5 anos anteriores ao largo de várias crises, como a do México em 1994, a da Ásia em 1997 e o default da Rússia em 1998. Os efeitos dessas crises sobre as Reservas Internacionais Brasileiras foram significativos, até porque não dispúnhamos do mesmo tamanho de Reservas da atualidade, dada a Bolha de Commodities de 2004-2011 que as levou para o patamar de US$ 370 bi.

O fatídico ano de 1999 começou mal para o segundo Governo de Fernando Henrique Cardoso; o nervosismo dos mercados mundiais, após o default da Rússia, não arrefecera, e, pra piorar, houve o default da dívida de uma estatal do estado de Minas Gerais, estado governado pelo ex-Presidente Itamar Franco.

Fernando Henrique Cardoso também acabara de demitir Gustavo Franco da Presidência do Banco Central, já preparando o caminho para uma liberação mais agressiva do câmbio. No entanto, a maneira como tal liberação foi "testada", ou colocada na prática, nesse início do ano de 1999, veio a se revelar um desastre.

No dia 13 de janeiro de 1999, Chico Lopes, um excelente professor da PUC-RJ e com PHD em Harvard, já empossado como Presidente do Banco Central do Brasil, vem a público e comunica ao mercado que o câmbio deixaria de ser um "câmbio controlado" (na prática ele sofreu minidesvalorizações ao longo de todo o início do Plano Real) e passaria a ter uma "banda diagonal endógena" com um piso de R$ 1,20 e um teto de R$ 1,32; ou seja, o governo atuaria pra que o dólar se situasse nessa faixa...1,20 pra baixo e 1,32 pra cima...

Deu certo? Bem...

Posso traduzir a cena da seguinte forma...

Quando Chico Lopes parou de falar na coletiva, as mesas de câmbio foram inundadas por ordens de compra.

O dólar já era negociado no teto da banda segundos após a sua fala.Era óbvio que aquilo não iria durar muito...e olha que estamos falando de período "Fernando Henrique Cardoso".

Pra começar, o mercado não entendeu absolutamente nada da tal "banda diagonal endógena" de Chico Lopes....pra terminar...o mercado já vinha nervoso, e um sinal de um piso e um teto não significava muita coisa...ora...tem teto?

Então vamos pro teto, "pensava" o mercado.

Mas, vejam como a pressão era enorme...

A banda era apenas uma sinalização do BC...

Vejam o comunicado oficial emitido pelo BC àquela época, dia 13-01-1999.

Nos dias 13 e 14, o mercado operou no teto da banda. Os fechamentos oficiais listados abaixo mostram isso...

No dia 15-01-1999, o Banco Central simplesmente desiste de defender a banda e deixa o mercado "operar"

Fechamento do dia 15-01-1999? Vejam 1,46...na página do próprio BC.

Na segunda-feira seguinte, dia 18-01-1999, oficialmente o governo e o Banco Central desistem da "banda cambial", deixam o câmbio flutuar e marcam definitivamente o dia em que o Brasil passa a ter o regime de câmbio flutuante.

Vejam aqui o Comunicado 6565 do Banco Central.

Bem...acima, toda a cronologia que nos remeteu para o período em que o Brasil teve oficialmente uma "banda cambial".

Oficialmente, por 3 dias...no entanto, na prática, já no terceiro dia o BC desistiu de defender a banda...isto é, na prática, durou 2 dias...

Pode voltar a dar certo sob as circustâncias atuais colocadas e defendidas pela economista Monica de Bolle?

Tenho seríssimas dúvidas...

E é nesse ponto que os remeto para a seguinte questão.

Ora...o que estamos afinal discutindo é inflação!

Nossa atual agenda de discussão começa a se voltar para a mesma agenda dos anos 80 e parte dos anos 90...inflação ou "descontrole da inflação".

Mônica de Bolle está preocupada que a inflação não vá para o patamar de 20%, 30%, ou não vá para um patamar em que ela passe a se estabilizar de forma "crônica" e "alta".

E eu pergunto: Funcionaria a banda cambial para trazer a inflação de volta pra 3%, 4%?

Ora...depende do diagnóstico da inflação...ou seja...a mesma discussão dos anos 80...

Não quero ampliar muita a discussão, mas fica claro que a carga de indexação da economia é ainda alto...e isso era um dos componentes da hiperinflação brasileira dos anos 80...

Mas vou mais longe....a inércia discutida lá nos anos 80 está de volta...

Não acho que uma banda cambial vá resolver...

Quando passamos dos 5% de inflação, atravessamos a "linha tênue da inércia".

A banda cambial não resolve...se não resolveu com um governo "Fernando Henrique", não resolve para o atual governo.

A inércia inflacionária já se enraizou na economia atual...

Os agentes econômicos já incorporam uma "inércia inflacionária".

A "banda cambial" talvez traga mais um ruído desnecessário no curto-médio prazo.

Deixa eu fechar meu raciocínio. No mesmo argumento, a economista Monica de Bolle insere e alerta que os juros já seriam incapazes de fazer efeito na atual trajetória fiscal.

O que eu acho?

Continua o movimento de alta nos juros, mesmo num contexto recessivo, dentro da atual equação fiscal.

Estica a corda... "vence o agente econômico" pelo "cansaço"...

"Quebra" "quem tem que quebrar"...leva a economia para o mais absoluto "limbo", com uma queda do ritmo econômico jamais vista.

"Em algum momento", o agente econômico "para de aumentar os preços" por "absoluto cansaço"...e a inércia inflacionária é contida...

A equação fiscal tem de "andar junto", ainda que devagar. Exemplo? Congelam-se os salários dos servidores públicos. Isso, aliado ao forte aumento de desemprego, joga mais lenha na fogueira na queda do ritmo econômico.

Os "agentes econômicos" sentem...e sentem...e sentem...o movimento se auto-alimenta jogando a economia cada vez mais na depressão.

Os preços reagirão pra baixo na "base da marra", com a economia numa profunda depressão...

A sociedade tem de aprender...nesse caso, aprende "na marra"...

Foi a própria sociedade que decidiu lá atrás por um modelo populista e gastador...

É hora dela entender que isso cobra um preço....e o preço é esse a pagar... o preço de uma profunda depressão econômica sem ajustes de "bandas cambiais".

Se tivéssemos o cenário onde a oposição fosse "um novo governo", talvez essa discussão ganhasse mais algumas considerações. Independente disso, as opções começam a estreitar.

O que não estreita é a proximidade com os anos 80...

Estamos com uma agenda dos anos 80...e na liderança...como controlar uma inflação "já em descontrole"?

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