Conforme esperado, o Federal Reserve preferiu não aumentar o juro básico americano na última quarta-feira.
O mercado chama isso de "pausa".
Uma pausa para refletir e avaliar, com calma, mediante novos dados, se realmente é o caso de continuar o aperto monetário ou não.
Parece sensato.
Porém, tomando por base que não sabemos efetivamente se o Fed vai voltar a apertar os juros em seu próximo encontro, no 26 de julho, podemos realmente chamar isso de pausa?
Essas são as armadilhas de linguagem que me interessam.
Passei boa parte do meu dia em standby, pensando só nisso, se o ato de pausar pressupõe necessariamente a continuidade subsequente.
Bem, se não fosse assim, o que justificaria a existência do botão de pausa? Não seria mais prático simplesmente apertar o stop?
Para minha surpresa, entretanto, as definições vernaculares mais tradicionais evitam qualquer compromisso com o depois.
Elas dão conta do tornar lento, vagaroso, demorado. Sugerem até mesmo descansar. Mas nada versam sobre o imperativo do eterno retorno.
Confesso que fiquei aliviado, eu que sou um péssimo pausador.
Invariavelmente, aqueles projetos que, por algum motivo, decidi pausar nunca mais foram retomados; estão todos armazenados no mesmo lugar para onde vão os guarda-chuvas e os isqueiros.
Livros pela metade, podcasts abandonados, diplomas que eu nunca terei e que prefiro pensar que não me fazem falta.
Felizmente, ao contrário de mim, o mercado é um exímio pausador, e assim pode esperar do Fed o mesmo tipo de atitude.
Os canais de alta do mercado são repletos de pausas, marcados tecnicamente por topos e fundos ascendentes, e não apenas por topos ascendentes (o pregão de ontem é exemplo potencial).
A ideia é que, se fizermos uma pausa para respirar, podemos recobrar o fôlego e voltar mais fortes.
Ou podemos voltar mais fracos.
Ou podemos, inclusive, mudar de ideia, e não voltar.
Mas do que eu estava falando mesmo?
Bem, vou aproveitar para pegar um café e depois resgato o raciocínio.