Nos manuais acadêmicos de Ciência Política definimos "populismo" da seguinte forma.
“É o sistema de poder que apregoa a "simpatia pelo povo"; é a doutrina ou prática política, que procura ganhar vantagens com o apelo à reivindicações ou preconceitos, amplamente disseminados entre a população, geralmente fazendo a distinção entre dois grupos antagônicos: um, virtuoso e majoritário – o povo – que exalta e diz defender; outro, minoritário e apontado como fonte dos problemas gerais, que pretende combater; doutrina ou regime, geralmente, de caráter "paternalista", assentado na ideia de que a liderança política deve ser exercida em estreita ligação com o povo, sem a intermediação de partidos; corrente artística que escolhe como temática os costumes ou o modo de vida popular”.
Incrível como esta simbiose perversa do "populismo", entre governante e povo, se instalou de vez no Brasil e não parece ter hora para sair.
A disputa da eleição de 2022 bem representa isso, nos coloca nesta "vala comum".
Dois candidatos populistas, que pouco pretendem alterar a estrutura sócioeconômica do Brasil, mas sim conquistar o poder e dele viver, dando "agrados" aos mais pobres, para assim se perpetuar por muitos anos.
De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, e o seu "lulo-petismo", fenômeno político que se manteve por 15 anos no Palácio do Planalto e pouco alterou a estrutura sócio econômica do País. Continuamos um país com gritantes desigualdades de renda, poucos avanços institucionais, um sistema de poder que foi se tornando cada vez mais corrompido e corruptor. Se manteve através do clientelismo, de um sistema de peleguismo e "intenso patrulhamento ideológico".
Do outro, um “capitão insubordinável”, expulso do Exército no passado, que conseguiu ser eleito por fatores fortuitos (uma "facada"), mas, também, por se opor ao sistema de poder anterior. Sua grande bandeira de luta foi o "anti-petismo". Foi isso que o elegeu, agora será o anti-bolsonarismo a lhe ameaçar o poder.
Dois populistas demagogos e pouco preocupados em mudar a fundo a sociedade brasileira.
Projetos de poder, o “poder pelo porder”, não caracterizados por programas de governo consistentes e transformadores. O que lhes permeia é a conquista do poder.
Não dá para comparar.
Lula e Bolsonaro são a antítese um pelo outro. Um defende uma certa frouxidão moral, outro é mais rigoroso, mas aceita outras leniências. Ideologicamante, parece um ser o contrário do outro. No entanto, são personagens da mesma estirpe, mesmo pedigree. São POPULISTAS com sede ou tara pelo poder.
Perderemos mais uma década deste populismo rastaquera e vamos ficando para trás na corrida global. Já são quantos anos?
Creio que desde 2002 vivemos a "patinar", encalacrados nestes esquemas perversos de governança. Não conseguimos ver muitas qualidades no lulo-petismo, nem no bolsonarismo.
Lula se elegeu em 2002 e sua primeira decisão foi criar um mecanismo, o tal "voto de cabestro", com o FOME ZERO, nada mais do que "esmola" para o povão a gerar uma "sensação" de bem-estar e prosperidade, momentânea que fosse.
Não consideramos isso uma política consistente de transferência de renda, uma política social na acepção do termo, ou algo que os "intelectuais" brasileiros tanto se preocuparam em "denominar".
Para pegar 100 reais e dar aos pobres, basta apenas uma boa capilaridade, uma boa base de informações, criar um cartão e selecionar a quem irá beneficiar, via Caixa Econômica. Apenas isso.
Política pública profunda é promover as REFORMAS ESTRUTURAIS, acabar com a fábrica de desigualdades que é a nossa estrutura previdenciária, em que só servidores públicos (no geral) se beneficiam. Temos que falar em REFORMA TRIBUTÁRIA, para acabar com este cipoal de impostos, que não fazem políticas distributivas e só desorganizam as estruturas produtivas. Temos que falar, enfim, de uma PROFUNDA reforma do Estado, tentando blindá-lo contra a CORRUPÇÃO e colocar o servidor público no seu devido lugar, a cumprir o seu papel,
SERVIR AO PÚBLICO, SER UM EMPREGADO DOS PAGADORES DE IMPOSTO E NÃO SE SERVIR DELES.
Bolsonaro escorrega pela mesma retórica. Um negacionismo perverso, obscurantista, que não reconhece a ciência, os progressos obtidos, sempre apegado à teorias conspiratórias amalucadas.
Sua postura na pandemia foi criminosa. Minimizou a pandemia do coronavírus e fez de tudo para sabotar o isolamento social e as medidas de prevenção; acreditou na "imunidade do rebanho" e, por isso, não quis comprar vacinas e pregou o uso da cloroquina como prevenção; quis testar a “teoria” da imunidade em Manaus e deu errado.
Sua postura, mais matou do que salvou vidas.
É nesta toada, nesta visão fanática e distorcida, com pitadas de "teologia salvacionista", que chegamos agora a esta encruzilhada, Lula ou Bolsonaro?
Um usurpou a democracia, agindo como Hugo Chavez, "comprando" os poderes da República. Daí o Mensalão, na qual o PT oferecia mesadas para se manter numa boa com o Legislativo e o meio empresarial. Outro não sabe bem o que é democracia, se serve dela, não tem muita simpatia ou cultura pela diversidade. É por natureza, um ignorante autoritário.
Neste olhar para 2022 poucos enxergam UMA saída. Claro que nenhum dos dois servem. Seus legados estão postos. Um criou o maior sistema de corrupção da história moderna, outro, no seu negacionismo, não combateu a pandemia e muito contribuiu para as mortes que estamos acumulando até o momento (446 mil).
Temos uma memória clara sobre o desastre que foi Lula no poder, nos seus Mensalões, Lava Jatos, seus esquemas de corrupção ativa, seus conluios com empreiteiras, entre outros. Não dá também para apoiar um presidente, caótico nos seus dois anos e meio no poder.
Vamos conversando.