Publicado originalmente em inglês em 12/01/2021
Os formuladores da política do Federal Reserve (Fed) estão tentando calibrar as incertezas da pandemia, da campanha de vacinação e do impacto do estímulo fiscal e monetário na economia e na inflação – sem falar na crise política.
É uma tarefa difícil, que talvez seja mais bem realizada com o mínimo de calibragem possível. “Quanto menos coisas tivermos, melhor”, declarou o chefe do Fed da Filadélfia Patrick Harker.
Lentidão da vacinação atrasa recuperação econômica
Para Harker, seria melhor não alterar o ritmo da compras de títulos neste ano, que é de US$ 80 bilhões em Treasuries e US$ 40 bilhões em ativos hipotecários por mês, mas reconheceu que o banco central americano pode começar a reduzir as aquisições até o fim do ano, dependendo da situação do vírus.
Ao participar de uma conferência realizada pelo Philadelphia Business Journal na semana passada, Harker afirmou que a velocidade da campanha de vacinação contra a Covid-19 “tem sido muito decepcionante até o momento”.
Isso impedirá qualquer retomada célere da economia no segundo semestre do ano, após um primeiro trimestre que deve registrar crescimento negativo. A recuperação será desigual, prevê Harker, e talvez alguns empregos nunca mais voltem, já que a pandemia forçou o ritmo de automação.
O vice-presidente do Fed, Richard Clarida, membro do conselho de governadores, declarou em uma apresentação ao Conselho de Relações Internacionais, na sexta-feira, que espera que o banco central americano mantenha o atual ritmo de compras de ativos ao longo de 2021 mesmo que a economia se recupere. Em suas palavras:
“Acredito que será necessário um período considerável antes reduzirmos as aquisições, pelo menos como interpreto os dados, e estou relativamente otimista com a perspectiva econômica".
Ao ser questionado, Clarida afirmou que ficou irritado, “como todos os americanos”, com as imagens das manifestações que tomaram o Capitólio na semana passada. Ele disse ainda que o Fed está ansioso para trabalhar com a equipe econômica indicada pelo presidente eleito Joe Biden, liderada pela ex-presidente do Fed, Janet Yellen, como secretária do Tesouro.
A expectativa é que Biden indique outra veterana do Fed, Nellie Liang, para um alto cargo no Departamento de Tesouro, possivelmente como subsecretária de finanças domésticas. Liang, economista que ocupou diversos cargos no Fed de 1986 a 2017, foi indicada ao conselho de governadores em 2018, mas deixou o posto depois da nomeação, sem ter sido sabatinada em comitê. Atualmente trabalha para a Brookings Institution.
Outros chefes de bancos regionais do Fed saíram dos seus distritos na semana passada para dar alguma ideia do que pensa o Fed. O chefe do Fed de Richmond, Thomas Barkin, ecoou as considerações de Harker de que a desaceleração inicial da campanha de vacinação está atrasando o retorno à normalidade para algum momento do verão local, “no melhor cenário”.
Ele reagiu bem à recente alta dos rendimentos dos treasuries, apontando-a como um sinal de que os investidores estão esperando uma inflação mais alta. “É a isso que estamos tentando dar suporte”, afirmou na semana passada, em um webcast com empresas da Carolina do Norte.
Mas o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, mostrou-se cético em relação à taxa de inflação mais alta. Ele afirmou que a alta da inflação por causa do estímulo fiscal não estava “nem perto da força que gostaria de ver”. Ele acredita que a inflação não excederá a meta de 2% definida pelo Fed até 2023. O BC americano pode ainda aguardar até meados de 2024 para elevar os juros ante sua nova política de deixá-la ultrapassar 2% por algum tempo.
A chefe do Fed de São Francisco, Mary Daly, disse ter ficado animada com a expectativa de alta da inflação. Em comentários virtuais no evento Shadow Open Market Committee, ela declarou que acredita que o mercado de trabalho mais forte impulsionará a inflação, mesmo que em nível mais fraco do que no passado.
James Bullard, diretor do Fed de St. Louis, acredita que a recuperação econômica e a inflação serão mais fortes do que muitos esperam. A inflação contida da última década pode não ser um bom guia para este ano, afirmou a repórteres em um evento em Little Rock, ao dizer que “espera ver maior volatilidade de preços e talvez uma inflação mais alta do que estamos acostumados”.
As autoridades do Fed sabem que a economia pode não se recuperar caso o coronavírus não seja contido. “Na essência, trata-se de uma crise de saúde pública. Toda essa crise econômica se deve à forma como respondemos à crise de saúde pública, disse o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, na semana passada.
“Até que isso se resolva, a economia continuará andando a passos lentos.”
Se a retomada ocorrer mais rápido do que se espera, o Fed pode precisar recalibrar parte da sua política acomodatícia, afirmou ele ao Rotary Club em Atlanta, mas declarou que a elevação dos juros não deve ocorrer até o fim de 2022 ou início de 2023. “Muita coisa ainda teria que ocorrer para chegarmos lá", concluiu.