Agradeço a participação de todos na pesquisa sobre a reunião do Fed, que lancei na sexta-feira. Ao todo, recebi 473 opiniões. Para minha surpresa, a maioria dos leitores acredita que a reunião da quarta-feira não trará nada de novo (A). Apenas 41,2% dos participantes apostaram que a semana que vem marcará o início do fim da era dos estímulos pós-subprime (B).
Vejamos alguns dos argumentos...
Para A:
• Mesmo em mercados maduros, as concessões, quando feitas, são difíceis de serem retiradas. O banho-maria vai continuar ainda um pouco.
• Não retirará os estímulos pelo menos enquanto não estiver claro o destino das negociações com a Síria
• Bernanke vai enrolar o quanto pode e deixar a bucha para o sucessor
Para B:
• Já faz 4/5 anos, os estímulos ajudaram, mas parece-me que não aconteceu o milagre que os EUA (e também o mundo) esperava.
• O cenário mudou, portanto, o mais provável é que o FED mude alguma coisa. Mas possivelmente não será uma mudança radical.
• Efeito colateral seria, no meu entendimento, alimentar uma bolha já existente.
Como o mercado reagirá?
Também da boca do povo, ipsis literis:
• Vai ser divisor de águas...uma hora ia acontecer....já tá demorando....
• se o mercado cair é pra comprar no fim do dia ou no dia seguinte pq tudo isso já tá descontado.
• B. e não vai acontecer nada, o mercado já assimilou a tragédia.
Você, jurado
Tenho os meus argumentos para crer que é hora de retirar os estímulos. Agora, se o Fed o fará nesta reunião ou não são outros quinhentos. Não tenho a pretensão de prever o futuro, especialmente aquele que está dentro da cabeça dos outros. Suspeito que, neste momento, nem Bernanke saiba o que acontecerá nesta próxima reunião.
Mas não pense que a sua opinião de leitor foi em vão - pelo contrário. Neste concurso de beleza keynesiano, de nada adianta você achar X, Y ou Z a candidata mais bonita; acerta quem apostar na candidata que acha que os jurados acharão a mais bonita. Talvez não tenha percebido, mas você compõe o corpo de jurados.
Dançando conforme a música (seguro-Fed)
Desconfie do analista/economista que traçar uma posição concisa sobre a reunião do Fed e usar isso como base para posicionar os seus investimentos. A lição do dia é que não adianta tentar prever um futuro, mas sim se posicionar diante da incerteza. Quem prevê futuro é astrólogo e isso é coisa pro Eike. Como?
1. Embora a probabilidade do Fed tomar medidas exageradas e precipitadas seja pequena, o impacto associado a esse caso seria grande o suficiente para demandar cautela.
2. Parece claro pelo resultado da pesquisa que boa parte do mercado ainda questiona a mudança inevitável que se avizinha para a política de compra de títulos pelo Fed, e depois para a própria taxa básica de juro americana.
Outra comprovação de "2" é que, indo contra a corrente de euforia, você encontra opções de venda de ações (puts) baratas no mercado, enquanto as opções de compra (calls) se mostram relativamente caras. Utilizamos essa relação entre 1 e 2 para montar uma estratégia com opções(http://bit.ly/1djcngb) para esta semana que visa justamente explorar essa assimetria. Se a apostas nas calls e puts der certo há grande possibilidade de multiplicação de valor. Do contrário, ao menos você tem um seguro contra Fed.
O povo contra Larry Summers
Ainda nessa questão do Fed, uma certeza que temos é que o mercado não gostava do Larry Summers tanto quanto o Obama. Larry tirou sua candidatura para presidência do Fed, e os mercados reagem muuuito bem. Uma confirmação de seu nome à cadeira do Banco Central americano seria um flerte com retirada antecipada e proeminente dos estímulos. Com inveja de Chicago, Harvard é um dos redutos da moeda neutra.
No fim da fila
Após um período afastado dos microfones, Eike deu entrevista esclarecedora ao Wall Street Journal. Apontou executivos, má sorte e o seu mapa astral como os responsáveis pelo insucesso da petroleira, e pela primeira vez reconheceu que os credores provavelmente vão assumir o controle da companhia.
A saída inevitável de entregar ativos em troca de abatimento da dívida levanta o temor que resta para as ações: relacionado ao risco de diluição. Como o credor está na frente, deve sobrar pouco o acionista, último da fila.
Eu, que não sou astrólogo, nem conheço a história do princípio ao fim, não me sinto apto a comentar o restante das declarações.