O Banco Central do Brasil já colocou US$ 9,25 bi dos US$ 20,0 bi anunciados de oferta de swaps cambiais adicionais ao mercado com o propósito anunciado de confrontamento com a forte tendência de alta do preço da moeda americana no mercado brasileiro, e a tendência é que conclua a colocação do lote assumido sem lograr o sucesso objetivado.
Como anunciou o montante da atuação “discricionária” os agentes do mercado se preparam para acolher a oferta e, naturalmente, deprimiram a taxa cambial, sem, contudo, reverter o viés de alta, para melhorar a estratégia de lucro nas operações, já que há fundamentos sustentáveis para a perspectiva de alta maior da taxa cambial.
Desta forma, o fato do preço da moeda americana ter retroagido das proximidades de R$ 4,00 para o entorno de R$ 3,70, no nosso entendimento decorre mais de ação estratégica dos agentes do mercado para alavancar lucros com os swaps cambiais, do que resultante do efeito efetivo da ação do BC com a oferta.
Afora o cenário externo que continua desfavorável para os países emergentes e que afetam o comportamento do dólar no mercado internacional e depreciam as moedas destes países, que inclui o Brasil, há um ambiente presente e prospectivo no Brasil envolvendo a deterioração das projeções em torno da dinâmica da economia brasileira, cada vez menos otimistas e um contexto político envolvendo a sucessão presidencial, que de forma intensa contribui para o travamento da economia e cria preocupantes perspectivas já extrapolando 2018 e se colocando sobre os anos seguintes.
A economia está em estado de notória perda de atividade, e, a questão fiscal do país tem um perfil de crescente agravamento num ambiente em que não se vislumbram soluções, mas, no momento, só de piora intensa.
Este contexto interno tem atualmente fortíssimo impacto nas expectativas em torno do Brasil como um todo e isto agrega grande pressão na formação da taxa cambial e do juro, em especial de longo prazo.
Há um viés consistente de depreciação da moeda brasileira que neste momento é irreversível ancorado no quadro interno atual, a despeito do país estar imune ao que se denomina crise cambial face aos instrumentos e reservas cambiais que detém e situações confortáveis nos contextos que envolvem os quadros específicos relacionados com o exterior.
A apreciação do dólar no mercado internacional pelos fatores oriundos do desempenho positivo da economia americana e, agora até principalmente, do nebuloso quadro econômico-político brasileiro, impõe uma inexorável tendência amplamente sustentável de novo patamar de preço do real, ainda que o país não tenha o risco de crise cambial.
Então, o que fazer?
Se o Banco Central do Brasil persistir com ofertas adicionais poderá estar fomentando movimento especulativo por agentes internos e externos sobre o preço do dólar e conseguirá artificializar o preço da moeda americana até o momento que os tomadores entenderem interessante, pois podem interromper a demanda e por estarem no comando efetivo da formação do preço, poderão deixar o preço subir dentro da sua efetiva compatibilidade com os fatores de influência. Este movimento poderá ser realizado até com tranquilidade, pois o quadro econômico-político não sinaliza melhora até, pelo menos, as eleições e nem o cenário externo sinaliza possível melhora para os emergentes, em especial o Brasil.
Como temos salientado, estratégias no câmbio devem focar a forma, o jeito, e não a intensidade, a força, pois o BC poderá ser conduzido a um esforço praticamente inútil no momento, aparentando um sucesso irreal, já que o sucesso estará sendo realizado pelos tomadores, certamente já com participação relevante de especuladores.
No nosso entender, o BC deve fazer mais abrangente a sua intervenção, diminuindo a sua oferta de swaps cambiais desta forma não fomentando a especulação que poderá provocar relevante ônus aos seus cofres, e ofertando linhas de financiamento em moeda estrangeira que atinge um núcleo menor que são os bancos, sobre os quais têm uma melhor visão sobre os posicionamentos e poderá evitar que ocorra especulação mais acintosa, mas deixará bastante evidente que não há crise cambial e nem risco de que venha a ocorrer, pois o mercado a vista, também, estará com ampla liquidez.
No contexto atual, a volatilidade no preço da moeda estrangeira estará presente continuamente, até que “os tomadores alterem o interesse em absorver as ofertas de swaps cambiais”.
Costumamos afirmar que “no câmbio nem tudo que aparenta ser efetivamente o é”, e este é o que pensamos no momento.
O BC está refém do mercado!