A pausa no mercado financeiro ontem, por causa de feriados no Brasil e nos Estados Unidos, foi importante para avaliar a dimensão da forte onda vendedora (sell off) no setor de tecnologia vista na semana passada. O movimento levantou dúvidas quanto à sustentabilidade do rali nos ativos de risco, deixando a sensação de que setembro também será marcado pela volatilidade, depois de muitos altos e baixos em agosto.
Afinal, foi só uma correção pontual nas techs, com o mercado se rebalanceando entre as diferentes classes de ativos, ou estão surgindo sinais de reversão de tendência? É esta resposta que os investidores tentam responder nesta semana encurtada do novo mês, mas é cedo para definir se um ponto de inflexão está surgindo, ainda mais com os bancos centrais seguindo dispostos em manter o mercado empoçado por uma colossal liquidez.
Destaque na agenda econômica desta semana, o Banco Central Europeu (BCE) reúne-se na quinta-feira, quando anuncia a decisão de juros, e pode se sentir estimulado pelo Federal Reserve, que revisou a estratégia de política monetária nos Estados Unidos. Ainda que a presidente do BCE, Christine Lagarde, não seja tão suave (“dovish”) quanto Jerome Powell, do Fed, há a expectativa de nova ação na zona do euro.
Uma vez que a atividade econômica global ainda está abaixo dos níveis observados antes da disseminação do coronavírus, sendo que já vinha em ritmo de desaceleração desde a virada do ano, e que o número de casos de covid-19 no mundo mostra pouco sinais de diminuição, não seria surpresa alguma o BCE lançar mão de estímulos monetários adicionais. Mesmo que surjam repiques inflacionários à frente.
Aliás, índices de preços estão em destaque no Brasil, nos EUA e na China nesta semana. Amanhã é a vez da inflação oficial ao consumidor brasileiro, o IPCA, que deve seguir comportado, indicando que a retomada econômica doméstica tem ocorrido sem pressão inflacionária. Dados de atividade também estão em destaque ao longo da semana, com o desempenho do varejo e do setor de serviços em julho dando pistas sobre a recuperação.
No exterior, a China anuncia hoje à noite os índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI), enquanto nos EUA esses mesmos indicadores saem na quinta e na sexta-feira, respectivamente. Portanto, talvez não seja da agenda econômica desta semana que surja a resposta que o mercado financeiro tenta encontrar. É preciso haver clareza no cenário, ainda turvo pela ausência de vacina e com a disputa pela Casa Branca em aberto.
Internamente, a política continua roubando a cena. Os próximos dias devem ser marcados por possíveis votações de vetos presidenciais no Congresso e discussões sobre as reformas administrativa e tributária, além do Orçamento de 2021, que ainda tenta encontrar espaço para contemplar as demandas eleitorais feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, mas sem “furar” o “teto dos gastos”.
Entre incerteza e esperança
Por isso, não se pode descartar novos movimentos abruptos - com elevada força, magnitude e velocidade - que surgem de repente. O fato é que os mercados globais recuperaram terreno de forma rápida e acelerada desde o colapso em março, em um ritmo muito mais intenso do que o observado na economia real. Tal descompasso fica ainda mais evidente à medida que as ações emergenciais dos governos começam a se dissipar.
Os investidores, então, questionam a justificativa para preços tão elevados em muitos ativos, enquanto a pandemia segue avançando. Atentos a isso, a esperança se renova diante de relatos de que uma vacina contra covid-19 estará disponível já nos primeiros meses de 2021. As declarações foram feitas pelo ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, onde surge um repique acentuada nos casos diários.
Mas o país que chama a atenção é a Índia, que superou a marca de 4 milhões de casos, encostando no Brasil no total de infecções da doença. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra cautela e afirma não esperar uma vacinação generalizada antes de meados do ano que vem. Para a Organização, o maior desafio será em países de grandes populações, o que envolverá uma ampla estrutura.
Alheio a tudo isso, os índices futuros das bolsas de Nova York sinalizam uma volta do feriado em alta, o que ainda não consegue embalar a abertura do pregão europeu, apesar de uma sessão positiva na Ásia. Portanto, enquanto o Oriente e a Europa se concentram nas incertezas sobre a pandemia de coronavírus e alimentam esperança de uma vacina, a atenção se volta para o retorno de Wall Street do feriado.
E ainda parece que falta clareza para o dia. Nos demais mercados, o petróleo tem queda acelerada, com o barril do tipo WTI cotado abaixo de US$ 40, após os descontos no preço promovidos pela Arábia Saudita. Entre as moedas, a libra afunda em relação ao dólar, em meio aos renovados temores de uma saída do Reino Unido (Brexit) sem acordo com a União Europeia (UE).
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Terça-feira: Foram adiadas para hoje as tradicionais publicações de segunda-feira, a saber, o boletim Focus do Banco Central (8h) e os dados semanais da balança comercial (15h). Mas o dia também reserva o resultado de agosto do IGP-DI (8h). No exterior, logo cedo, sai a última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro, que deve confirmar a queda de dois dígitos no segundo trimestre deste ano, e, no fim do dia, a China anuncia os números da inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) em agosto.
Quarta-feira: O índice oficial de preços ao consumidor brasileiro (IPCA) é o destaque da agenda do dia, que traz também os dados semanais do fluxo cambial e os números regionais da produção industrial. No exterior, destaque apenas para o relatório Jolts sobre as contratações e demissões nos EUA em julho.
Quinta-feira: A decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), seguida de uma entrevista coletiva da presidente da instituição, Christine Lagarde, são os destaques do dia. Por aqui, o desempenho do comércio varejista em julho concentra as atenções, mas também serão conhecidos os números atualizados da safra nacional. Nos EUA, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego, a inflação ao produtor (PPI) e os estoques no atacado e de petróleo.
Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo como destaque o índice de preços ao consumidor nos EUA (CPI) em agosto. No Brasil, sai o desempenho do setor de serviços em julho.
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