Geopolítica norteia investimentos em novo cenário mundial

Publicado 24.10.2025, 13:45

Questões geopolíticas estão exercendo forte influência sobre os resultados econômicos e de mercado. Mudanças tectônicas globais estão ocorrendo nas áreas de comércio, defesa, energia, tecnologia e busca por resiliência nacional. Consequentemente, os principais pilares que sustentaram o crescimento econômico global sincronizado estão sob ameaça — com motores de crescimento como o “dividendo da paz” desfrutado nas últimas oito décadas e os acordos de livre comércio vigentes por décadas deixando de existir.

Embora a comunidade de investimentos goste de imaginar que os mercados estejam no centro das ações governamentais, a dura realidade é que não estão. O mecanismo de feedback do mercado é importante para que os governos alcancem seus objetivos econômicos e geopolíticos; no entanto, prioridades de ordem superior estão cada vez mais evidentes.

Durante boa parte das últimas quatro ou cinco décadas, investidores puderam contar com princípios simples para investir em economias capitalistas baseadas no livre mercado. A alocação de recursos escassos era guiada quase exclusivamente pelo maior retorno possível sobre o capital, pelo feedback dos preços de mercado e pela livre concorrência sustentada pela vantagem comparativa. O papel do governo se limitava, em grande parte, à oferta de bens e serviços públicos, provisão de redes de proteção social e manutenção de controles e equilíbrios regulatórios — um ambiente em que as decisões do setor privado moviam os mercados e o governo desempenhava um papel de suporte.

Olhando para o futuro, há potencial para uma inversão nesses papéis. Agora, governos estão cada vez mais tomando decisões críticas sobre o uso de capital, trabalho, tecnologia e outros recursos escassos com base em prioridades estratégicas nacionais — determinando o crescimento ou declínio de setores específicos. O novo objetivo de ordem superior é alcançar metas nacionalistas. O setor privado continuará sendo essencial para a execução dessas metas estratégicas, mas as grandes decisões provavelmente não serão mais impulsionadas apenas por sinais de preços de mercado.

Mesmo com um papel diferente, o setor privado continua fundamental para o sucesso das políticas públicas, pois é nele que estão o capital intelectual, os recursos de investimento, a mão de obra qualificada e o histórico de execução. Os governos precisam do setor privado para transformar suas estratégias em realidade. Por isso, os fatores-chave para o sucesso das empresas privadas nesse novo cenário incluem:

  • Certeza de execução (não necessariamente preço);

  • Histórico comprovado de entrega;

  • Alinhamento com os planos de longo prazo dos governos;

  • Interesse nacional como prioridade em todas as decisões.

Pensar diferente

O ambiente geopolítico das próximas décadas será muito diferente do passado.

O conceito histórico de vantagem comparativa no comércio — em que países se especializam na produção de bens e serviços de menor custo relativo, maximizando produção e consumo global — foi o alicerce da globalização. Em um cenário mais controlado, esse princípio pode continuar válido, mas com um nível muito maior de complexidade. Fatores como regulamentação, disponibilidade de recursos, tecnologia e objetivos sociais e políticos sempre foram restrições ao modelo. Agora, políticas nacionalistas e protecionistas aumentam a distorção e o atrito, tornando as decisões econômicas menos racionais e mais orientadas por políticas públicas.

Para os investidores, isso significa que a economia e os mercados deixaram de estar no centro do processo decisório dos formuladores de políticas. Em vez disso, os mercados passam a ser ferramentas para que governos alcancem seus objetivos estratégicos. Políticas protecionistas, por exemplo, podem eliminar a certeza de que parceiros comerciais manterão capacidade ou disposição para fornecer bens e serviços. Assim, governos podem optar por soluções menos eficientes economicamente, mas que ofereçam maior segurança de execução.

O resultado é que haverá vencedores e perdedores, e o abismo entre eles tende a aumentar. Os governos serão cada vez mais influentes na definição de quem ganha e quem perde — em níveis de país, setor e empresa.

Implicações para o investimento – Haverá vencedores e perdedores

O manual de sucesso para investidores mudou. Identificar as prioridades estratégicas dos governos e as empresas líderes (primeiro, segundo e terceiro lugar) com histórico de execução eficiente é o novo ponto de partida. Determinar quais setores podem receber subsídios e incentivos fiscais também será uma vantagem.

Os investidores devem, portanto, focar em:

  • Acompanhar as prioridades estratégicas do governo;

  • Seguir a regulamentação;

  • Acompanhar o fluxo de capital público (“seguir o dinheiro”).

Essa mudança de abordagem — de começar pelo setor privado para agora iniciar pelas prioridades governamentais — altera a forma como empresas e indústrias terão sucesso ou fracassarão, mas não impede bons retornos sobre o capital investido em diversas classes de ativos.

Setores potencialmente vencedores

Empresas que se alinhem às seguintes prioridades estratégicas podem se destacar:

  • Defesa (incluindo cibersegurança, construção naval e cadeia de suprimentos de defesa);

  • Transição energética (renováveis, transmissão e distribuição);

  • Inteligência Artificial e tecnologia que impulsionem produtividade (data centers e plataformas habilitadas por IA);

  • Capital direcionado a uma população envelhecida (habitação para idosos, REITs, farmacêuticas, saúde);

  • Crescimento populacional e infraestrutura essencial (aérea, marítima e ferroviária);

  • Resiliência das cadeias de suprimentos (transporte e logística).

O caminho adiante

Investidores precisarão pensar e alocar recursos de forma diferente, trabalhando seus portfólios com mais intensidade e disciplina. Buscar retornos semelhantes aos do passado, mas com menor risco, pode ser a estratégia mais sensata, em vez de se apoiar excessivamente em ativos de crescimento.

Por exemplo, para manter o poder de compra e crescer em termos reais, fundos de pensão, fundações e seguradoras costumam mirar retornos de CPI + 3%. Atualmente, é possível alcançar esse objetivo com maior exposição a ativos defensivos, reduzindo a dependência de ativos de risco.

O último ano demonstrou isso: a renda fixa voltou a se destacar como oportunidade atraente, entregando retornos competitivos. O crédito grau de investimento — situado entre as ações tradicionais e o caixa — apresentou retornos de 7,8% no ano fiscal de 2025, próximos às projeções de longo prazo para o mercado acionário.

Investindo de forma diferente para obter sucesso

O mundo está mudando rapidamente — e, para os formuladores de políticas, os mercados não são mais a prioridade central. Ainda assim, os investidores podem ter sucesso, desde que adaptem sua forma de investir. Avaliar políticas e geopolítica com base no que é melhor para os interesses nacionais e seus objetivos públicos, antes de considerar os impactos sobre a economia e os mercados, é o novo manual.

O fato de os mercados estarem em segundo plano frente à geopolítica não significa que os investidores precisem fazer o mesmo. Muitos dos grandes objetivos governamentais dependerão do setor privado — e, possivelmente, contarão com apoio em forma de políticas públicas, subsídios, financiamento favorecido e participação acionária.

Resultados de investimento bem-sucedidos continuarão muito possíveis, mas exigirão enxergar o mercado por uma nova lente.

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.