O cenário inflacionário que levou a um choque da taxa básica de juros teve como consequência o retorno dos investidores à renda fixa. Fato consumado. Dados da B3 (SA:B3SA3) mostram que o valor total investido em renda fixa (soma em custódia) cresceu 38%, para R$ 1,1 trilhão, nos últimos 12 meses encerrados em março de 2022. Mas não é qualquer ativo de renda fixa que deve ser o alvo da migração. Com diferentes classes, rentabilidades, aportes mínimos e gestores, é preciso ponderar a escolha para diversificar a carteira e buscar rentabilidade e baixo risco.
No segmento do agronegócio, por exemplo, há três formas de investir. Pode ser via LCA, CRA ou Fiagro. Cada uma das modalidades tem suas características que devem ser levadas em conta pelo investidor. No primeiro caso, LCA é a sigla para letra de crédito do agronegócio e consiste em um título de renda fixa emitido por bancos e instituições financeiras que captam recursos para financiar empresas do setor.
Por contarem com isenção do pagamento de Imposto de Renda e a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que reduz os riscos para a pessoa física, há um forte aumento de demanda por LCAs. Segundo a B3, o número de investidores individuais que aplicam nestes papéis cresceu 111% (de 399 mil para 843 mil investidores). O aumento do volume investido somou 104% (de R$ 106 bilhões para R$ 216 bilhões).
Estes papéis, geralmente, estão atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). No primeiro caso, a alta dos juros após reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), tornou a rentabilidade mais atrativa. No segundo, o aumento da inflação faz com que o investidor busque ativos que protejam seu patrimônio da desvalorização do dinheiro. Por outro lado, com exceção daquelas com liquidez diária, as LCAs são de longo prazo, portanto, antes de aplicar é preciso verificar o vencimento e o percentual de alocação.
Já o CRA, certificado de recebíveis do agronegócio, é um título de renda fixa, cujo risco está centrado no devedor, a própria empresa. Desta forma, as possiblidades de perda são maiores, pois tais papéis não contam com a garantia do FGC. Em compensação, o retorno tende a ser maior justamente por conta deste maior risco. A aplicação também é isenta de Imposto de Renda. Outro ponto importante é a verificação da liquidez. Tais investimentos são de longo prazo, portanto, devem compor somente uma parte da carteira, aquela que vai ficar alocada por anos e anos. Desta forma, é preciso bastante cautela na escolha de qual CRA investir, pois até se pode sair antes, mas é preciso verificar os custos desta decisão.
Por último temos a mais recente possibilidade de investimento do mercado quando se trata do agronegócio. Os Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais. A maioria dos investidores que aportam neste tipo de investimento é de pessoas físicas (98%). Segundo a B3, o crescimento da demanda foi de 416% em apenas seis meses. E não é à toa: também isentos de IR, tais fundos oferecem a constância dos pagamentos e a pujança do agronegócio, que reduzem o risco do investidor.
Os Fiagros não têm o problema da liquidez, porém, não é tão simples se desfazer do investimento. Além disso, o investidor só colhe os frutos se mantiver os recursos alocados por um bom período. O grande diferencial do Fiagro é a capacidade do gestor que pode pulverizar os recursos em diferentes ativos com diferentes riscos, minimizando a probabilidade de perda ao investir e garantindo a rentabilidade.
Em momento como o atual, de alta da inflação e dos juros, a migração para a renda fixa é uma realidade, mas a escolha da alocação não é trivial. Deve levar em conta principalmente os fatores de risco, retorno e prazo de investimentos, além da questão da tributação e taxas de administração. Estabilidade relevante, com rentabilidade, é melhor ainda. Neste sentido, o ideal é pulverizar, mantendo um portfólio equilibrado.