Os mercados continuam avaliando atentamente as implicações das negociações entre Rússia e EUA, mas observa-se uma tendência de desempenho inferior do euro, associada ao crescente isolacionismo de Trump em relação aos aliados da União Europeia. Com espaço para precificação de riscos tarifários no EUR/USD, mantemos uma perspectiva baixista para o par.
USD: espaço para recuperação permanece
O dólar manteve seu movimento de recuperação ontem, embora o início das negociações de hoje tenha favorecido o iene e as moedas da Oceania. Nos próximos dias, o foco dos mercados permanecerá na análise da proximidade de uma trégua na Ucrânia e, especialmente, nas condições envolvidas. Até o momento, Rússia e EUA realizaram discussões bilaterais sem a participação da Ucrânia e da União Europeia.
Sinais de uma futura cooperação entre Moscou e Washington podem reforçar a percepção de isolamento da Europa sob as perspectivas econômica e de defesa, incentivando uma rotação de moedas europeias para ativos considerados seguros, como o dólar americano e o iene (JPY). Esse movimento também foi impulsionado pela proposta de Trump de aplicar tarifas de 25% sobre importações de automóveis, medicamentos e chips nos EUA.
O desempenho abaixo do esperado dos Treasuries americanos provavelmente contribuiu para a recuperação do dólar. Os rendimentos dos títulos de 10 anos dos EUA voltaram ao patamar de 4,55%, com possibilidade de retestar os dois picos das últimas 30 dias, em 4,65%. Além disso, a correlação de 30 dias entre o S&P 500 e o índice Bloomberg Dollar caiu de -0,60 há um mês para -0,35 atualmente. Após as eleições nos EUA, essa correlação havia se tornado positivamente atípica. O fato de o S&P 500 ter atingido novas máximas ontem não impediu a recuperação do dólar.
O evento macroeconômico mais relevante da semana é a divulgação da ata do FOMC referente à reunião de 29 de janeiro, prevista para esta noite. O mercado tem recebido sinais consistentes do presidente do Fed, Jerome Powell, indicando que não há urgência para reduzir as taxas de juros, com o foco voltado novamente para o controle da inflação. A expectativa é que a ata reforce essa postura mais rígida.
Apesar da recuperação do dólar nos últimos dois dias ter equilibrado o quadro de curto prazo para o Índice Dólar (DXY), o nível atual ainda não indica uma sobrevalorização, mantendo os riscos inclinados para um dólar mais forte nos próximos dias.
Euro: enfraquecimento generalizado
O aumento do índice ZEW da Alemanha ontem provavelmente refletiu uma melhora no sentimento dos investidores, diante da expectativa de uma mudança de governo favorável ao mercado. No entanto, esse movimento não parece indicar uma alteração substancial nas perspectivas de crescimento.
O euro continua reagindo às implicações das negociações entre Rússia e EUA, com sinais crescentes de desempenho inferior das moedas europeias, possivelmente intensificados pela postura mais transacional de Trump em relação aos aliados da Otan na Europa.
Nosso modelo de valor justo de curto prazo indica ausência de prêmio de risco no EUR/USD, sugerindo riscos adicionais de queda relacionados à reprecificação do protecionismo norte-americano no mercado cambial. A correção pode levar o par até o nível de 1,040 ainda nesta semana.
Libra esterlina: alta da inflação não preocupa
A divulgação dos dados de inflação do Reino Unido referentes a janeiro teve pouco impacto na libra. O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu para 3,0%, ligeiramente acima da nossa projeção de 2,9% e da mediana de 2,8% do mercado. Esse aumento decorreu, principalmente, da alta inesperada dos preços de alimentos em janeiro, fator que o mercado não considera persistente.
A inflação de serviços ficou marginalmente abaixo do esperado, em 5,0%, marcando uma aceleração de 0,6% em relação ao mês anterior. Contudo, os dados de dezembro foram distorcidos por medições imprecisas das tarifas aéreas de Natal. Mais relevante é a medida de serviços essenciais, que exclui itens voláteis (como passagens aéreas) e aluguéis, apresentando melhora constante, agora em 4,2%, ante 4,7% há dois meses. Esse movimento sustentará nossa projeção de um corte de juros por trimestre ao longo do ano.
O EUR/GBP rompeu abaixo de 0,8300 ontem, refletindo o desempenho inferior do euro, possivelmente ligado ao isolamento geopolítico da UE em relação aos EUA. Ainda não é o momento de buscar um fundo para o par, sendo possível uma nova queda até 0,820. No longo prazo, consideramos que há espaço para ao menos 25 pontos-base de reprecificação mais branda na curva da libra, o que deve oferecer algum suporte ao EUR/GBP.
Dólar neozelandês (NZD): alta impulsionada por projeções inalteradas
O Reserve Bank of New Zealand (RBNZ) reduziu as taxas em 50 pontos-base, para 3,75%, conforme nossa previsão e o consenso do mercado. O dólar neozelandês opera em alta, já que o Banco manteve a projeção da taxa terminal em 3,10%, sem revisões para baixo, apesar da visão otimista de que a inflação permanecerá dentro da faixa-alvo, embora com riscos crescentes para o crescimento econômico.
Os sinais indicam que essa foi a última redução de 50 pontos-base, beneficiando o NZD ao antecipar o fim do ciclo de cortes em relação às expectativas anteriores. O ciclo de flexibilização mais agressivo do RBNZ sugere que a Nova Zelândia estará melhor posicionada para enfrentar os desafios comerciais em comparação com a Austrália. Mantemos a expectativa de uma depreciação gradual no AUD/NZD no médio prazo.
Por ora, o impacto positivo no NZD/USD, decorrente da postura menos branda do RBNZ, não deve se prolongar. Com a retomada do protecionismo comercial dos EUA como tema central nos mercados nas próximas semanas, o dólar neozelandês permanece vulnerável. Além disso, as preocupações do RBNZ com o crescimento econômico podem abrir espaço para uma reprecificação mais branda na curva do NZD, mesmo com as projeções de taxas inalteradas.
Nossa expectativa é que o NZD/USD volte ao nível de 0,56 até o final deste trimestre e atinja 0,55 no segundo trimestre, à medida que os riscos relacionados ao protecionismo norte-americano se intensificam.
AVISO: esta publicação foi preparada pelo ING exclusivamente para fins informativos, sem levar em conta os meios, a situação financeira ou os objetivos de investimento de qualquer usuário específico. As informações não constituem recomendação de investimento nem aconselhamento jurídico, tributário ou oferta de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro.
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