本週美聯儲 (ou, Semana do Saco Cheio)
A alta da Bolsa chinesa hoje não serve de referência. Esqueça aquela velha correlação de bolsa chinesa como reflexo de perspectivas para a economia do país asiático, por sua vez um indicador para empresas que têm na China um mercado consumidor relevante - exemplo clássico da Vale, com mais de 30% de suas receitas provenientes da China.
A Bolsa de Shanguai reflete mais passado do que futuro. Precisa tirar um baita de um atraso. Por conta do feriado local conhecido como Golden Week, a Bolsa chinesa estava fechada desde primeiro de outubro (!). Tivéssemos alguma correlação na Bolsa brasileira com esse seu pregão chinês, seria provavelmente à Eletrobras.
A paralisão indiferente I (à operação)
Não recomendo as ações da Eletrobras. Apesar do dividendos e do desconto em relação ao valor patrimonial, a questão é justamente a sustentabilidade da política de dividendos para uma empresa que queima caixa e a incapacidade dela extrair valor de sua base de ativos (o que ajuda a explicar o desconto para o valor patrimonial).
Eletrobrás é uma superestrutura bastante suscetível a ineficiências operacionais e a ingerência política (o maior risco de intervenção de governo da Bolsa brasileira). Quase 90% dos 28 mil funcionários do grupo Eletrobrás ficaram parados de 15 de julho a 8 de agosto por não aceitarem a proposta de reajuste salarial. Alguém aí ficou sem luz?
A outra paralisação indiferente II (à ação)
Os funcionários da Embraer estão em greve desde esta manhã, reivindicando um reajuste além dos 6% que a empresa pretende repassar. A paralisação atinge toda a produção e também o setor administrativo, somando cerca de 6 mil trabalhadores. Uma paralisação dessa poderia ser prejudicial à condução da carteira de pedidos da companhia: a companhia entregou 39 e-jets no primeiro semestre, de 105 unidades programadas para o ano. Mas o mercado não parece preocupado com o cumprimento da meta. As ações da Embraer, que subiram ontem e operam próximas à estabilidade nesta terça-feira, refletem apostas de resolução rápida do impasse.
Cabeça fora da telinha
O Conrado engordou a série “Fundos que Gostamos”. Agora são sete eleitos na seleção Empiricus de fundos de ações. Ele apresentou hoje o fundo da Kondor. Do papo com os gestores Marcelo Faria e Raphael Diederichsen, destaque para o detalhado processo de seleção dos cases de investimento. A análise profunda tem moldado um banco de dados valioso para pisar em terra firme quando o mercado perder o chão. Conradão me disse que os gestores tentam se afastar das influências de curto prazo, se educando efetivamente pelos fundamentos. Com essa cabeça, o risco de perder o timing de alguma oportunidade fica em segundo plano. A velocidade da vida real não é a mesma que o anúncio de um M&A piscando na telinha. Essa é a filosofia. E qual a visão dos caras sobre o mercado?
Espiando o saldo bancário da OGX
Enquanto OGX segue agonizando no salão principal da Bolsa brasileira, há dois indicadores importantes a se acompanhar um tanto fora dos holofotes. O primeiro diz respeito à real posição de caixa da companhia, que atualmente monta a aproximadamente R$ 120 milhões. Portanto, não comportaria mesmo os US$ 45 milhões da dívida que venceram recentemente. Como temos da companhia somente a posição oficial de caixa ao final do segundo trimestre, e OGX vem consumindo ele, uma forma de se verificar a posição de caixa atualizada da empresa é através do patrimônio do fundo OGX 63 Multimercado Crédito Privado, que mantém suas reservas financeiras.
PS: antes do segundo indicador, uma breve pausa. Na contramão do Eike, tem uma ação que agora conseguiu se libertar das amarras do Grupo X e agregou ao saldo de caixa da EBX. Agora se vê livre de qualquer amarra, com upside superior a 100%.
Comprando R$ 8 bilhões por R$ 480 milhões?
O segundo indicador se dá pelo valor de mercado da dívida da companhia. Na véspera, os títulos de dívida da OGX atingiram a mínima histórica, na casa de 6% do valor de face para as notas com vencimento em 2018 e 2022. Como a empresa tem R$ 8 bilhões em dívida (US$ 3,6 bi), em tese o “valor de mercado dessa dívida” seria em torno de R$ 480 milhões. Quer dizer que dá para comprar toda a dívida da OGX no mercado por R$ 480 milhões? Não. Um volume comprador desse porte inevitavelmente puxaria para cima o valor de negociação dos títulos - negocia a 6% do valor de face justamente por que ninguém quer carregar esse risco. Oferta e demanda, meu caro.
O puzzle
A questão a se monitorar diz respeito à incoerência sugerida entre as variáveis. O Valor de Firma de uma empresa (Entreprise Value) nada mais é do que sua dívida líquida (dívida bruta menos o caixa) + o seu patrimônio líquido (equity, ou valor de mercado das ações). Aplicando ao caso de OGX, temos: Valor de mercado = R$ 647 milhões (ação a R$ 0,20) “Valor de mercado da dívida” = R$ 480 milhões Se o credor está na frente do acionista, em tese o valor de mercado das ações não deveria ser inferior ao valor de mercado da dívida?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.