Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Os investidores respiraram aliviados nesta segunda-feira, após o término do prazo de 15 de dezembro para a aplicação de novas tarifas comerciais. As ações ampliaram seus ganhos, e os títulos do Tesouro americano se valorizaram. Entretanto, em vista da relevância dos últimos acontecimentos, os movimentos até que foram modestos, e as moedas tiveram comportamentos mistos, o que significa que o acordo não impressionou ninguém. O USD/JPY finalizou o dia em alta, ao passo que o AUD/USD e o NZD/USD ficaram estáveis.
O problema é que a primeira fase do acordo comercial é mais uma trégua do que um acordo propriamente dito. A China concordou em adquirir US$ 200 bilhões em produtos e serviços norte-americanos ao longo dos próximos dois anos e realizar diversas reformas estruturais. Em troca, os EUA não só deixariam de impor outra rodada de tarifas, como também recuariam na aplicação de encargos sobre determinados produtos chineses. Trump descreveu o acordo como extraordinário, mas os chineses ficaram muito menos animados. Considerando a relevância dos recuos tarifários, se o acordo fosse tão extraordinário quanto apregoa Trump, os chineses teriam que declarar vitória também. No entanto, assim como nos acordos verbais do passado, ainda há detalhes que precisam ser trabalhados e, de acordo com o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, a segunda fase do acordo comercial seria feita em estágios, e aí é que está a raiz do problema. Os investidores temem que essa parte do acordo seja reversível, além do quê, a segunda fase pode acabar sendo outra batalha acirrada. Apesar disso, o USD/JPY está se valorizando pelo alívio de curto prazo dos riscos políticos nos EUA e exterior. Dito isso, acreditamos que o risco para a moeda americana ainda é de queda, após a perspectiva cautelosa do Fed, o relatório de vendas mais fracas no varejo e o declínio no índice industrial Empire State na segunda-feira. Os números de construção de novas casas e permissões de construção devem ser divulgados nesta terça-feira, e a expectativa é que os dados imobiliários respaldem as taxas de juros baixas.
Enquanto isso, o euro e a libra esterlina ficaram estáveis apesar dos PMIs mais fracos. Na zona do euro, a atividade de serviços mais forte ajudou a compensar a fraqueza na manufatura. Embora os dados mostrem que o setor industrial ainda pode estar em recessão, o otimismo da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, e a alta nos serviços podem ser um presságio de tempos melhores para o euro. O mesmo se aplica ao Reino Unido. A atividade industrial, de serviços e construção desacelerou, mas os dados não incorporam o alívio da incerteza do Brexit. Os números do mercado de trabalho no Reino Unido devem ser divulgados nesta terça-feira, e a expectativa é que os dados sejam mais fracos, após o setor registrar grandes perdas de postos de trabalho. Tecnicamente, o GBP/USD deve fazer uma correção, mas a tendência de alta continua intacta, desde que o par se segure acima de 1,30.
O dólar canadense ampliou seus ganhos, enquanto os dólares australiano e neozelandês ficaram consolidados. Os PMIs mais fortes na China evitaram perdas mais acentuadas no AUD, que foram limitadas pelas projeções mais fracas de orçamento do Tesouro e previsões de crescimento. Ambas as moedas deveriam estar subindo após o acordo comercial, e sua fraqueza é bastante preocupante.