Nos últimos dias, os olhos da política americana se voltaram para o Senado dos Estados Unidos, onde um projeto gigantesco, apelidado de “One Big Beautiful Bill”, está sendo discutido em ritmo acelerado. Apesar do nome pomposo dado por Donald Trump, esse pacote não tem nada de simples. Ele reúne cortes profundos em programas sociais, extensões de benefícios fiscais bilionários e uma dose generosa de controversas prioridades ideológicas.
O projeto, com quase mil páginas, está sendo votado em etapas, a chamada “vote-a-rama, com dezenas de emendas sendo analisadas em maratona parlamentar. A proposta já foi aprovada em votação preliminar no Senado por 51 votos a 49 e agora aguarda a votação final.
Mas afinal: o que tudo isso tem a ver com o Brasil?
Um corte profundo nos programas sociais americanos
O coração do projeto corta recursos do Medicaid, que atende milhões de americanos de baixa renda, além de reduzir benefícios do programa de alimentação SNAP e de subsídios à moradia. São medidas que afetam diretamente a base mais pobre da população americana.
Por outro lado, o pacote propõe estender cortes de impostos para os mais ricos e para grandes corporações, elevando o déficit americano em até US$ 3,3 trilhões na próxima década, segundo projeções do próprio Congresso.
E o Brasil com isso?
O impacto de uma medida como essa vai além das fronteiras americanas. Quando os Estados Unidos, maior economia do planeta, mudam o rumo da política fiscal de forma tão drástica, o mundo inteiro sente.
Aqui estão 3 formas como isso pode afetar o Brasil:
1. Mais pressão no dólar
Com um déficit trilionário projetado, os EUA precisarão se financiar, o que geralmente significa emissão de títulos e aumento de juros para atrair investidores. Isso fortalece o dólar no mundo todo. Para o Brasil, um dólar mais forte significa:
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Alta nos preços de produtos importados (inclusive alimentos e combustíveis).
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Pressão inflacionária.
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Juros mais altos aqui também, para conter a fuga de capitais.
2. Mudanças no apetite dos investidores
A agenda econômica do governo Trump, centrada em protecionismo, corte de impostos e aumento de gastos militares, pode tornar os EUA ainda mais atrativos para investidores globais. Com isso, os mercados emergentes como o Brasil podem sofrer fuga de capital.
3. Impacto nas políticas públicas globais
Se os EUA reduzirem sua participação em pautas globais como transição energética, sustentabilidade e cooperação internacional, o que já está sendo sinalizado, o Brasil também poderá enfrentar menos apoio externo, menos investimentos em energias limpas, e mais pressão para se alinhar a políticas menos inclusivas.
O mundo está virando para dentro?
O Big Beautiful Bill representa mais do que um pacote de ajustes. Ele é o símbolo de uma nova tentativa de Trump (e do Partido Republicano) de remodelar a América, não apenas na economia, mas nos valores. O foco agora parece ser recompensar os grandes, endurecer com os mais vulneráveis, e correr contra o tempo para deixar tudo aprovado até o feriado de 4 de julho.
No fundo, é mais um capítulo de uma história que o mundo já viu: quando os gigantes se movem, os pequenos precisam se ajustar. E o Brasil, que tem suas próprias crises e reformas pela frente, vai sentir, direta ou indiretamente, o impacto desse novo "gigante bonito".