Na economia, assim como na medicina, o correto diagnóstico do paciente é essencial para determinar os remédios adequados para a cura.
No nosso caso, quem padece de um agudo mal econômico, necessitando imediatamente de um tratamento de choque é o Brasil.
Como nada no nosso país é urgente, vamos primeiro brigar por poder político e tentar sobreviver às denúncias, das mais diversas, desde tráfego de influencia a roubos de dinheiro público.
Afinal, como todo bom político brasileiro, deixem eles, primeiro resolverem o deles. Mas nunca se esqueça: foi você que o colocou lá.
Após o desabafo, voltamos a nós!
Me deparo com muitas pessoas perdidas, sem saber exatamente quais os remédios adequados para curar essa crise que se instalou mais fortemente no final de 2014 e início de 2015.
Leio por aí críticas ao mercado financeiro e sua elevação do dólar a patamares historicamente altos, níveis que não estávamos mais acostumados. E, se você não sabe as consequências de um dólar mais forte, leia o artigo: “Dólar vai a R$5, E Agora, Como ficam seus Investimentos?” para maiores esclarecimentos.
Vejo alguns bravos defendendo uma volta ao modelo econômico que marcou o primeiro mandato de Dilma e outros indecisos quanto a real condução da política econômica que o atual governo deve tomar para que o Brasil possa, pelo menos, passar a ter mais confiança em sua economia.
O próprio partido governista se racha nessa questão.
Uns acreditam que a “nova matriz econômica”, iniciada em meados de 2009, deve ser retomada. Outros pendendo mais para o lado de um ajuste fiscal, que ultimamente perdeu força, antes mesmo de ser implementado - não é o perfil desse governo.
A questão é que todo o debate gira em torno das consequências da crise econômica, não nas suas causas.
Algumas pessoas culpam, claro, o perverso mercado financeiro, como se ele fosse o grande culpado por ter desencadeado uma inflação de quase dois dígitos, um PIB negativo, uma taxa de desemprego beirando também dois dígitos, as perdas de grau de investimento, etc. – agora fiquei prostrado.
Não as culpo, pois não entendem que o mercado financeiro reage às políticas econômicas, reprecificando todos os ativos e, claro, tentando lucrar – é pecado?
Não foi o mercado que colocou o dólar a R$4 apenas para satisfazer sua ganância por lucros. O que ocorreu foi um ajuste para equacionar os problemas originados no palácio, quem entendeu isso ganhou dinheiro.
O mercado financeiro reage à economia!
Assim como o empresário que perdeu a confiança e toma medidas de redução de custos. A culpa por suas demissões é função das expectativas e do ambiente econômico criado.
Outros apontam o dedo para a China e numa crise internacional – me esforço para encontrar esse mundo em recessão.
A China desacelera, após crescer absurdamente durante mais de cinco anos. Se você culpa a China pelo nosso desequilíbrio, mais uma vez está colocando o erro na consequência e não na raiz do problema.
Pergunto-lhe: você esperava que a China fosse crescer a dois dígitos para o resto da vida? Eu não. A farra chinesa acabou!
Reproduzo a seguir um trecho de um artigo do Banco Mundial: A desaceleração econômica na América Latina pressiona o emprego e a renda familiar O México, a América Central e o Caribe, mais diretamente vinculados aos Estados Unidos, cresceram menos durante a alta de preço das commodities e após a crise financeira global de 2008-2009, mas estão se recuperando em ritmo mais acelerado. De modo mais concreto, o Panamá, a República Dominicana e a Nicarágua irão registrar fortes taxas de crescimento de 5,9%, 5% e 4,5% respectivamente, bem acima da média regional. Os países da América do Sul, mais diretamente afetados pela desaceleração econômica da China e pela queda no preço das commodities, estão apresentando diferentes tendências de crescimento. A Bolívia, a Colômbia, o Paraguai, o Peru e o Uruguai devem crescer 3% em média em 2015. A Argentina crescerá pouco acima de zero por cento e o Brasil, o Equador e a Venezuela terão uma taxa de crescimento negativa. O Chile é de certa forma um caso atípico, com um crescimento de 2,2% neste ano, porém deverá melhorar ainda mais em 2016, já tendo feito os ajustes necessários à realidade que se seguiu ao aumento de preços das matérias-primas.
Perceberam alguma semelhança entre os países da América Latina que vão crescer e os que não? Não se restrinja somente aos números.
Esse mundo é muito pequeno né!? Que coincidência Equador, Venezuela, Brasil e Argentina serem atacados pelo desaquecimento Chinês, pelo perverso mercado financeiro, terem uma mídia golpista e por isso todos eles registrarem uma taxa de crescimento econômico negativa?
Você vê mais alguma coincidência?
Ao analisar as verdadeiras razões por essas economias estarem passando por sérios problemas, você descobrira as causas das mazelas que se instalaram sobre eles, em especial o Brasil.
Uma volta ao passado recente
Escolhas que fizemos lá atrás, nas urnas, estão sendo refletidas agora em nossa economia.
Optamos pela continuidade das políticas estatais intrusivas, aumento da máquina pública e centralização do poder econômico nas mãos do estado.
Escolhemos ter uma mãe, o Estado, que nos protegerá dos males desse mundo capitalista selvagem – obrigado Titãs.
Já abordei esse assunto no artigo O Triste Fim De Uma Gestão Malfeita.
Não fizemos o dever de casa para transformar o motor de crescimento econômico brasileiro visto desde a implementação do plano real até 2009.
Continuamos órfãos do Estado, que nesse momento vive também uma grave crise institucional que lhe retira toda a credibilidade, poder de liderança e governabilidade da nação.
Países da América Latina que entenderam a situação fizeram as mudanças necessárias para crescerem, em detrimento de menor expansão da China, dos EUA e Europa.
Países como o Chile nesse momento estudam uma reforma constitucional para dar suporte as mudanças necessárias e continuarem crescendo.
Não é somente no campo do futebol que o Chile superou o Brasil. No campo econômico e político também.
E você? Nesse maremoto econômico como poderá tirar proveito para seus investimentos?
Qual deve ser sua atenção e para onde devem seguir os principais indicadores econômicos brasileiros?
Vamos raciocinar analisando fatos, pois não temos dados futuros, ainda!
Por que Dilma chamou Levy
Há somente duas razões para Dilma ter chamado Levy para comandar a principal pasta econômica do seu segundo mandato.
Chamar Levy significava uma mudança na “nova matriz econômica”. Um verdadeiro estelionato eleitoral, pois esse ministro é tudo que a oposição sinalizava fazer, se eleita, e Dilma criticava - mas vamos em frente.
Colocar Levy na fazenda foi mudar a condução da sua política econômica. A mesma que ela implementou ainda na casa civil em 2009 – mais estado.
A primeira razão seria que Dilma não acredita na sua “nova matriz econômica” e vendo seu esgotamento e a situação deteriorada pediu ajuda aos liberais adeptos da matriz do plano real.
Uma segunda razão seria tentar fazer um segundo governo mais próximo do primeiro mandato de Lula. Colocando nomes mais técnicos para assumir a fazenda – sem perder o controle.
Porém a perda de governabilidade e a inabilidade política visível da presidente fez empacar as reformas, as quais Levy se propôs a tocar quando assumiu a pasta.
Futuro incerto e nebuloso à frente
A falta de habilidade política, os escândalos de corrupção no seu governo e as famosas pedaladas fizeram a corda apertar no pescoço da presidente.
Os dez primeiros meses de governo foram para tentar salvar o mandato, ao invés de buscar aprovação das medidas essenciais para tirar o Brasil do atoleiro.
O Brasil pode esperar! Agora imagine…
Cenário #1 - Uma volta ao passado
Se esse governo conseguir se manter até 2018 por meio de liminares no STF, como se dará a coordenação política para aprovação de medidas essenciais a sobrevivência da economia Brasileira?
Nesse cenário, sem base política e sem conseguir aprovar medidas de contingenciamento de custos, fatalmente o Brasil perderá grau de investimento por todas as agencias e mais algumas.
Levy tornou-se uma voz discrepante no congresso!
Com a manutenção desse governo, possivelmente iremos ter um cenário de estagnação, com ajuste fiscal incompleto e poucos avanços estruturais – isso se Levy continuar no cargo.
A Selic deverá ser aumentada, pois o Dólar será mais pressionado e a inflação deverá superar facilmente dois dígitos.
A indústria será ainda mais afetada, pois o custo do dinheiro aumentará mais e a confiança continuará em queda.
Sem falar no desemprego e perda de poder aquisitivo para a população mais pobre, que não tem condições de se proteger do avanço da inflação.
O consumo continuará em tendência de queda.
Mas isso não é tudo. Caso Dilma resolva abrir a mão da gastança, fazendo um flashback a sua fracassada “nova matriz econômica”, poderemos ter tudo isso amplificado - nada bom!
Se você acha isso impossível saiba que a presidente sofre pressão do próprio partido para guinar a política econômica nessa direção, como você pode confirmar na entrevista de Rui Falcão, presidente do PT, a folha – aprecie com moderação.
A proteção para o investidor nesse cenário é comprar ativos atrelados ao IPCA e Selic, sem dúvida.
Porém todo cuidado será pouco para a renda fixa pré-fixada.
Como não temos condições de vislumbrar o fundo do poço, você poderá ter perdas com ativos pré-fixados.
No mercado acionário a volatilidade deverá continuar ditando o ritmo. O dólar em alta continuará beneficiando exportadoras com boa margem de lucro e baixa dívida em moeda estrangeira.
O curto prazo continuará sendo a melhor aposta para se ganhar dinheiro no mercado de ações.
Como investir no longo prazo se não temos nem como traçar um cenário mais consistente para 2018?
De certo o retorno da renda fixa deverá superar a renda variável nesse contexto. Para se sobressair no meio da volatilidade será preciso estudar mais e investir com mais certeza.
Cenário #2 - Impeachment
Mas… e se as liminares forem derrubadas e um processo de impeachment for instaurado?
Você como investidor deve ser apartidário. Deve analisar fatos e não se deixar levar por discursos políticos que visam única e exclusivamente benefícios próprios.
Portanto, trabalhe também com a possibilidade de fim antecipado do governo Dilma.
Pela via do TCU e suas famosas pedaladas fiscais cairia somente Dilma e assumira Temer, criando possivelmente um governo de mais coalisão com maioria no congresso.
Não sou otimista quanto à aprovação, por um governo de Temer, de profundas reformas, necessárias para que o Brasil não quebre lá na frente.
Mas o mínimo para rolar para seu sucessor os maiores pepinos Temer seria capaz de fazer.
Quem sabe chegando inclusive a reverter um possível rebaixamento, uma vez que consiga sinalizar um corte de custos mais enérgico e uma maior clareza nas políticas econômicas – afinal hoje não temos nenhuma.
São medidas que Temer deverá tomar logo que assumir. Mostrar para o mundo que o Brasil está aberto a um ajuste fiscal mais efetivo e fazer o Brasil emergir desse do cenário atual.
Esse governo teria mais condições de restabelecer a confiança não só da indústria como também do consumidor.
Nesse caso, as taxas futuras deixariam de pressionar tanto e o dólar deverá sentir um alivio no curto prazo.
Uma falsa sensação de que voltamos ao caminho certo tomará conta do mercado financeiro e por que não da população.
Porém, apesar da aparência, continuaremos no trilho do precipício!
Contudo será alivio suficiente para uma recuperação dos ativos em bolsa, pois estão extremamente depreciados. E se tem recuperação, tem possibilidade de ganho para o investidor.
Os títulos pré-fixados deverão dar um bom retorno no curto prazo com o alívio dos juros e a possibilidade do Copom manter a Selic no patamar atual ou quem sabe até reduzir um pouco.
Afinal, não adianta subir mais a taxa para conter inflação.
Muito cuidado com títulos pré-fixados. Apesar de nesse cenário minha visão ser mais otimista para esses ativos no curto prazo, você somente deve fazer uma aposta desse tipo se souber muito bem onde está pisando ou estiver muito bem assessorado.
Cenário #3 - Um novo governo
Aqui reside um fato inédito. Uma remota cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE.
Remota, mas possível, então você não pode desconsiderá-la.
Esse cenário seria muito parecido com o #2. Além de todas as benesses comentadas naquele cenário, uma cassação da chapa vencedora das ultimas eleições presidenciais seria capaz de antecipar um novo governo.
Um novo governo com um maior apoio da população, cansada dos desvios, não somente financeiros, mas de conduta moral e ética.
Esse novo governo teria uma chance em mil de encarar reformas pesadas, reduzindo o tamanho do Estado, desvinculando despesas e possibilitando um melhor rearranjo econômico.
Esse parágrafo de cima ficou muito bonito no papel, digo, na tela do computador. Desconheço um político na ativa capaz de levantar essa bandeira, e se aparecer cometerá suicídio político.
Porém, o tempo necessário para se organizar novas eleições ou se chagar a uma sucessão pode ser longo demais, visto que os presidentes da câmara e do senado deverão responder na Lava-Jato.
O Brasil não tem tempo a perder. É preciso começar a corrigir erros do passado o mais rápido.
Desta forma, apesar do mercado reagir com otimismo à remota chance de materialização do Cenário #3, ele guarda armadilhas temporais que rapidamente jogará um balde de agua fria nos investidores.
O governo precisa rapidamente equacionar suas contas, ou seja, executar o ajuste fiscal decente.
Infelizmente no curto prazo o governo não sairá dessa sem algum aumento de carga tributária, pois o buraco a ser tapado é grande.
No longo prazo serão necessárias reformas estruturais que reduzam despesas vinculadas. Um processo altamente desgastante com a população, ou se preferir com os eleitores.
O governo avança muito pouco na solução dos problemas fiscais, tanto imediatos, de curto prazo, quanto os ajustes mais desgastantes, de longo prazo.
Isso significa um custo maior a ser pago lá na frente. Fatalmente a perda de grau de investimento, aumento de juros e uma taxa de câmbio mais de R$5.
Chegamos a um atual estado de inoperância executiva que paralisou o país.
Os investimentos tornaram-se especulativos ao máximo. Aplicações em ações extremamente curtas e a incerteza pairando por todas as mesas de operações.
A única certeza que se tem entre os analistas hoje em dia é que a situação econômica tende a piorar. Não se enxerga uma saída, somente aumento da inflação, dólar e juros.
Quanto o Brasil precisará piorar para que a classe política chegue a um consenso de que reformas estruturais sejam necessárias?
Hoje, para um gestor ir trabalhar ele deve ler primeiro o caderno de política, em seguida as páginas policias e por último o econômico.
Uma situação totalmente inusitada.