As empresas de insumos e produtos para uso em confinamento de bovinos, têm apostado em um ano bom para a atividade de engorda intensiva.
Os preços da arroba entre janeiro e março de 2015, quando variaram, foram para cima. Primeiro, parecia que tal firmeza ocorria em função da seca, que comprometia as condições de terminação das boiadas em pasto. Depois, choveu e, o preço seguiu firme.
Ou seja, está claro que a oferta deverá sustentar o mercado em 2015 e isso animou o setor.
Porém, recomendamos cuidado.
A interação entre situação econômica, venda de carne, projeção de preços da arroba do boi gordo e do boi magro, projeção de resultado do confinamento e margem da indústria frigorífica, inspira atenção.
A começar pelo preço da reposição. Já existe boi magro sendo vendido no mercado de São Paulo por mais de R$2 mil. Considerando que o período de maior demanda por esse animal nem começou, há espaço para altas.
Se esta categoria subir até julho, 2,5%, metade do que subiu no mesmo período em 2014, será preciso vender a arroba terminada em confinamento por R$145,18 para pagar todos os custos e investimentos.
Em 2014, com esta remuneração, o retorno sobre o investimento superava os 20,0%.
A partir daí, para se tornar atrativo o confinamento, a ponto de apresentar um grande crescimento no volume de cabeças confinadas, os preços da arroba precisariam subir fortemente no segundo semestre.
O retorno de 20,0% que foi obtido em 2014 seria atingido esse ano com a arroba vendida em R$172,00 em São Paulo, uma valorização de 14,5% em relação ao preço do final de março.
É aí que a situação do setor frigorífico começa a ganhar importância para venda de insumos para confinamento.
Indústria frigorífica
Em 2015, o patamar de preço do boi gordo e a receita que o frigorífico tem aferido, estão deixando as margens historicamente baixas.
Como nada há que indique que a oferta de boiadas crescerá e que a situação da economia melhorará, pelo contrário, a possibilidade de inflação e desemprego crescente é palpável, os negócios poderão ficar difíceis para a indústria.
Aumentar os preços da carne, certamente afetaria o consumo, que já é preocupante.
Desde o começo do ano, os cortes de traseiro no varejo paulista subiram 1,0%, o dianteiro 2,5% e a carne de frango 4,5%. Fica claro que a preferência da população é pelos produtos de menor valor agregado.
Para piorar, a exportação, que em tempos de mercado interno fraco poderia ajudar no escoamento, caiu 20% em três meses, e vai depender, e muito, dos preços do petróleo para voltar a crescer.
Diante disso, pagar mais pela arroba significa estreitar o resultado do frigorífico, uma vez que estima-se que 80,0% do custo total de uma planta de abate e processamento de carne é composto pela compra da boiada.
Para um exercício, se considerarmos que os preços da carne fiquem em patamares semelhantes aos vigentes no final de março, e a arroba atinja os R$156,00 em outubro como vem indicando os contratos futuros, a margem da indústria que não desossa cairia para 3,6%, resultado nunca visto.
Mas, mesmo que a cotação da carcaça volte ao recorde de 2015 (um dos maiores preços nominais já registrados), R$8,93/kg - preço do primeiro dia de janeiro, reflexo ainda do comportamento das vendas de final de ano - isso traria a margem para 7,5%, menor do que a registrada no final de março, até então, a pior do ano.
Por fim, se o cenário se mantiver como está, é possível que o espaço para alta nos preços da arroba diminua nos próximos meses. A demanda poderá limitar as valorizações. Assim, remunerar e obter lucros com a engorda de um boi magro adquirido por mais de R$2,0 mil, ficaria difícil.
Com isso, o ímpeto para confinar poderá diminuir. É comum o planejamento do confinador no começo do ano ser totalmente revisto a medida que se aproxima o período de fechamento dos bovinos, geralmente no final do primeiro semestre, quando se tem a projeção de custo e receita mais “afinados”.
Portanto, atenção ao consumo.