Na semana retrasada, escrevi sobre a reação exagerada do mercado ao cenário eleitoral e destaquei alguns termômetros para quem quer acompanhar o desenrolar das eleições daqui para frente. Afirmei então ser essencial ficar de olho no PT, muito por conta da força que o partido tem de decidir o rumo das eleições. Essa é a má notícia para o mercado. Para sustentar meus argumentos, vou pontuar alguns aspectos da estratégia atual do PT e de Lula.
Mas, vou primeiro aos fatos: Lula foi condenado em segunda instância pelo TRF-4 e o juiz Moro pediu a execução provisória da pena em regime fechado, conforme permite a jurisprudência atual do STF. Lula se entregou à Polícia Federal no dia 7 de abril. Esse cenário tem a ver com o fato de ele ser praticamente inelegível, mas não garante que ele esteja fora do páreo.
Isso porque é preciso que o TSE, responsável pela análise do registro das candidaturas de 2018, impugne a candidatura de Lula, que ainda não foi registrada. O prazo final para registro é o dia 15 de agosto. Até lá, Lula – preso ou não – "é candidato", apesar de ser praticamente certo que sua candidatura será cassada. A Lei da Ficha Limpa proíbe candidatos que tenham sido condenados em órgão colegiado (a segunda instância é um deles) da Justiça de concorrer a cargos políticos.
Nesse contexto, o Partido dos Trabalhadores confia - ou diz confiar - que Lula será candidato à Presidência da República. Diversos líderes já afirmaram que irão protocolar seu registro e a pré-campanha do petista foi lançada no início de junho.
A estratégia do partido beira o irreal em um primeiro momento, mas, sob uma análise mais profunda, faz sentido. Em todas as pesquisas eleitorais, Lula ainda é líder com aproximadamente 30%. Em uma eleição pulverizada como a atual, isso garante passagem direta ao segundo turno.
Usando de uma frágil narrativa de perseguição, o partido junta o antagonismo pelo judiciário e o juiz Sérgio Moro com a oposição ao fraco governo Temer para lançar seu líder como candidato, remetendo-se às conquistas e ignorando as ilegalidades dos seus dois governos.
O eleitor lulista acredita somente nessa narrativa. Quando Lula é retirado das pesquisas eleitorais, o número de indecisos, brancos e nulos sobe consideravelmente. Nas pesquisas do Instituto Datafolha de abril e junho, 30% dos eleitores de Lula certamente apoiariam e 17% talvez apoiariam um candidato indicado por ele.
Querendo ou não, Lula é tão importante para essas eleições porque é o único que encanta uma parcela dos brasileiros. Principalmente no Nordeste, o voto no petista é um voto pouco transigente.
Para o PT, adiar ao máximo qualquer tipo de plano B é jogo. Tendo como certo que Lula não concorrerá, a sigla irá gerar ao máximo incertezas eleitorais para, nos 45 do segundo tempo, lançar um outro quadro petista, apostando no poder da transferência de votos de Lula. O PT nem precisa se preocupar em atacar outros partidos e candidatos, uma vez que acredita que a maioria deles – Marina Silva e Ciro Gomes, principalmente – irão definhar até o pleito. Até lá, deixa a sua militância mobilizada e não dá espaços para outros candidatos atacarem o possível substituto de Lula.
O alívio para o mercado é que Lula não irá concorrer às eleições. Ironicamente, mesmo com seu líder preso, o fantasma do PT ainda assombra - e muito. Não por Lula, mas pela sua estratégia política e a possibilidade de outro petista assumir a presidência.