Ação da B3 pouco badalada sobe +26% no mês; alta foi captada por ferramenta de IA
O fim do shutdown nos EUA, após 41 dias de paralisação, é mais do que um alívio administrativo: é um pivô macro com efeitos sobre dólar, Treasuries, prêmio de risco e apetite por ativos globais. Em suma, o Senado aprovou um acordo bipartidário que reabre o governo e financia a máquina federal até 30 de janeiro de 2026, além de contemplar dotações anuais para áreas como Agricultura, Assuntos de Veteranos e construção militar; o texto reverte demissões, garante pagamento retroativo a servidores e agora depende do crivo final da Câmara para ser sancionado. O placar refletiu uma coalizão de republicanos com uma fração de democratas, suficiente para superar a barreira de 60 votos. Para chegar lá, a liderança prometeu pautar, mais adiante, um voto sobre subsídios de saúde do ACA - sem garantia de aprovação na Câmara.
Do ponto de vista de ciclo, o shutdown não foi neutro: atrasou benefícios alimentares, deteriorou o moral do funcionalismo, reduziu a eficiência operacional de agências como FAA e TSA e introduziu ruído nas leituras de curto prazo de atividade, com impacto em companhias aéreas, turismo e cadeias de suprimento – além de manchar a imagem do atual mandatário do país. A reabertura destrava licitações, contratos e desembolsos, libera back pay (com efeito renda concentrado no 1º mês pós-reabertura) e normaliza a coleta de dados oficiais - pontos que reduzem incerteza, mesmo sem resolver a raiz fiscal. Para investidores, isso tende a comprimir parte do prêmio de risco tático em ações cíclicas e crédito/grau de investimento, ao mesmo tempo que pode ampliar a emissão de T-bills no curto prazo, pressionando a ponta curtíssima da curva se o Tesouro correr para recompor caixa – possibilidade levantada pelo mercado.
O desenho do acordo - uma CR longa até janeiro/2026 mais três apropriações anuais - posterga, mas não elimina, o debate fiscal de fundo. O risco é importarmos “mini-cliffs” políticos no primeiro trimestre de 2026, quando o Congresso terá de converter essa ponte em orçamento perene. Isso condiciona o comportamento da curva de juros: alívio imediato no term premium pode conviver com inclinação moderada se a recomposição de caixa vier pesada em bills; já a ponta longa seguirá sensível ao mix de crescimento/inflação e à trajetória de déficit. Para o câmbio, a redução da incerteza tende a fortalecer marginalmente o dólar no curtíssimo prazo via melhora relativa dos EUA frente à Europa e China, mas o efeito não é linear se o mercado interpretar o acordo como mera anestesia fiscal.
Há, porém, oportunidades claras para quem se posiciona antes: empresas expostas a capex federal (defesa, infraestrutura, aeroespacial) devem destravar backlog; small caps intensivas em crédito podem se beneficiar se a melhora de visibilidade reduzir spreads; e exportadoras de commodities veem menor risco de disrupções regulatórias nos portos e inspeções. No crédito, a normalização operacional tende a sustentar IG/curto prazo; em duration, estratégias táticas de “steepener” podem capturar o “reenchimento” de caixa do Tesouro.
O risco principal segue sendo político: a promessa de votar subsídios do ACA comprou tempo, não consenso - se a Câmara rejeitar o pacote ou o transformar em outra rodada de barganha, volta a volatilidade. Em síntese, o acordo é um degelo: alivia o risco de cauda, melhora o “plumbing” da economia e reabre o price discovery; mas mantém, à vista, o debate sobre solvência fiscal que ditará o humor dos mercados em 2026 – isso sem deixar de lado a metralhadora tarifária do Trump, mesmo apresentando balas de festim, ainda faz barulho e assusta os mais vulneráveis.
