O impasse no Senado e o custo político do shutdown americano

Publicado 22.10.2025, 15:14
Atualizado 22.10.2025, 15:14

O maior poder econômico do mundo vive, mais uma vez, o paradoxo da paralisação. O governo dos Estados Unidos, símbolo de previsibilidade institucional, está há dias com parte de suas operações suspensas. Agências reguladoras, tribunais e órgãos federais começam a sentir o impacto da falta de recursos, enquanto o Congresso permanece incapaz de chegar a um acordo que permita reabrir o governo. Mas a crise vai muito além da questão orçamentária: ela expõe um desgaste político profundo e coloca em dúvida a capacidade de coordenação entre os poderes em Washington.

A décima segunda tentativa de aprovar uma resolução contínua (CR) no Senado terminou, novamente, em fracasso. O placar de 50 votos favoráveis e 43 contrários ficou distante dos 60 necessários para avançar, refletindo o impasse entre democratas e republicanos. Enquanto isso, o Poder Judiciário iniciou o envio de avisos de suspensão para cerca de 1.250 funcionários do Escritório Administrativo dos Tribunais, e a Administração Nacional de Segurança Nuclear anunciou a paralisação temporária de 1.400 servidores. O governo garante que o pessoal essencial permanecerá em atividade, mas o impacto operacional cresce a cada dia, e a confiança, interna e externa, começa a se deteriorar.

Nos bastidores, há sinais de que ambos os partidos reconhecem a necessidade de encerrar o impasse. Reuniões internas têm buscado medir o custo político da paralisação e a pressão da opinião pública, que aumenta conforme os serviços básicos são afetados. Fontes próximas afirmam que o presidente Donald Trump teria recebido indicações de que os democratas poderiam apoiar a reabertura do governo em alguns dias, caso houvesse concessões pontuais. Mesmo assim, as principais plataformas de previsão, como Polymarket e Kalshi, mostram que 75% dos operadores acreditam que o shutdown deve continuar até pelo menos o final de outubro, sendo um indicativo de que o mercado aposta em uma solução ainda distante.

O Escritório de Gestão e Orçamento da Casa Branca, por sua vez, indicou estar preparado para suportar a paralisação até que um acordo seja fechado. Após o fracasso da votação de ontem, nenhuma nova sessão foi oficialmente agendada para hoje, e o líder republicano John Thune sinaliza que as votações devem ser retomadas apenas amanhã. O objetivo é tentar costurar um consenso mínimo entre os dois partidos, seja em torno de uma CR limpa, sem emendas, ou de um texto com cláusulas relacionadas à política de saúde, que dificilmente agradará aos democratas.

Enquanto isso, o tempo corre. A paralisação já atinge áreas sensíveis, aumenta o risco de atrasos em dados econômicos e cria ruídos para investidores e agentes de mercado. Cada dia sem acordo amplia a incerteza fiscal e reforça o desgaste da imagem política americana, num momento em que a economia ainda tenta sustentar o ritmo de crescimento diante de juros altos e volatilidade cambial. Não há, por enquanto, um sinal claro de desfecho, mas cresce a percepção  de que o custo político de manter o impasse pode se tornar insustentável. E, como a história mostra, quando a política para, o mercado costuma reagir primeiro.

1. O que mudou nas últimas 24 horas

No Senado dos EUA, tentou-se pela décima segunda vez aprovar uma resolução contínua (CR) para reabrir o governo. Mais uma vez, a tentativa fracassou devido ao voto contrário do bloco democrata e à impossibilidade de alcançar os 60 votos necessários para avançar. O resultado foi de 50 votos a favor contra 43 contra (e 7 ausências).

O Poder Judiciário dos Estados Unidos (regime de tribunais federais) começou a enviar avisos de suspensão de emprego (furloughs) para cerca de 1.250 funcionários do Escritório Administrativo dos Tribunais dos Estados Unidos, uma vez que os fundos disponíveis se esgotaram após a paralisação. 

A Administração Nacional de Segurança Nuclear anunciou que 1.400 funcionários federais serão temporariamente suspensos, o que marca uma escalada do impacto operacional da paralisação em áreas críticas. Informam, no entanto, que o pessoal essencial permanecerá em atividade.

2. Pontos-chave da negociação e concessões

Ouvimos alguns sinais de que os dois blocos (democratas e republicanos) estariam considerando que é hora de resolver a paralisação. Há reuniões dentro de cada grupo neste momento, nas quais estaria sendo debatida a questão da pressão social pela paralisação e a maneira de superar o impasse. Algumas fontes (bem conectadas) afirmam que o presidente Trump teria recebido insinuações dos democratas de que apoiariam uma eventual reabertura do governo caso isso durasse mais alguns dias. 

Nas principais plataformas de previsão (Polymarket e Kalshi), 75% dos mais de 2 milhões de participantes/operadores estimam que o shutdown não será resolvido antes de 30 de outubro. Embora essas sejam ferramentas de previsão a serem consideradas, essas plataformas podem mudar drasticamente em questão de minutos.

O Escritório de Gestão e Orçamento (OMB) da Casa Branca indicou que está preparado para “aguentar a situação” do fechamento até que o financiamento seja acordado.

3. O que acompanhar a seguir (prazos, etapas processuais)

Após o fracasso da votação número 12 (durante a noite de ontem), não foi oficialmente agendada uma nova votação sobre a resolução contínua (CR) no Senado para hoje (21). A Câmara está em sessão pro forma e não prevê moções de procedimento nem “cloture votes” até novo aviso. Mas, de acordo com fontes do Politico e do Roll Call, o líder da maioria John Thune (republicano) pretende retomar as votações amanhã, terça-feira, 22 de outubro, à tarde.

Vamos acompanhar se pelo menos um pequeno bloco de senadores de ambos os partidos concordará com um texto que seria votado favoravelmente: poderia ser uma CR limpa (se os democratas cederem) ou com uma cláusula sanitária sobre a ACA (se os republicanos cederem).

Fique atento aos relatórios do OMB sobre quando as agências federais começarão a ficar totalmente inativas ou sem fundos, o que poderia acelerar a pressão política.

Acompanharemos possíveis declarações do Executivo de Donald Trump que indiquem uma mudança de foco para negociações diretamente com os democratas ou maiores cortes programados.

Nada de novo no horizonte. A pressão social sobre os senadores está aumentando, e chegará o momento em que será impossível manter essa posição.

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