O investidor pessoa física precisa de menos opinião e mais processo

Publicado 01.08.2025, 06:35

Nos últimos anos, houve uma verdadeira explosão de conteúdo sobre investimentos na internet. Lives, podcasts, vídeos curtos, newsletters e relatórios feitos por gurus e influenciadores disputam nossa atenção com promessas de ganhos rápidos, análises de curto prazo e previsões que soam convincentes — até que deixam de ser. O problema é que esse excesso de opinião, muitas vezes não testada, enviesada ou baseada em narrativas frágeis, acaba atrapalhando mais do que ajudando. O investidor pessoa física, que já enfrenta um ambiente de incertezas e ruídos, acaba soterrado por um excesso de vozes, muitas das quais não têm compromisso com processo, só com visibilidade.

A verdade é que investir bem não exige acertar previsões. Exige ter um processo claro e consistente. Um processo é, essencialmente, um conjunto de princípios e práticas que orientam a tomada de decisão, independentemente do ruído do mercado. É o que separa o investidor sério do apostador disfarçado. Quem entra na Bolsa procurando “a próxima oportunidade de mercado” ou esperando dobrar o patrimônio com uma cripto em alta, está mais próximo de um jogador de pôquer do que de um alocador racional de capital.

Um processo robusto começa por reconhecer os próprios limites. O investidor individual raramente terá acesso à alguma informação não-precificada ou à capacidade analítica de uma grande gestora. E tudo bem. Grandes investidores, como Howard Marks, Ray Dalio ou mesmo Warren Buffett, não construíram suas fortunas com base em previsões precisas sobre o futuro. Eles trabalham com cenários, margens de segurança e disciplina. Eles sabem que, no mercado, o desconhecido sempre terá peso. E, por isso, constroem estratégias que funcionam mesmo quando estão errados, como Ray Dalio com o seu “All Weather Portfolio”.

Ter um processo significa entender que rentabilidades passadas não garantem retornos futuros — e, muitas vezes, são apenas ruído estatístico. Significa valorizar a diversificação, não como um clichê, mas como um reconhecimento de que o erro é inevitável. Significa prestar atenção aos custos — de corretagem, de administração, de carregamento — que corroem o retorno no longo prazo de maneira silenciosa. Significa manter liquidez suficiente para não precisar vender ativos em momentos ruins, quando o pânico atinge o mercado. E, talvez mais importante que tudo, significa desenvolver a musculatura emocional para resistir à tentação de agir por impulso, seja por ganância ou por medo.

A maioria dos investidores perde dinheiro não porque escolheu o ativo errado, mas porque reagiu mal ao mercado. Comprou no topo com medo de “ficar de fora” e vendeu no fundo por medo de perder tudo. Esse padrão se repete ano após ano. E só muda quando o investidor substitui a ânsia por acerto por um compromisso com o processo.

No Brasil, onde a educação financeira ainda engatinha e a memória inflacionária dos anos 80 e 90 incentiva decisões de curto prazo em muitos investidores, essa discussão é especialmente relevante. A democratização do acesso à renda variável foi um passo importante, mas precisa vir acompanhada da democratização do pensamento de longo prazo. Isso exige mais do que gráficos bonitos ou frases de efeito. Exige uma mudança de mentalidade.

Por isso, talvez o melhor conselho que um investidor iniciante possa ouvir não seja “compre ações”, “compre Tesouro Direto” ou “fuja de FIIs”. O melhor conselho é: construa um processo. Porque é o processo — e não a última opinião da internet — que vai determinar se você conseguirá investir por 10, 20, 30 anos com consistência. E, no fim das contas, é isso que realmente importa.

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