Não se mova
Decisão do Fed, ontem, foi em linha com o esperado e deixou porta aberta para a elevação dos juros em dezembro - tudo conforme o esperado, e portanto não fez preço. Tanto pedi que, finalmente, o mercado deixou os juros de lado para focar em outra coisa: o jogo, no momento, é a eleição.
Números mais recentes voltam a apontar favoritismo de Hillary, mas agora a possibilidade de vitória de Trump é vista como real e investidores ajustam suas posições. Tal qual numa mesa de pôquer, não é hora de movimentos bruscos por lá.
Cautela se reflete no Brasil, com bolsa local sem direção e contrariando a expectativa de ajuste à performance de ontem dos ADRs lá fora.
Empurrar com a barriga vale, sim
Destaques locais ficam para o julgamento no STF de ação que pode afetar Renan e para as articulações em torno da reforma da previdência.
No front previdenciário, o governo trabalha para encaminhar o projeto para o Congresso já na semana que vem. A reforma será "a possível", afirma Eliseu Padilha, e não vai resolver definitivamente o rombo.
Será a melhor estratégia? Tenho minhas dúvidas. Ouso dizer que o governo erra ao dispender capital político em algo que terá que ser revisitado em 10 anos (e ainda por cima admitir isso).
Mas sinceramente, duvido que alguém ligue para esse detalhe: o importante é que haja reforma, cuja aprovação será aplaudida pelo mercado - que, cá entre nós, nunca se importou em empurrar problemas para a frente.
Exemplo? Euro.
No front judiciário, STF deve julgar hoje recurso da Rede (por onde anda Marina Silva, aliás?) que serviu de base para afastar Eduardo Cunha da presidência da Câmara. A tese é de que quem responde a inquéritos não pode ocupar a linha sucessória presidencial.
Pau que bate em Chico também tem que bater em Francisco, em Eduardo e em Renan. Aguardemos.
Novela do Brexit longe do fim
O Banco da Inglaterra não somente nada fez com as taxas de juros no momento, como ainda deixou de lado a sinalização anterior de que poderia vir a reduzi-las. Mark Carney fala, agora, na possibilidade de elevá-las a depender da evolução da inflação no reino de Elizabeth II.
Aqui jazem as profecias apocalípticas do Brexit.
Mas o fato acabou deixado de lado por conta de uma decisão do judiciário britânico, que condicionou o prosseguimento do divórcio com a UE à aprovação do Legislativo. Na expectativa de que os parlamentares contrariem o resultado do referendo, libra esterlina se valoriza fortemente hoje.
Theresa May já avisou que não retrocede. "The lady's not for turning."
Mais ou menos, mais ou menos
O Banco do Japão manteve sua política monetária inalterada. Recompras seguirão no mesmo ritmo de "mais ou menos 80 trilhões e ienes".
A inflação segue (bem) abaixo da meta, e Haruhiko Kuroda, face da autoridade monetária japonesa, já admite quea situação não deve mudar durante seu mandato, que termina em abril de 2018. Jogou a toalha.
Lembram quando o mercado estava em frenesi com os estímulos no Japão, logo após o Brexit? "Abenomics 2.0"? "Dinheiro de helicóptero"? Pois é... esse tiro foi "água".
Por que falo nisso? Alguns mais saidinhos já estavam vendo a experiência japonesa como um balão de ensaio do que poderia ser feito na União Europeia a partir do momento em que Draghi começar a reduzir estímulos por lá. Melhor procurarem respostas em outro lugar.
Bacen Sem Partido
Já por aqui, diretores do BC afirmaram que a autoridade monetária não tem como atribuição "doutrinar" o mercado de DI. Não mesmo: a defensora de tentar domar os mercados na base do grito foi extirpada do Planalto.
Que alívio saber que não teremos "ocupação" e "saiaço" no Banco Central, aliás.
Os economistas do BC estão pessimistas com atividade econômica, mas fecham consenso quanto à convergência da inflação para a meta.
Ótimo: o BC tem um objetivo e vai cumpri-lo - e não é promover crescimento econômico, pois essa atribuição não é deles. Foquem na inflação, sim?
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