Todos nós já estamos cansados de ouvir que a diversificação reduz o risco. Segundo a teoria financeira, o risco de uma ação é medido pelo seu desvio-padrão, ou seja, a sua volatilidade. No entanto, existe um “lado negro” da diversificação que é pouco abordado: ela reduz o potencial de ganho.
Se calcularmos o desvio-padrão de um portfólio com uma ação, duas, três, e assim por diante, teremos algo como o gráfico abaixo. O eixo vertical representa o desvio padrão do portfólio, e o eixo horizontal, o número de ações compondo este portfólio.
Como podemos ver, à medida em que adicionamos ativos em nossa carteira, podemos reduzir o risco de nosso portfólio pela metade. Note também que a maior parte do benefício é atingido com poucas ações. Depois disso, a redução marginal do risco vai se deteriorando, ou seja, não faz muita diferença possuir 21 ou 29 ativos.
Isso ocorre pois existem dois tipos de risco, e somente um pode ser completamente eliminado pela diversificação. Este é o chamado risco específico, que diz respeito aos riscos que cercam uma empresa individualmente e são peculiares a ela e seus concorrentes imediatos.
O outro risco, que não se pode evitar independentemente do quanto se diversificar, é o risco de mercado, ou seja, os riscos da economia que ameaçam todas as empresas.
A diversificação funciona porque os preços das ações não se movem exatamente juntos, ou seja, não são perfeitamente correlacionados. É claro que ações de um mesmo setor tendem a se mover mais conjuntamente do que ações de setores não relacionados.
Dessa forma, é importante construir um portfólio estratégico com setores diferentes. Minha recomendação é que você não exponha mais de 30% de sua carteira de investimentos em um único setor. Assim, você pode ter, por exemplo, Suzano (SA:SUZB3) e Klabin (SA:KLBN11), desde que não ultrapassem o limite de 30%.
O gráfico acima demonstra um portfólio somente com ações da Ford, um portfólio somente com ações da mineradora Newmont e um portfólio dividido igualmente entre as duas. Como podemos ver, as ações não se moveram da mesma forma, e um declínio no preço da Newmont foi compensado por um aumento no preço da Ford. Portanto, um portfólio dividido entre ambas teria reduzido as flutuações mensais de seus investimentos.
Mas, como também podemos ver no gráfico acima, um portfólio somente de Ford teria performado melhor do que um portfólio igualmente dividido com a Newmont ou outro feito somente com a Newmont.
Warren Buffett gosta de dizer que uma das razões para o seu sucesso foi o fato de não ter tido medo de apostar alto em suas melhores ideias. Segundo ele: “A estratégia que adotamos nos impede de seguir o dogma-padrão da diversificação. Muitos gurus diriam, portanto, que essa estratégia deve ser a mais arriscada do que a empregada por investidores mais convencionais. Na verdade, acreditamos que uma política de concentração de portfólio pode diminuir o risco se aumentar, como deve ser, tanto a intensidade com que o investidor pensa no negócio como o nível de conforto que ele sente com suas características econômicas antes de comprá-lo”.
Buffett entende que grandes ideias só ocorrem em raras ocasiões. Por isso, ele mantém o padrão elevado, investindo apenas em ótimas ideias e apostando alto quando se depara com uma delas.
Segundo o Oráculo de Omaha, seu histórico mostra que não é preciso estar certo muitas vezes na vida, uma vez que foram 12 decisões de investimento ao longo de seus 40 anos de carreira que fizeram toda a diferença. Para se ter uma ideia, historicamente, mais de 75% das participações em ações da Berkshire Hathaway foram representadas por apenas cinco empresas diferentes.
Sendo assim, um portfólio concentrado pode reduzir o risco pois obriga o investidor a ser mais cuidadoso e minucioso em suas escolhas.
Estou dizendo para você não diversificar?
De forma alguma! No entanto, você deve tomar cuidado para não comprar tantas ações a ponto de parecer um índice do mercado financeiro (rs). Foque em de 15 a 20 ativos de alta qualidade, os quais você entenda bem, de setores e países diferentes e deixe o resto com o longo prazo e os juros compostos. Mas, lógico, sempre acompanhando a posição para ver se aqueles ativos não perderam valor.