Rotação do ouro para o Bitcoin reacende otimismo no mercado cripto
O cenário monetário global vive um raro momento de convergência: Estados Unidos, Europa e China adotam posturas distintas, mas todas movidas pelo mesmo dilema — como sustentar o crescimento sem reacender a inflação. A era dos juros extremamente baixos acabou, mas o mundo ainda tenta entender qual é o novo “normal” da política monetária.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve mantém a taxa de juros entre 4,25% e 4,50%, refletindo o impasse entre inflação persistente e enfraquecimento do mercado de trabalho. Em discurso recente, Jerome Powell admitiu que o ritmo de contratações diminuiu e que a inflação, especialmente no núcleo (PCE), voltou a subir, girando em torno de 2,9%. O presidente do Fed foi direto: “não há caminho sem risco”.
Essa frase resume a posição atual da autoridade monetária — qualquer movimento abrupto, seja de corte ou manutenção, pode gerar efeitos colaterais. O Fed, portanto, deve seguir com ajustes graduais e comunicados cautelosos, tentando equilibrar as pressões políticas e a necessidade de preservar credibilidade.
Na União Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de refinanciamento em 2,15% e a de depósito em 2,0%, sinalizando uma pausa estratégica. Christine Lagarde reforçou que, embora a inflação esteja cedendo, ainda não há espaço seguro para cortes adicionais. As projeções oficiais apontam para uma inflação média de 2,1% em 2025, com queda para 1,7% em 2026 — próximas da meta, mas ainda vulneráveis a choques externos.
Pierre Wunsch, membro do conselho do BCE, destacou que “as chances de novos cortes estão diminuindo”, já que a economia europeia mostra alguma resiliência, mesmo com a indústria patinando. O BCE, portanto, opta pela estabilidade: nem estímulo, nem aperto. Uma política de “esperar para ver”.
Enquanto isso, na China, o Banco do Povo (PBoC) manteve a taxa de referência (Loan Prime Rate) em 3%, reforçando uma estratégia de estabilidade monetária. A meta é sustentar o crédito e a confiança interna, sem pressionar o câmbio nem alimentar bolhas.
O resultado global é um novo equilíbrio de juros:
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os EUA enfrentam uma inflação que se recusa a ceder;
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a Europa busca consolidar a credibilidade de sua política;
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e a China prioriza a estabilidade diante de incertezas externas.
Três estratégias diferentes, um mesmo desafio: navegar num mundo onde o custo do dinheiro voltou a ser um instrumento de poder e prudência. A economia global parece, enfim, ter saído da fase da emergência — mas ainda não entrou em um ciclo de confiança.