A profecia autorealizável
Agora órfãos da temporada de resultados e com a agenda de indicadores econômicos vazia, nos concentramos em algumas parcas referências do noticiário corporativo.Temos, assim, uma segunda-feira xoxa para os mercados.
Com tudo mais constante, ou relativamente estável, sobressai a referência negativa para as ações da Vale. Interpretada na Bolsa como uma derivada dos preços do minério de ferro no mercado internacional, Vale apanha com a queda da matéria-prima no mercado à vista chinês para o menor patamar desde setembro de 2012, na casa de US$ 100 por tonelada.
Seria um acerto dos analistas de grandes bancos, que há tempos alertam para o risco de queda nos preços deste mercado? Não deixa de ser. Como não deixa de ser uma profecia autorealizável.
A minha profecia
Rodei o meu modelo de projeções aqui, com uma infinidade de variáveis escoradas em uma série de premissas, e cheguei à conclusão de que o preço médio do minério de ferro será de US$ 106,476 a tonelada no final do ano.
Menos, muito menos...
Embora muitos não aceitem, a realidade é que ninguém sabe para onde a economia chinesa vai. Tampouco se as projeções em questão tomam por base dados minimamente confiáveis - credibilidade dos dados nunca foi o forte de nossos amigos chineses. Ou seja: já é complicado tomar por base quaisquer projeções, ainda mais essas.
Nesta história, as premissas (fatos) que pondero são:
- negociando a 6x lucros, abaixo do valor patrimonial e pagando mais de 6% ao ano de dividendos, as ações da Vale incorporam um cenário de grande estresse no minério;
- tem muita capacidade nova entrando em operação (aumentando a oferta), mas também é verdade que um minério muito abaixo de US$ 100 por ton acaba expulsando o produtor marginal, aquele que não tem vantangens de escala e tem a viabilidade comercial de sua produção ameaçada (pressionando a oferta).
Volatilidade (só que não)
Contrapondo a montanha-russa do minério de ferro, chegamos ao paradoxo da volatilidade.
Qual seria o antônimo de volátil? Invariável, estável, já volto tia, constante...Ou, simplesmente “VIX”.
Ironicamente, o índice de volatilidade é quem menos tem variado. Nos últimos doze meses o VIX ficou relativamente estável, dando conforto a um rali sem contratempos para as ações americanas.
Abaixo, a relação entre o indicador do medo (volatilidade) e a Bolsa americana (S&P 500):
A coisa tem funcionado mais ou menos assim nos últimos anos: quando o Vix se aproxima de 10 pontos o mercado começa a dar sinais de euforia (compre Vix), quando ultrapassa 20 pontos, sugere um nível de estresse exacerbado (venda).
Hoje, o indicador de volatildade opera na casa de 12 pontos (o gráfico captura fechamento anterior). Nesses níveis, a assimetria (entre espaço para alta e baixa do indicador) começa a ficar favorável.
O gráfico do VIX hoje remete ao meu finado Dobermann Baiser... Quando a coisa ficava muito quieta, a certeza era de que algo estava fora do lugar. E geralmente fedia.
Para mexer com o medo
Comprar VIX é uma forma de se comprar a volatilidade do mercado, apostar nas variações de estresse dos investidores. Mas o que poderia fazer o VIX variar?
• algum conflito às vias de fato na Rússia/Ucrânia
• alguma surpresa negativa da sempre incógnita China
• um cisne negro (black swan): evento raro, difícil de prever e de grande impacto
• alguma surpresa a partir do Fed
•
Quem pode fazer feder?
• Esta semana tem reunião do Fed.
Oportunidade com opções
Difícil saber o que virá da próxima reunião do Fed, mas já tem muita gente lá fora desconfortável com a quietude insistente do VIX.
Como alternativa ao VIX (de difícil acesso para o investidor de varejo), temos recomendado aos investidores se proteger da instabilidade dos mercados via opções, estabelecendo travas seguras entre ações & opções.Temos conseguido picos de rentabilidade expressivos em nossa carteira semanal de opções.
Por outro lado, muita gente ainda tem dificuldade de operar opções, não vê como algo seguro, ou simplesmente nunca o fez.
O nosso problema
Interessante que o desdobramento natural à alta do “indicador do medo” costuma ser a queda das Bolsas, mas, pelo gráfico, parece que os últimos sobressaltos do VIX não provocaram grande trauma às ações americanas.
O(s) problema(s)?
1) Os emergentes (nós) costumam amplificar os movimentos do indicador do medo, vide o comparativo do gráfico abaixo (VIX emergente em azul).
2) O nosso indicador de volatilidade destoou do comportamento histórico, buscando uma convergência com o indicador americano.
3) As Bolsas emergentes não têm mostrado a mesma resiliência às variações do indicador de volatilidade. Ainda mais a nossa.
A gente se vê.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.