Equilíbrio instável
É hoje que eu vou ganhar dinheiro na Bolsa! Tô com a grana na mão pra investir!
O dia é de mercados estáveis lá fora. Nos Estados Unidos, atenções voltadas à possível elevação de juros pelo FOMC na próxima semana. Repercute também nova investida de Trump contra a indústria farmacêutica. Na Europa, dados econômicos aquém do esperado e expectativas em torno da reunião do Banco Central Europeu nesta quinta completam o cenário.
No plano de fundo, destaque para o recrudescimento do discurso da Coreia do Norte após novos testes balísticos, e para ecos da sinalização chinesa de menor crescimento econômico à frente.
Por aqui, Bolsa tem leve queda. Principais ganhadores são nomes locais. Juros sem tendência e dólar em queda significativa.
O que importa é o que está por vir
Tá, mas e aí? O que que é pra comprar? Tô que tô, pronto pra ganhar!
PIB do 4T16 veio abaixo da expectativa de mercado. E daí?
Tivesse vindo acima, a narrativa do mercado seria “eis os primeiros sinais de recuperação”. Como não foi, leitura é “o passado não importa; olhemos para o que vem pela frente”.
Dou de ombros: me interessam mais os sinais, ainda sutis, de melhora da atividade. Quando tudo isso se traduzir em PIB, já foi.
Ainda hoje, Temer deve anunciar a inclusão de uma boa leva de projetos no Programa de Parcerias de Investimentos. É grande a disposição do governo em atrair capitais para infraestrutura.
Coisa que só se consegue com baixa incerteza regulatória e retornos adequados. É bom o trabalho feito até aqui neste front. Se suficiente, só o tempo dirá.
Excesso de convicção?
Mas que saco! Chega de nhe-nhe-nhé! Me diz o que eu compro pra ganhar dinheiro!
No aguardo do último IPCA, nesta sexta, mercado segue convicto na aceleração dos cortes da Selic na próxima reunião do Copom. Beira 80 por cento a probabilidade implícita nas taxas de mercado para 100 pontos de corte em abril.
Prevaleceu a leitura de que só não foi assim na última porque Ilan já estava comprometido com os 75. Daí a tomar a intensificação dos cortes como certeza, vai alguma distância.
Importante ter em mente que o Comitê sempre pontuou a importância de avanços no front fiscal para a continuidade do ciclo, e que a próxima reunião acontece dias antes da potencial primeira votação da PEC da Previdência na Câmara.
Seria caso de, mesmo antes da votação, colocar o pé no acelerador? Ou será que, talvez, o mercado possa estar mais convicto do que devia nos 100 pontos?
BCE em foco
Tá, mas e Merposa? Tá subindo 800 por cento no ano; acha que ainda dá pra entrar?
Novas encomendas da indústria alemã apresentaram queda mensal de 7,4 por cento em janeiro contra dezembro — maior variação em oito anos. Muito embora o dado seja reconhecidamente volátil, foi o suficiente para culminar em retração na Bolsa de Frankfurt.
Apoio dos Republicanos à manutenção da candidatura de François Fillon, que enfrenta acusações de nepotismo, reduzem a percepção de risco com relação à eleição francesa, mas não o suficiente para reverter dia de queda em Paris.
Atenções no Velho Continente se concentram na reunião do Banco Central Europeu, em momento no qual inflação do bloco ultrapassa a meta e indicadores de atividade são predominantemente bons.
O pior medo de todos
Cansei de conversinha mole. Olha lá, ó! Merposa abriu com 15 de queda. Oportunidade! Assim que se ganha dinheiro! Comprei tudo! Agora é só esperar subir! Vai, foguete da Bolsa!
O pior medo que existe é o medo de ficar de fora; de ser o pato que deixou a “grande oportunidade da vida” passar porque não agiu. Quando este medo cresce a ponto de suprimir o medo de perder, de fazer bobagem com poupanças construídas à base de muito esforço, é hora de parar e pensar.
Será que a sensação de ter ficado “para trás” (de quem?) não está contribuindo para que você incorra em riscos demais?
Agora imagine a soma de um sem-número de indivíduos agindo assim…
Quando foi a última vez que você deu uma olhada na composição da sua carteira e refletiu sobre os riscos das suas posições?
Melhor se preparar primeiro.