Warren Buffett possui uma ideia de investimento que todos temos que ter sempre em mente: devemos investir principalmente em ativos que conhecemos. E o mercado de criptoativos não é exatamente fácil de conhecer. Particularmente, a criptografia e a teoria dos jogos subjacente a um Bitcoin já não é simples; o IOTA, com o perdão da piada ruim, dá um nó na cabeça de qualquer um não treinado em teoria das probabilidades. Entretanto, há o famoso FOMO – acrônimo para Fear Of Missing Out (medo de ficar de fora) – e há uma tendência a talvez entrar em todo projeto que pareça interessante.
Ambos os pontos tem certa razão. Por exemplo, 1% num ativo como Cardano não necessariamente não é má ideia: se ele valorizar 2000%, há um retorno considerável. Projetos ainda menores, como Chainlink, oferecem oportunidades ainda maiores. Entretanto vale a pena se perguntar se vemos isso acontecendo com muitos projetos novos: vivemos num mundo onde há muitos projetos interessantes e de pouco valor se comparados ao Bitcoin – Decred, Basis, ZCash e tantos outros – mas todos patinam em galgar posições rumo ao top 10 de criptoativos. Há, possivelmente, limites para a diversificação trazer bons retornos.
Outro investidor bem sucedido, Ray Dalio, afirmar que um dos seus princípios é procurar diferentes fontes de retorno não correlacionadas; em outras palavras, diversificar seus investimentos. Porém, mesmo essa ideia se mantém difícil nas criptomoedas. A correlação entre os principais ativos não é desprezível, conforme uma breve análise estatatística revela. Nesse caso, há uma exposição a um fator generalizado de risco do mercado de criptos como um todo – estatisticamente um único elemento pode ser atribuído a variação considerável em todas as maiores criptomoedas.
Nesse caso, vale mesmo o argumento da diversificação? Há um argumento que justifica ainda defender a exposição a um número razoável de criptomoedas: querer capturar o movimento desse fator de mercado como um todo. Apesar de ser desejável entender profundamente os ativos, nem todos investidores são capazes disso, e é possível estar comprado na ideia de criptomoedas gerarem valor a longo prazo. Nesse caso, não é necessário compreender uma a uma as moedas e a diversificação permite capturar o retorno de mercado, similar ao que os índices de ações fazem.
Porém fica a pergunta inicial: o quanto diversificar? Há análises estatísticas que sugerem que 19 criptomoedas formam um índice suficientemente confiável para capturar a parte líquida do mercado. Essa análise, feita pela Universidade Humboldt de Berlim e disponibilizada via índice e artigos acadêmicos neste site, permite saber como o mercado como um todo anda. Em diversos países, fundos replicando índices estão disponíveis. Nesse caso, os diferenciais são maiores cuidados com armazenamento e segurança dos criptoativos, fatores não desprezíveis onde até exchanges são hackeadas.
Em suma, creio que a necessidade de diversificação depende do objetivo do investidor. Se ele quiser apostar firmemente em ideias próprias sobre o mercado cripto, ter posições mais salientes em alguns ativos faz sentido. Entretanto, se a ideia for investir na ideia do mercado e assumir certa ignorância sobre o futuro das tecnologias – o que é razoável e salutar, já que não temos bolas de cristal – replicar índices e ter um bom número de criptomoedas não é de todo uma má ideia.