Dólar em foco: Rejeição de MP no Congresso e novas tensões entre EUA e China

Publicado 15.10.2025, 09:01

O USD/BRL operou em níveis de recuperação e com alta volatilidade na última semana, com uma alavancagem drástica na sexta-feira (10) devido à uma conjunção de fatores. O dólar começou a semana cotado a R$ 5,3137 no fechamento de 06/out, e encerrou o período valendo R$ 5,5222 em 10/out – uma valorização de 3,92% na semana. Apenas na sexta-feira, a moeda americana valorizou cerca de 2,85%, registrando o maior salto diário dos últimos dois meses, refletindo a aversão ao risco global e preocupações fiscais domésticas.

Desempenho Semanal do USD/BRL entre 06/out/2025 e 10/out/2025

Fonte LSEG / Hedgepoint

O que aconteceu no Brasil?

Os indicadores econômicos do Brasil permaneceram estáveis, conforme leitura do Boletim Focus da semana, sem alterações para câmbio, Selic e PIB.

Os fatos de maior relevância ocorreram no âmbito político, com decisões do governo marcando o cenário doméstico. No início da semana, o governo obteve o primeiro nível de aprovação da MP 1303, que elevaria a tributação de aplicações financeiras (IOF), em uma votação apertada e com ressalvas na Câmara: 13 votos a 12, passando para apreciação do Congresso. Entretanto, a mesma medida foi engavetada, forçando a equipe econômica a buscar alternativas para equilibrar as contas públicas.

Essa situação, aliada ao receio do mercado de que o governo — já buscando estratégias de reeleição para 2026 — comece a adotar medidas populistas, ampliou os temores de um colapso fiscal à medida que se aproxima o período eleitoral.

Ainda na mesma semana, o IPCA de setembro foi divulgado com um aumento de 0,48%, ante uma leve deflação em agosto. Os valores permanecem sob controle, mas acendem um sinal de alerta para possíveis desdobramentos e pressões sobre cortes na taxa Selic no início de 2026.

IPCA para setembro de 2025

Fonte IBGE / Hedgepoint

Na última sexta-feira, 10/out, foi anunciado um programa de crédito habitacional voltado à classe média para financiar moradias e reformas. Essas decisões visam estimular a economia e cumprir promessas sociais, mas geraram alerta entre investidores quanto ao compromisso com a meta de déficit zero no próximo ano.

O resultado foi um aumento do prêmio de risco Brasil e pressão de alta sobre o dólar, diante do temor de deterioração fiscal. Em função desse receio, o USD/BRL fechou a sexta-feira com alta de 2,85%, cotado a R$ 5,5222.

Estados Unidos

A semana nos EUA foi dominada por embates políticos acirrados, especialmente em torno do orçamento federal. O governo Trump enfrentou um forte impasse com o Congresso, resultando na continuidade do shutdown iniciado em 1º de outubro. Republicanos e democratas travaram uma batalha de narrativas e condições.

De um lado, a oposição democrata no Senado recusou-se a aprovar a reabertura do governo sem garantias, como a extensão dos subsídios ao Obamacare e a reversão de cortes em programas sociais.

Do outro lado, os republicanos exigiram que o governo fosse reaberto primeiro, sem que as concessões propostas fossem incluídas de imediato. Eles defendem maior rigor fiscal, cortes em áreas consideradas “menos prioritárias” e condicionam concessões às negociações subsequentes.

O resultado foi um impasse profundo, no qual cada lado acusa o outro de travar o processo para obter vantagens políticas, em especial à medida que as eleições de meio de mandato se aproximam.

A paralisação parcial do governo federal dos EUA entrou em sua segunda semana com efeitos crescentes. Centenas de milhares de funcionários públicos considerados “não essenciais” permaneceram em casa sem salário durante esse período. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, alertou, no 13º dia de shutdown (segunda-feira, 13), que a situação estava “começando a afetar a economia real” de forma séria. Economistas estimam que cada semana de governo fechado reduz o crescimento do PIB em cerca de 0,1 a 0,2 ponto percentual, além de representar até US$ 15 bilhões em perda de atividade semanalmente.

Quanto aos dados econômicos, o governo anunciou que está trabalhando para divulgar os dados de empregos da economia americana no final de outubro, mais precisamente no próximo dia 29. Economistas e analistas trabalham às cegas em relação aos dados de geração de empregos nos Estados Unidos — número imprescindível para o Fed definir os próximos passos em relação aos cortes de juros, que ainda são esperados em pelo menos duas ocasiões em 2025.

Ainda na sexta-feira (10), o presidente Donald Trump elevou o tom na disputa comercial com a China. Em meio a crescente tensão sobre tecnologia e minerais estratégicos, Trump ameaçou impor tarifas de até 100% sobre todas as importações chinesas a partir de novembro. Essa declaração — uma resposta às restrições da China à exportação de terras-raras — sinalizou uma escalada drástica na guerra comercial sino-americana e causou forte aversão ao risco nos mercados globais naquele dia. No entanto, já no domingo (12), Trump adotou um tom mais moderado. Pelo Truth Social, Trump afirmou aos investidores: “Não se preocupem com a China, vai ficar tudo bem!”

Pelo Mundo

No Oriente Médio, o destaque foi o anúncio de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, mediado pelo Egito e apoiado pelos Estados Unidos e pelas Nações Unidas. O acordo buscou encerrar semanas de confrontos na Faixa de Gaza, que vinham elevando as tensões geopolíticas globais. O anúncio reduziu momentaneamente a aversão ao risco nos mercados internacionais, contribuindo para o alívio em ativos emergentes, inclusive no câmbio brasileiro — ainda que de forma limitada.

Na Europa, além do ambiente econômico, o fato político mais marcante foi a renúncia do primeiro-ministro da França. A decisão ocorreu em meio a pressões políticas internas relacionadas ao orçamento e às dificuldades de governabilidade. O episódio adicionou volatilidade ao euro e trouxe preocupações sobre a estabilidade política na União Europeia, já que a França é uma das maiores economias do bloco.

Conclusão

A semana foi marcada por forte volatilidade nos mercados, refletida na expressiva valorização do USD/BRL impulsionada por fatores internos e externos. No Brasil, a rejeição da MP 1303 e o anúncio de medidas econômicas com viés populista aumentaram os temores fiscais, elevando o prêmio de risco e pressionando o câmbio. A alta do IPCA em setembro, embora ainda sob controle, acendeu alertas sobre a trajetória da Selic em 2026.

Nos Estados Unidos, o prolongamento do shutdown federal e a escalada nas tensões comerciais com a China adicionaram incertezas ao cenário global, intensificando a aversão ao risco. A ausência de dados econômicos atualizados, especialmente sobre o mercado de trabalho, dificulta a leitura dos próximos passos do Fed, enquanto o impasse político compromete a confiança na recuperação econômica.

No panorama internacional, o cessar-fogo entre Israel e Hamas trouxe alívio momentâneo aos mercados, enquanto a renúncia do primeiro-ministro francês gerou instabilidade política na Europa. Em conjunto, esses eventos reforçam um ambiente de cautela, com impactos diretos sobre ativos emergentes e o comportamento do dólar frente ao real.

Diante desse cenário de elevada incerteza e sensibilidade aos eventos políticos e econômicos, o acompanhamento contínuo do mercado torna-se essencial. Mais do que nunca, a adoção de soluções de proteção cambial e de risco é indispensável para mitigar impactos adversos e preservar a competitividade e a previsibilidade das operações financeiras.

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